Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro quer vender quadro de Pollock

MAM-Rio espera conseguir 20 milhões de euros para resolver os problemas financeiros da instituição.

Foto
A pintura Nº 16, de Jackson Pollock, é uma obra de 1950 DR

Foi doado por Nelson Rockefeller em 1954 ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), o magnata que também foi vice-presidente dos EUA. É um quadrado com cerca de meio metro pintado sobre aglomerado e é assinado por um dos artistas mais importantes do século XX norte-americano – Jackson Pollock fê-lo em 1950 na sua inconfundível forma de pintar, que ficou conhecida como "action painting" ou gestualismo. Agora, vai ser posto à venda pelo MAM, lê-se no site de uma das mais conhecidas instituições culturais brasileiras, de forma ao museu se tornar “auto-sustentável” nos próximos 30 anos. 

Segundo o jornal O Globo, os responsáveis do MAM, que não recebe nenhuma verba federal ou estadual, esperam que o quadro possa ser arrematado por 25 milhões de dólares num leilão internacional e resolva a crise financeira que o museu atravessa.

“De seu acervo de 16 mil obras, o MAM Rio decidiu abrir mão da pintura Nº 16, de Jackson Pollock”, escreve o comunicado do MAM. E justifica por várias razões a venda, que diz ser comum entre os museus norte-americanos e europeus — embora a prática tenha sido registada sobretudo nos EUA, mesmo aí os tribunais têm tentado bloquear algumas destas iniciativas, sendo o caso mais recente o do Berkshire Museum, que depois de muita polémica conseguiu recentemente autorização para vender 40 obras.

Entre os motivos avançados pelo MAM-Rio, está a probabilidade de a venda da obra fazer dinheiro suficiente para criar um fundo que será gerido por um comité, a que o MAM chamou Património com Destinação Específica (PDE): “A pintura de Pollock, isoladamente, é capaz de se transformar nos recursos necessários para os objectivos do PDE – a de manutenção a longo prazo do museu.” O MAM sublinha também que não se trata de arte brasileira, sublinhando que essa é a sua vocação.

A curadora Marta Mestre, que trabalhou no MAM como curadora-assistente durante cinco anos, classificou a ideia como absurda num post no Facebook e espera que a venda não se concretize. Na sua opinião, trata-se apenas de "um grito de alerta estratégico": "Apenas relembrando que existem outras formas de driblar a actual crise do MAM-Rio, e que outras instituições do Brasil estão a consegui-lo. Uma decisão destas deve ser colocada ao escrutínio público, num fórum mais alargado, e não ser apresentada como consumada, vindo 'de cima'."

O museu, que defende que o Pollock não é um dos "carros-chefes" da colecção, acrescenta que já pediu ao Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional autorização para vender a pintura, que poderá ainda ser comprada por outros museus brasileiros, diz o próprio comunicado. 

Marta Mestre, neste momento no Brasil a montar uma exposição no Museu de Arte de São Paulo em redor da obra de Umberto Costa Barros, sublinha que este não é apenas um quadro de um grande artista norte-americano, mas "um documento-obra que conta uma história fundamental para a arte moderna e para o Brasil": "Foi uma doação, dentro de um lote, de Nelson Rockefeller ao recém-inaugurado MAM-Rio na década de 50, no quadro da política de boa vizinhança entre os EUA e o Brasil. É, também, uma das poucas obras de arte que sobreviveram ao incêndio histórico do MAM da madrugada do dia 8 de Julho de 1978 que destruiu 90% do acervo de quase mil obras." Por último, "é uma das principais obras da colecção do MAM".

Ao PÚBLICO, a curadora diz que a venda de obras de arte em leilão "não é necessariamente ruim": "A questão é o carácter emergencial destas decisões que a longo prazo acabam por não erradicar os problemas estruturais das instituições."

Sugerir correcção
Comentar