Há casos de ruptura no mercado nacional de pellets
Um Inverno mais frio e longo e a ausência de stocks na distribuição gera quebra no abastecimento. Pellets são cada vez mais procurados como fonte de aquecimento doméstico.
O mercado nacional de pellets chegou nas últimas semanas ao limiar da ruptura. Os consumidores deste combustível de biomassa têm sentido dificuldades em adquiri-lo. A maior parte dos distribuidores, principalmente armazéns ligados à construção como a Leroy Merlin ou a Brico Depot, está há vários dias sem um único saco de pellets para entregar. Na zona do grande Porto, o mesmo acontece nos hipermercados que, como o Continente, costumam ter à venda pellets em sacos de 15 quilos. Os dias frios das últimas semanas têm desencadeado autênticas corridas às lojas que, esporadicamente, conseguem receber encomendas feitas à indústria nacional.
O problema, dizem os industriais, está na indisponibilidade dos distribuidores em criarem stocks suficientes para acudir a picos de procura. “Em Portugal, e ao contrário do que acontece nos outros países europeus onde o mercado está mais maduro, os distribuidores limitam-se a fazer encomendas de acordo com as suas necessidades pontuais”, explica João Ferreira, da Associação Nacional de Pellets. Muitas vezes essas necessidades conflituam com os planos de produção previstos pela indústria, obrigada a atender os contratos de fornecimento aos clientes estrangeiros. Sem stocks e sem conseguirem obter respostas rápidas para as suas encomendas, as distribuidoras ficam sem produto para vender.
Para as distribuidoras, porém, as causas da ruptura são outras. De forma oficiosa, avisam que a ruptura no abastecimento se explica por duas razões: por um lado, a indústria privilegia o mercado externo, onde consegue preços mais elevados; por outro, alegam, o seu potencial de abastecimento ficou severamente afectado com os incêndios do último Verão. João Ferreira desmente essas duas situações. Por um lado, explica, não está a haver níveis anormais de procura no Norte da Europa capazes de fazer desviar a produção nacional para esses destinos. De resto, os custos de transporte e a concorrência europeia comprometem a competitividade dos pellets nacionais em muitos mercados da Europa do Norte.
Quanto à destruição dos incêndios, é verdade que duas grandes fábricas localizadas em Pedrógão e em Mortágua, com capacidade para produzirem 100 mil toneladas de pellets por ano, ficaram destruídas. “Mas foram entretanto criadas outras unidades mais pequenas cuja produção é exclusivamente dirigida para o mercado nacional”, diz João Ferreira.
Portugal oscila entre a quinta e a sexta posição no ranking dos maiores produtores de pellets da União Europeia. A capacidade instalada da indústria ronda os 1,3 milhões de toneladas, mas a produção efectiva fica abaixo deste potencial. As 21 empresas do sector destinam entre 80% a 85% da sua produção para os mercados externos – em Portugal, no ano de 2016, consumiram-se 250 mil toneladas, mas esta quantidade “está a aumentar”, diz João Ferreira. O volume de negócios do sector que usa madeira destinada à trituração (com diâmetros inferiores a 20 centímetros) tem variado entre os 110 e os 130 milhões de euros por ano.