Mesmo abaixo da média nacional, pegada ecológica requer mais de dois planetas
Cada cidadão de Guimarães precisou, em média, de 3,76 hectares globais de área bioprodutiva para sustentar a sua vida em 2013, valor inferior ao do país (3,87), mas superior à biocapacidade do planeta.
A pegada ecológica de cada pessoa residente em Guimarães, ao longo do ano de 2013, fixou-se nos 3,76 hectares globais, superando em mais do dobro a biocapacidade da Terra (1,7 hectares globais), e de Portugal (1,5). Esse valor foi superior em 5% à pegada média da região Norte (3,58), mas ficou 3% abaixo do consumo médio nacional, que se cifrou nos 3,87 hectares globais – medida que relaciona um hectare produtivo a nível biológico e a produtividade biológica média, a nível mundial, num dado ano.
Os dados, patentes num estudo elaborado pela Universidade de Aveiro (UA), na sequência de um protocolo celebrado entre a Câmara de Guimarães, a organização ambiental Zero e a Global Footprint Network, e apresentado nesta quinta-feira, no Laboratório da Paisagem, em Guimarães, revelam que mais de 50% da pegada vimaranense resulta do consumo nas áreas de sequestro de carbono – o tipo de área bioprodutiva que retem o dióxido de carbono, impedindo a sua libertação para a atmosfera.
Além das áreas relativas ao carbono, um cidadão vimaranense, em média, privilegiou a utilização das áreas aráveis, responsáveis pela produção de alimentos vegetais, às áreas de pastagem e às florestais, com Sara Moreno Pires, investigadora da unidade de Governança, Competitividade e Políticas Públicas da UA, a justificar esse perfil com os recursos gastos em produtos alimentares, superiores, inclusive, aos da mobilidade e aos da habitação – água, electricidade e gás.
A investigadora adiantou que o estudo, concluído em Setembro de 2017 para integrar a candidatura do concelho minhoto a Capital Verde Europeia, em 2020 – Lisboa é o outro município português candidato -, integra um projecto de três anos, que visa, por ora, calcular a pegada ecológica dos municípios aderentes – até Junho, vão ser também apresentados dados relativos a Almada, Bragança, Castelo Branco, Lagoa e Vila Nova de Gaia -, mas posteriormente actualizar os dados para períodos mais recentes, já com o comparativo entre a pegada ecológica local e a biocapacidade não só nacional, mas também local.
No segundo ano, explicou Sara Moreno Pires, o projecto contempla a instalação de calculadoras digitais nos websites de cada autarquia, para cada cidadão poder fazer o cálculo da sua pegada ecológica e, no terceiro, a aplicação de políticas públicas que garantam uma maior coesão entre os municípios que consomem menos recursos ecológicos do que os que dispõem e os que ultrapassam esse limite.
O representante da Zero na apresentação, Paulo Magalhães, sublinhou que as comparações entre a pegada ecológica e a biocapacidade a nível local podem ser um “instrumento fundamental” tanto para a coesão territorial no país, como para se perceber como melhorar a pegada de cada cidade. “Vamos poder saber se um concelho contribui 10% para a biocapacidade nacional e tem apenas 2% da pegada de consumo”, exemplificou. O responsável criticou ainda que a divisão geralmente estabelecida entre litoral e interior, em Portugal, dizendo não encontrar resposta para o facto de um país com 200 quilómetros de largura falar em interior.
A coordenadora da candidatura de Guimarães a Capital Verde Europeia, Isabel Loureiro, frisou que, desde 2013, quando assumiu esse desígnio, o concelho tem vindo a resolver os problemas visíveis a nível da mobilidade e a nível da água, quer a que se destina ao consumo, quer a que corre nos rios.
Pegada ecológica tem crescido no país e no mundo
A investigadora sublinhou, durante a apresentação, que, a nível nacional, a tendência para os cidadãos consumirem mais área biologicamente produtiva do que a que dispõem se verifica desde a década de 60, tendo-se acentuado desde que o país aderiu à União Europeia (então Comunidade Económica Europeia), em 1986.
Já Laetitia Mailhes, da Global Footprint Network, também presente na apresentação, mostrou que, há pouco mais de 50 anos, o consumo para além do limite sustentável pela Terra se cingia aos Estados Unidos, à Europa Ocidental, ao Egipto, à Índia e ao Japão, mas hoje é generalizado nos ditos países desenvolvidos, tendo realçado a necessidade não de se “viver pior, mas de se viver de forma diferente”.