O leitor radiante

Deveríamos guardar a palavra paixão - com todos os ecos sublimes que tem - para falar de leitores como Manguel.

É um prazer ler Embalando A Minha Biblioteca, o novo livro de Alberto Manguel, bem traduzido por Rita Almeida Simões. É uma pena que tantos capítulos estejam em irritante itálico porque se não fosse isso seria perfeito este livro da Tinta-da-China.

Alberto Manguel escreve book porn e não library porn. Há uma diferença. Manguel não é um bibliófilo nem um bibliómano. Tem a vocação mais alta de todas: é um leitor. Gosta muito de ler livros.

Não sei se gosta de escrever sobre livros. Os livros são todos deliciosos mas são parecidos. Fica-se com a ideia que ele preferia estar a ler. Tanto mais que quando escreve, escreve sobre os livros que estava a ler quando se forçou a ir para a secretária bater nas teclas do computador.

Manguel escreve com desejo pelos livros. Escrever sobre livros é difícil. Escrever sobre a leitura é mais difícil ainda - mas é isso que Manguel faz melhor, com uma leveza e uma lonjura simultâneas que constituem o estilo singular dele.

Gosta de ter os livros à mão. Citando-os pode continuar a lê-los enquanto escreve. Os livros são a desculpa dele para nunca escrever completamente, nunca se separar deles o tempo suficiente para esquecê-los e falar doutra coisa. Afinal de contas que outra coisa há que não esteja nos livros?

Deveríamos guardar a palavra paixão - com todos os ecos sublimes que tem - para falar de leitores como Manguel. A biblioteca dele é sublime por ser uma simples colecção de livros que ele gosta de ler e de ter sempre ao pé dele - para ler.

 

 

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