JSD prepara um novo ciclo e olha para Rio como um aliado
Os dois candidatos à liderança da Jota apostam na valorização da estrutura e querem ter um discurso mais assertivo para os jovens.
Numa altura em que a Juventude Social-Democrata (JSD) se prepara para um novo ciclo político, os dois candidatos à liderança da Jota, Margarida Balseiro Lopes e André Neves, tentam relançar o debate na estrutura partidária, devolvendo-lhe o peso e a importância política que já teve na longínqua década de 80.
Se a candidatura que protagoniza for bem-sucedida e se o seu projecto político for abraçado pelos jovens sociais-democratas, Margarida Balseiro Lopes poderá ser a primeira mulher a presidir àquela estrutura partidária, a partir de Abril, altura em que a JSD realiza a sua reunião magna. Ao contrário do PSD, a Juventude Social-Democrata ainda não aderiu às directas, pelo que o sucessor de Simão Ribeiro será eleito em pleno congresso, marcado para os dias 13,14 e 15 de Abril, na Póvoa de Varzim.
A também deputada da Assembleia da República eleita pelo círculo de Leiria faz da Educação uma das bandeiras da sua candidatura e quer trazer para a agenda novas abordagens pedagógicas, bem como a robotização do mercado do trabalho, o rendimento básico universal, entre outros temas, que – na sua opinião – “vão marcar o futuro dos jovens daqui a 20/30 anos”.
Margarida Balseiro Lopes tem uma posição muito crítica em relação ao actual sistema educativo, pelo que defende “mudanças profundas” em matéria de Educação. Atenta ao que se passa noutros países em matéria de Educação, a deputada aponta caminhos: “Em alguns países já acabaram com as disciplinas”. O salto que o país tem de dar não será ainda nesse sentido, mas a deputada defende uma outra forma de olhar para o tema. “A Educação em Portugal está muito amarrada à ideia do professor que debita matéria, faz o exame ao aluno e dá a nota final”, conta, em declarações ao PÚBLICO.
Por outro lado, destaca a importância de reconciliar os jovens com a política e revela que uma das “prioridades de uma juventude partidária é falar, sobretudo, daqueles que são os problemas dos jovens, sejam de Bragança, do Corvo, de Leiria ou de Lisboa”. “A JSD não se pode limitar a falar da espuma dos dias, tem de ter a capacidade de trazer para a agenda temas que vão marcar o futuro dos jovens daqui a 20/30 anos”, sublinha.
Licenciada em Direito, Margarida, de 28 anos, não se mostra apenas preocupada com as questões estritamente ligadas aos jovens, declarando que quer ter “uma palavra a dizer sobre emprego, habitação, ensino superior”. A Segurança Social também faz parte da sua agenda política.
Contrariamente ao seu adversário, Margarida Balseiro Lopes, que anda há muito a correr o país real a passar a sua mensagem, não apoiou Rui Rio para a liderança do PSD, mas confia no seu projecto para o país. “Tenho a expectativa que vai trabalhar em colaboração com a Jota e se há pessoa que conhece o ADN da JSD é ele, porque também fez parte dela”, afirma a candidata, declarando que Rio “vai assumir a única alternativa à actual solução de Governo”.
Apoiante declarado de novo líder social-democrata, André Neves divide o tempo político entre a liderança da JSD de Aveiro e a vice-presidência nacional e, tal como a sua adversária, olha para o recém-presidente do PSD como “o líder certo para que Portugal tenha um Governo que, a médio prazo, consiga colocar mais dinheiro nas contas dos portugueses”. André Neves acredita que “é possível fazer diferente” consigo na liderança da JSD e pede um novo ciclo para a Jota, apontando caminhos: “A JSD precisa de conquistar os jovens e estes precisam de se reconciliar com a política”.
A Educação e o alojamento local constam da sua agenda política, onde cabem outros temas. “O alojamento local tem de ser regulado para que os jovens não sejam expulsos dos centros das cidades”, proclama o candidato. ”Todos nós percebemos que a especulação do mercado de arrendamento tem a ver com isso”, diz André Neves.
Advogado, de 29 anos, o candidato está particularmente empenhado em credibilizar a JSD e fazer política para os jovens, isto, é “defender as suas causas”. “Se os jovens perceberem que a JSD defende soluções para os problemas do seu dia-a-dia, eles vão rever-se na Jota”, afirma André, convencido de que a melhor forma de passar a mensagem é “trazer a política para a rua à procura dos jovens”. “A JSD tem de estar na rua, não se pode cingir apenas aos seus deputados e ao trabalho que fazem no Parlamento”, defende.
Ao PÚBLICO, André Neves reconhece que nem tudo tem corrido bem a nível da estrutura a que se candidata e assume que algumas das críticas que se vão ouvindo “fazem sentido”. “Os jobs for de boys descredibilizam a política”, afirma, numa alusão àqueles que conotam a JSD como um “viveiro de profissionais da política”. E deixa cair uma farpa: ”Quem nunca trabalhou fora da política não tem condições para ser representante político dos outros”.
André Neves e Margarida Balseiro Lopes fazem parte da actual equipa da JSD, liderada pelo deputado Simão Ribeiro, que está de saída. A um mês de deixar a presidência da Jota, Simão Ribeiro faz um balanço positivo dos seus mandatos, mas reconhece que hoje a JSD está longe dos tempos em que tinha 15 deputados na Assembleia da República. Foi nos anos do cavaquismo em que a Juventude Social-Democrata era liderada por Pedro Passos Coelho.