Do Angels Need Haircuts? vai mostrar-nos Lou Reed, o poeta
O livro a editar em Abril reúne poemas e contos escritos em 1970, no período em que, depois de abandonar os Velvet Undergroud, Lou Reed trabalhava como dactilógrafo.
No Verão de 1970 Lou Reed abandonou os Velvet Underground. Deixara gravada uma obra que o futuro consagraria como umas das amadas e influentes na história do rock, mas, naquele preciso momento, o futuro não parecia brilhante. A banda caminhava para a desintegração e o sonho do rock’n’roll parecia terminado. Lou Reed abandonou a música, voltou ao lar da família e empregou-se como dactilógrafo na empresa de contabilidade do pai. Algo fervilhava nele, porém. E é isso, a poesia que criou num período de seis meses, que será editado em Abril, pela Anthology Editions, sob o título Do Angels Need Haircuts?
É um Lou Reed, o músico que perdemos em 2013, que escreve amor e sexo e whisky, um Lou Reed que utiliza a verve dos beatnicks para fazer um retrato geracional pintado a negro, com se lê neste excerto de We the People: “We are the people without right. We are the people without a country, a voice or a mirror. We are the crystal gaze returned through the density and immensity of a berserk nation”.
A edição, com prefácio do próprio Reed e posfácio de Laurie Anderson, sua viúva, reúne 12 textos, entre poemas e contos, nove deles inéditos – dos já conhecidos, um deu origem a The murder mistery, gravado pelos Velvet Underground no seu terceiro álbum, e outros dois conheceram edição em pequenas revistas de poesia. O livro será acompanhado do áudio de Reed lendo os seus poemas na Igreja St. Mark, em Nova Iorque, em 1971 (Allen Ginsberg a ouvir atentamente entre o público).
O que aconteceu, sabemos muito bem. Nesse mesmo ano, o dactilógrafo poeta decidiu voltar à música e editou o homónimo álbum de estreia a solo. Pouco depois, David Bowie atravessava-se no seu caminho. O histórico Transformer, e com ele o renascimento de Lou Reed, estava a um passo de distância.