Facebook censura imagem de estatueta com mais de 25.000 anos

A estatueta em causa é a Vénus de Willendorf, que está exposta em Viena há mais de um século.

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A Vénus de Willendorf faz parte da colecção do Museu de História Natural de Viena Herwig Prammer/Reuters

A política do Facebook em relação à nudez continua a fazer tábua rasa do valor histórico ou artístico de algumas imagens que censura. Desta vez, e depois de ter feito com outras obras de arte, eliminou da rede social uma fotografia de uma escultura com mais de 25.000 anos, com a justificação de que se trata de uma representação de cariz pornográfico. Uma representação que, no caso, é de um corpo feminino.

A obra em questão é a estatueta Vénus de Willendorf. Descoberta em 1908 na Áustria — num local de escavações arqueológicas na pequena localidade que lhe dá o nome —, a obra de 11,1 centímetros de altura é esculpida em calcário oolítico e colorida com ocre vermelho. Representa a fertilidade. Um século depois de ter sido descoberta, faz parte da colecção do Museu de História Natural de Viena, onde está exposta. 

A eliminação da imagem do Facebook ocorreu depois de a italiana Laura Ghinda, que se intitula de “artevista” (uma fusão das palavras artista e activista), ter publicado uma fotografia da escultura naquela rede social. A publicação rapidamente foi apagada, alegadamente por apresentar “conteúdos impróprios”. Ghinda não baixou os braços e, iniciou uma campanha para tentar reverter a situação. As publicações onde denunciava este caso tiveram mais de 7000 partilhas no Facebook. Logo na primeira publicação, feita em inglês em Dezembro do ano passado, volta a publicar a imagem da Vénus de Willendorf.

O conhecimento deste caso chegou, segundo a publicação especializada The Art Newspaper, ao próprio museu onde a obra está exposta. O director do museu vienense pediu ao Facebook que permita que a obra seja partilhada tal como está em exposição há mais de um século. Em declarações à mesma publicação, Christian Koeberl assegura que “nunca houve queixas de nenhum visitante em relação à nudez da estatueta”. E sublinha que “não há nenhum motivo válido para ocultar ou cobrir a nudez da obra, nem no museu, nem nas redes sociais”.

Este caso não é inédito. Em 2011, a empresa liderada por Mark Zuckerberg apagou, sem pré-aviso, a conta de um utilizador francês por este ter partilhado a consagrada A Origem do Mundo, obra do pintor realista francês Gustave Courbet. O cibernauta levou o caso para os tribunais franceses. Apesar de reconhecer as regras de publicação do Facebook, que proíbe conteúdos que contenham nudez, considera que a obra de Courbet representa “parte do património cultural francês” e “uma representação sublimada e engrandecida pelo talento do artista”, cita o advogado do francês.

O Facebook não está sozinho no que toca a polémicas relacionadas com censura. Ainda em Novembro o Twitter se viu envolvido em controvérsia, quando vários utilizadores se aperceberam que aquela rede social não reconhecia a palavra bissexual na sua pesquisa, apesar de conter informação sobre outras palavras de cariz sexual. O Twitter, depois de ter recebido várias queixas de utilizadores, alegou que esta situação resultava de um problema técnico e prometeu resolver a situação num prazo de 24 horas.

Texto editado por Hugo Torres

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