Milão é a terceira cidade no calendário de um mês de apresentações de moda, que passa primeiro por Nova Iorque e depois por Londres. Aqui ficam alguns dos destaques.
Mãos na cabeça
Logo no primeiro dia de apresentações, o desfile da Gucci deixou os espectadores boquiabertos. Modelos que transportavam cabeças como se fossem malas, ou um dragão bebé ao colo, ou jovens com um terceiro olho na testa marcaram um desfile cujo cenário era um bloco operatório. Alessandro Michele, o director criativo da marca, imaginou peças muito funcionais e vendáveis – como as suéteres com símbolos do beisebol norte-americano –, mas criou um ambiente frio e um universo quase de terror.
O incontornável Giorgio Armani, que apresentou a nova colecção nesta semana, dirigiu uma crítica indirecta aos excessos do criador da Gucci. "A minha moda não é um teatro que dura tanto quanto um desfile", comentou no final da apresentação, citado pela i-D. "Não falarei sobre cabeças removidas, nunca joguei esse jogo."
Jackie Kennedy em versão Alien
A competir pela atenção, no primeiro dia de desfiles, estava a Moschino, com uma colecção que interpretava – de forma bastante literal – os casacos, saias e chapéus ao estilo de Jackie Kennedy. Algumas das modelos que desfilaram pela passerelle estavam pintadas de azul, verde e amarelo. Jeremy Scott, o imaginativo e irreverente director criativo da Moschino, criou uma colecção cujo ponto de partida "foram as teorias da conspiração e quão prevalentes são no mundo em que vivemos hoje".
Scott continua: "Há uma teoria que diz que [Marilyn] Monroe foi assassinada pelo Governo porque sabia que existiam extraterrestres e ameaçou tornar públicas as provas e, por sua a vez, JFK tinha de ser morto também porque a fuga de informação inicial tinha vindo dele." A partir desta ideia, o criador começou a imaginar se a própria mulher do Presidente não seria um extraterrestre. "Quer dizer, como é que ela poderia ter sido tão estóica e perfeita? Como é que poderia ter lidado com tamanha tragédia e aguentado tudo se fosse humana?", questiona.
Diversidade na Prada
Anok Yai foi a primeira modelo negra a abrir um desfile da Prada, desde que Naomi Campbell o fez, em 1997. A modelo sudanesa tornou-se um sucesso viral, no ano passado, quando o fotógrafo Steven Hall tirou uma fotografia sua, durante uma festa universitária, e partilhou na conta de Instagram – onde actualmente soma 29,4 mil seguidores. Pouco depois, chamou a atenção de uma das mais importantes agências de modelos e fez a sua primeira campanha com a Prada.
Em antecipação do desfile, a marca juntou-se a um dos nomes mais misteriosos da internet, a Miquela, ou @lilmiquela – uma personalidade do Instagram com um aspecto de avatar, cuja verdadeira identidade é desconhecida. No dia do desfile criaram uma série de vídeos e imagens para incentivar as pessoas a interagir com a marca através da plataforma.
Religião, tecnologia e moda
O desfile Dolce & Gabbana começou com uma procissão de oito drones que carregavam carteiras. A primeira modelo deixou logo claro qual o tema da nova colecção, com as palavras "fashion sinner" (pecadora de moda) no top e "santa moda", na bainha da saia.
A colecção de mais de 100 looks incluía uma panóplia de referências à Igreja Católica, desde brocados e veludos a cruzes e coroas, passando pelas peças com anjos e outras com slogans como "fashion devotion" (devoção à moda).
Antes que alguém pudesse gritar "sacrilégio", Stefano Gabbana surpreendeu a imprensa nos bastidores, revelando que vai todos os domingos à missa, na Piazza San Babila, em Milão.
Os portugueses Carlos Gil e Pedro Pedro
As décadas de 1970 e 1980 e o "conceito disco" foram as influências de Carlos Gil. Já Pedro Pedro inspirou-se no "escritório" com peças "mais formais". Foi ao final da manhã de quinta-feira que os portugueses marcaram presença na semana da moda em Milão, onde apresentaram as suas colecções para o Outono/Inverno, com o apoio do Portugal Fashion, que este ano mudou de estratégia.