Lewinsky elogia #MeToo e repensa a relação de poder que Clinton teve com ela
Num longo texto para a Vanity Fair a ex-estagiária da Casa Branca recorda todo o processo de 1998.
O movimento #MeToo obrigou Monica Lewinski, a ex-estagiária da Casa Branca, a repensar toda a relação com o então Presidente Bill Clinton, uma ligação em que ele era o homem mais poderoso do mundo, então com 50 anos, e Monica era uma jovem de 22 anos que terminara recentemente o seu curso universitário, recorda num texto longo, escrito na primeira pessoa, para a Vanity Fair, de domingo.
O caso de Lewinsky com Clinton foi tornado público há 20 anos, em 1998, durante a investigação do procurador Ken Starr. Então, o caso levou Clinton a mentir sob juramento sobre o relacionamento. No entanto, mais tarde, foi absolvido.
"Estou impressionada com a enorme coragem das mulheres que se levantaram e começaram a confrontar convicções e instituições enraizadas. Quanto a mim, à minha história e como me encaixo pessoalmente, lamento dizer que ainda não tenho uma resposta sobre o significado de todos os eventos que levaram à investigação de 1998. Ainda estou a processar o que aconteceu comigo", escreve Lewinsky, que sofreu de stress pós-traumático depois de o seu caso se ter tornado público.
A ex-estagiária, hoje com 44 anos, diz que o movimento contra o abuso e o assédio que começou depois de se tornar conhecido o escândalo do produtor Weinstein, em Outubro passado, fê-la reflectrir sobre o seu próprio caso que, então, disse ser consensual. Embora a sua relação não tenha sido de agressão sexual, houve abuso de poder, avalia agora. "Até recentemente (obrigado, Harvey Weinstein), os historiadores não tinham a perspectiva de interpretar completamente esse ano de vergonha e espectáculo", escreveu Lewinsky sobre 1998, acrescentando que, embora o que ocorreu entre ela e Clinton não fosse "agressão sexual", foi "um abuso de poder grosseiro".
Por causa do movimento #MeToo, Lewinsky reflecte que o que a levou a ter uma relação de cariz sexual com o Presidente foi uma "estrada que estava cheia de abusos de autoridade e de privilégio". Depois de duas décadas, a esperança da ex-estagiária é que se consiga "desvendar as complexidades e contexto (talvez mesmo com alguma compaixão)" do seu caso.
A solidão foi das coisas piores com que Lewinski se confrontou na altura, escreve, fazendo referência a uma das fundadoras do #MeToo que lhe disse, agora, que pedia desculpa por, então, a jovem ter passado por todo o escândalo sozinha. "De um modo geral, eu estive sozinha. Então, muito, sozinha. Publicamente sozinha, abandonada, sobretudo, porque era a figura-chave do escândalo. Todos concordamos que cometi um erro, mas navegar naquele mar de solidão foi aterrorizante", escreve.