Inspecção na central de Almaraz não detecta nada de grave, mas deixa recomendações
A central nuclear esteve no centro da polémica no ano passado quando foi anunciada a construção de um aterro para resíduos nucleares que, dizem os ambientalistas, pretendia prolongar a vida útil da central, já “obsoleta”.
Uma equipa da Agência Europeia de Energia Atómica esteve durante três semanas na central nuclear de Almaraz, em Espanha, para uma revisão dos procedimentos de segurança – trata-se de uma vistoria de rotina, segundo informou a agência nesta quinta-feira. A equipa, constituída por peritos de vários países, esteve em Almaraz entre 5 e 22 de Fevereiro.
Ainda que os resultados preliminares até agora divulgados no site da agência não refiram qualquer problema grave na central, foram feitas algumas recomendações quanto à segurança: uma delas sugere que seja aperfeiçoada “a performance das manipulações dos reactores nucleares” e outra sugere que a central melhore a formação dada aos trabalhadores da central e os procedimentos a seguir no caso de um acidente grave.
Segundo a agência europeia, a central irá seguir as recomendações da equipa e pediu que houvesse uma nova visita da equipa operacional de revisão de segurança (OSART, no acrónimo inglês) daqui a cerca de 18 meses.
Já as conclusões da visita serão divulgadas num relatório que será partilhado com o governo espanhol, a entidade reguladora competente e a central nuclear de Almaraz, num prazo máximo de três meses. Por norma, esclarece a agência europeia, estes relatórios são também tornados públicos. No site da organização, é ainda referido que a equipa OSART esteve no local a convite do governo espanhol.
Durante a vistoria, os investigadores certificam-se que os procedimentos de segurança estão a ser cumpridos e verificam todo o material: os geradores, as válvulas, os cabos, o sistema de bombagem. Vêem se tudo está armazenado devidamente e se poderá haver estragos no caso de um sismo, por exemplo. É também feita uma avaliação aos funcionários da instalação.
A central de Almaraz, que fica a pouco mais de cem quilómetros da fronteira portuguesa, esteve no centro de uma polémica no ano passado. Em causa estava a construção de um armazém de apoio à central, autorizada pelo Governo espanhol em 2016, que causou indignação entre ambientalistas e políticos portugueses (e também espanhóis), que diziam que a construção do tal aterro de resíduos nucleares servia para camuflar o prolongamento da vida útil da central nuclear, já “obsoleta”. No decurso desta visita, a central assumiu um “compromisso a longo prazo” no que toca à segurança da instalação.
Portugal chegou a apresentar uma queixa à Comissão Europeia, por não ter sido ouvido na decisão que poderia vir a afectar o país, mas acabou por retirá-la. No ano passado, a central pediu a renovação da licença de exploração da central, que termina em 2020. Nas conclusões apresentadas até agora, não é feita qualquer menção à construção do armazém de resíduos.
O programa das OSART responsável pela visita de inspecção funciona desde 1982 e, segundo o responsável do sector da segurança na agência europeia, Peter Tarren, tem tido um “papel importante na melhoria dos procedimentos de segurança em centrais nucleares por todo o mundo”.