No ano #MeToo houve menos actrizes protagonistas em Hollywood
Número de filmes protagonizados por mulheres caiu para os 24% em 2017. “Temos de separar a hipérbole da realidade”, diz autora do estudo sobre um ano de activismo que não foi uma maravilha no plateau.
Parece ter sido um ano de afirmação feminina em Hollywood, mas no cinema e na prática não foi. 2017, o ano de Mulher-Maravilha e da pujança #MeToo foi também o ano em que apenas 24% dos cem filmes mais rentáveis dos EUA foram protagonizados por actrizes. Foram menos 5% do que em 2016, uma quebra na representação no ano em que os três filmes mais rentáveis tiveram mulheres no papel principal.
Mas nem com a ajuda de Star Wars, A Bela e o Monstro ou uma super-heroína que pela primeira vez deu azo a um filme e se entregou a uma realizadora, Patty Jenkins, as estatísticas melhoraram para as actrizes na mais importante e mediática indústria cinematográfica do mundo. It’s a Man’s (Celluloid)World: Portrayals of Female Characters in the Top 100 Films of 2017 é o estudo anual do Center for the Study of Women in Television and Film da San Diego State University, que em 2016 tinha até celebrado a presença de mais mulheres no cinema americano.
Os números de um 2017 pleno de histórias sobre as mulheres em Hollywood - algumas triunfantes como foi o caso dos filmes mais rentáveis do ano, outras tristes e impulsionadoras de uma tentativa de mudança como foi o caso Weinstein e o decorrente momento #MeToo – são contrastantes. “Na temporada de prémios quando a conversa sobre mulheres e género tem estado bem presente, temos de separar a hipérbole da realidade”, diz Martha F. Lauzen, coordenadora do estudo. Citada pela imprensa norte-americana, lembra que “os números ainda não reflectem uma mudança sísmica ou maciça na indústria cinematográfica”.
Um resumo do estudo coordenado por Martha F. Lauzen: no ano passado, só 37% das personagens de maior relevo nos filmes americanos eram mulheres; dos papéis com falas, só 34% eram de mulheres; pela positiva: houve um aumento do número de papéis para actrizes negras, latinas e asiáticas, sendo as latinas as que evoluíram melhor (de 3% em 2016 para 7% em 2017). Quando o estudo concluiu que só 24% dos filmes mais vistos tinham mulheres a protagonizar, mostrou também que 58% dos filmes tinham homens como estrelas e 18% eram filmes de elenco.
É no cinema independente como o de Lady Bird, por exemplo, que as protagonistas tendem a ser mais frequentes (65%), embora tenham sido os blockbusters ou filmes dos grandes estúdios (35%) como Os Últimos Jedi, A Bela e o Monstro e Mulher-Maravilha que mais geraram discussão sobre um filme cuja história é contada pela perspectiva de uma mulher. O diferimento de idades entre estrelas masculinas e femininas continua também, com a maior parte das personagens femininas a ter entre 20 (32%) e 30 anos (25%). Os homens têm sobretudo entre 30 (31%) e 40 anos (27%); há muitas mais personagens masculinas com mais de 40 anos no cinema (46%) do que personagens de mulheres acima dos 40 (29%).
As mesmas proporções encontram-se quando se analisa que tipo de foco tem a personagem em questão: os homens são mais apresentados como focados no trabalho e as mulheres com mais foco nas suas vidas pessoais. E as mesmas conclusões repetem-se ano após ano: “Em filmes com pelo menos uma mulher realizadora e/ou argumentista, as mulheres constituíram 45% dos protagonistas. Em filmes exclusivamente com realizadores homens e/ou guionistas masculinos, as mulheres tinham 20% dos papéis de protagonista”.