Henry Bolton saiu da liderança do UKIP e a culpa é da namorada
O partido anti-Europa decidiu afastar o líder na sequência dos comentários racistas que Jo Marney fez a propósito da americana que se vai casar com o príncipe Harry.
Os membros do UKIP, partido britânico anti-União Europeia, ditaram o afastamento do líder, Henry Bolton, um ex-militar de 54 anos. Este sábado, numa assembleia geral extraordinária em Birmingham, 63% votaram a favor de uma moção de desconfiança que tinha sido apresentada em Janeiro pelo comité executivo do partido na sequência dos comentários racistas feitos pela então namorada de Bolton, a modelo e jornalista Jo Marney, em relação a Meghan Markle, a noiva do príncipe Harry.
Em mensagens enviadas a uma amiga e reveladas pelos tablóides ingleses, Jo Marney, de 25 anos, escreveu que a “semente” de Markle vai manchar a família real britânica, numa referência às suas origens. "Isto é a Grã-Bretanha. Não é África", continuou, parecendo querer dizer que a entrada de Markle na família real abre um precedente perigoso: "A seguir vamos ter um deputado muçulmano."
A actriz que se vai casar com um dos netos da rainha Isabel II, e que já está a cativar os britânicos, é filha de uma afro-americana e define-se “orgulhosamente” como uma “mulher forte, confiante e mestiça”.
Bolton, que foi o quarto líder do partido em 18 meses e esteve no poder menos de cinco, terminou a relação com Marney, entretanto suspensa do UKIP, na sequência destes comentários, mas isso não bastou para se manter à frente do partido. Gerard Batten actuará agora como líder interino até que, daqui a 90 dias, seja eleito um novo.
Depois da votação deste sábado – 867 votos a favor da moção de desconfiança, 500 contra – Bolton disse temer que o UKIP fosse “afastado do campo de batalha” da política britânica durante os próximos meses, escreve a BBC. “Penso que será difícil unir o partido”, acrescentou.
Quando foi eleito, depois de o anterior líder Paul Nuttal ter sofrido uma pesada derrota nas legislativas (1,8% contra os 12,6% de 2015), Bolton era visto como alguém capaz de conciliar o partido e de recentrar os seus objectivos no “Brexit”.
O ex-líder, que foi casado duas vezes e tem três filhos, reconheceu ainda que continua a ter um “grande carinho” pela antiga namorada. E questionado sobre se tencionava reatar a relação com Marney, afirmou apenas: “Eu sempre disse que, depois da assembleia geral extraordinária, passaria algum tempo a decidir o que fazer com a minha vida privada.”
Ainda que Bolton tenha reconhecido, logo a seguir à polémica ter rebentado, que os comentários por ela feitos eram racistas, terminando o relacionamento de ambos por considerar que era “deveras incompatível” com as suas funções partidárias, o agora ex-líder admitiu há dias ao jornal The Telegraph que continua apaixonado por Marney e que uma reconciliação não está posta de parte.
Jo Marney está habituada a cultivar polémicas na Internet. Em emails a amigos e nas redes sociais, esta modelo que tem um bacharelato em jornalismo e que costuma escrever sobre música, disse, entre outras coisas, que jamais faria sexo com um negro porque eles são “feios” e que a Torre Grenfell, destruída num incêndio em que morreram 79 pessoas, era um “ninho de imigrantes ilegais”. Também criticou as actrizes que denunciaram o produtor Harvey Weinstein como predador sexual, chamando-lhes “divazinhas lamurientas”.
Na tarde de sábado, em resposta a comentários na sua conta do Twitter, a actriz reafirmou o seu amor por Henry Bolton: “Eu amo o gajo e pronto. [Seja] líder do UKIP ou homem do lixo.”