A educação académica parece ser um alvo a atingir na nossa sociedade. Por um lado há o preço do conhecimento, pois conhecimento é poder (no sentido lato da palavra). Com este sempre se pode arranjar uma maneira de resolver problemas e alcançar metas, nomeadamente perseguir uma carreira, ou até mesmo perceber melhor as relações humanas. Por outro lado, a educação reforça uma dose de "moralidade" nos estudantes. Quer estes sigam a ruína ou atinjam todo (ou quase todo) o seu potencial, é a educação que molda os adolescentes e os jovens adultos para que sejam o que decidirem na vida. Isto levanta pontos favoráveis na educação e falhas.
A meu ver, a vantagem mais importante da educação não é o facto de se orientar o estudante para uma carreira, mas antes dar-lhe uma finalidade de vida. Quero com isto afirmar que a educação, mesmo em crianças pequenas, remete os estudantes para uma finalidade, uma ocupação mental. O desenvolvimento intelectual pela via da educação fortalece a massa cinzenta, dando à criança a noção de que a vida não é só lazer, mas também responsabilidades. Isto gera conhecimento, força mental e é bom para a auto-estima do estudante. Quer a criança se revolte contra isso ou aceite semelhantes valores, esta vai acabar por crescer até chegar à adolescência.
A adolescência é um período conturbado; um período em que o jovem não sabe se deve manter os valores de criança ou aceitar o seu novo "eu", enquanto adulto. Preso nessa ambiguidade surgem as dificuldades emocionais e a necessidade de uma fuga, uma escapatória. Se não fosse a educação, estes jovens ter-se-iam perdido na vida, e com isso ficariam limitados. A limitação é algo que, infelizmente, a sociedade não aceita ou percebe completamente, ignorando todas as falhas das pessoas e tornando-as quase mecânicas, com o objectivo de atingir a perfeição. A educação académica providencia o reforço das nossas qualidades, e permite ao jovem adulto conseguir alcançar um objectivo na vida, quer seja a perseguição de uma carreira ou até mesmo o seu desenvolvimento pessoal, espiritual e emocional.
A educação acaba por ser o alvo e o estudante é a flecha. Quer acerte no alvo ou não, a flecha foi lançada. Todo este processo é semelhante ao das tartarugas bebés que acabam de eclodir na praia e caminham em direcção ao mar, estando sujeitas a atrasos e dificuldades; alguns avançam mais depressa e podem mesmo surgir predadores que terminam o percurso abruptamente. A educação, no fundo, acaba por ser quase darwinista nesse aspecto; selecciona-se os melhores, ao passo que os que "se perdem pelo caminho" são destinados a um sucesso académico mais limitado (isto supondo que a educação é, de facto, o caminho da vida "quase-perfeita"). Os que se perdem pelo caminho também podem, porém, ter uma vida boa, pois a escola cria trabalhadores, enquanto estes exemplos podem vir a ser empreendedores (um caminho que está a ser muito seguido ultimamente) ou a ter sucesso noutros ramos. Mas tudo isso depende dos valores morais que a educação académica incube neles; caso rejeitem os valores morais, aí sim, estarão condenados.
A educação providencia todas estas vantagens: a vantagem de se seguir uma carreira, de se ter sucesso, de estimular as actividades em grupo, de criar trabalhadores, de pôr a roda da sociedade a girar. Mas eis que aqui surgem os problemas.
A educação no ensino secundário acaba por ser limitada, pois dadas as inúmeras disciplinas que são oferecidas ao estudante, nem todas despertam atenção ou estimulação neuronal. O que acontece é que isso promove o próprio abandono escolar. Tomando por exemplo uma criança que no quinto ano não consegue perceber ou aprender bem o inglês: essa criança tornar-se-á adolescente e continuará a ser uma "perna torta" nessa disciplina, o que acaba por desmotivá-la para as outras. Tenho visto que esta é uma regra geral, sendo que a desmotivação pode não ser levada ao extremo. Mas também pode, por outro lado, levar ao abandono escolar.
A enormíssima sobrecarga escolar pode bloquear a transmissão dos valores correctos, levando as crianças ao aborrecimento pelas disciplinas, ao nojo de estudar e, por fim, ao abandono e aos maus resultados escolares. A educação acaba por ser uma limitação quando o professor fraqueja ao estimular os alunos. Por outro lado, o ambiente onde se encontra a escola reflecte bastante sobre a probabilidade de sucesso escolar. Sempre foi assim, e esta é uma falha da sociedade que não me cansarei de referir. O ambiente familiar, quer haja harmonia, quer haja violência doméstica (digo isto mais no sentido psicológico), influenciará o sucesso escolar. Pode haver excepções às regras gerais tão bem conhecidas (por exemplo, um estudante proveniente de famílias ricas acabar no fracasso ou um jovem oriundo de família com dificuldades económicas acabar por "vencer" esta etapa da vida).
Uma proposta que apresento para combater estes problemas da educação é simplesmente fazer com que uma pessoa descubra desde muito cedo o que gosta e o que não gosta e focar toda a sua atenção nas suas qualidades. Às vezes o que o ser humano não gosta pode ser essencial (e com isto vem-me à cabeça a matemática), mas não é necessário sobrecarregar as crianças e adolescentes com estes "fardos". No final, isso até pode contribuir para a escolha de uma carreira errada, tendo em conta a natureza pragmática da sociedade. A questão é: o que é pode resultar para o estudante?