As doenças mentais

A doença mental é um assunto muito complicado. De forma geral, ser-se humano é uma tarefa difícil, dolorosa até. Todos nós carregamos dores e frustrações, ambições e desejos, mas a química do cérebro pode ditar como tudo acontece

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mahdis mousavi/Unsplash

Mais cedo ou mais tarde, toda a gente neste planeta irá ter a manifestação de uma doença mental. Desde um mero ataque de pânico (em regra, uma pessoa normal tem dois ataques desse género por ano) até à depressão. E se formos mais longe, um surto psicótico; isso é real e pode acontecer a cada um de nós. Os próprios médicos não sabem explicar a origem da doença mental, mas é sabido que o cérebro por vezes se reorganiza, tem as suas falhas; falhas que são essenciais para o próprio bom funcionamento do cérebro. O que proponho é contar como estas doenças mentais afectam a vida de milhares de pessoas e como a "epidemia de Prozac" tem influenciado este século, do ponto de vista humanitário e como biólogo molecular, a minha formação académica.

Um ataque de pânico não passa de uma ruptura num momento de alto stress. Como Gandhi afirmou, na sua sabedoria: "As pessoas não se vão abaixo por terem sido fracas; as pessoas vão-se abaixo por terem sido fortes durante muito tempo". Sobre isto não há muito a dizer. O ataque de pânico é uma consequência que acontece a todos nós devido às dificuldades da vida. As dificuldades da vida acontecem devido à economia actual, à pressão dos estudos, às expectativas de que somos alvo, tanto da família como das relações amorosas, ambiente de trabalho, etc. Porém, este não é um assunto ao qual se dê muita importância: "Tal como o mau tempo passa, também assim são as crises". O problema acontece quando as crises são levadas ao extremo.

A depressão aflige muitas pessoas e estas podem não saber lidar com isso. Há a perda de interesse pelas actividades que antigamente davam prazer à pessoa, há pensamentos sobre morte e o suicídio, há o grave risco de se irritáveis e, para além disso, a possibilidade de que se possam auto-agredir, com ciclos de sono dispersos ou aumento ou falta de apetite. Em suma, a depressão é uma antecipação da morte, pois perde-se o interesse pela vida. A questão é que existem mil pontos de vista sobre as causas da depressão. Pode ter origem em acontecimentos traumáticos da vida ou, então, numa pré-disposição genética. O que se deve fazer é procurar de imediato auxílio médico. Existem inúmeras drogas que corrigem essa falta de balanço neurológico no cérebro. Estes distúrbios, nomeadamente as depressões, incluem uma deficiência na actividade da serotonina (também conhecida como o neurotransmissor da felicidade, algo que existe no cérebro), bem como outros neurotransmissores (como, por exemplo a dopamina, "o químico do prazer"). Existem várias classes de antidepressivos, mas iremos focar-nos nos inibidores selectivos da recaptação da serotonina. O que estas drogas fazem é bloquear enzimas que levam a serotonina para o neurónio pré-sináptico. Ao ligarem-se a essas enzimas, bloqueiam o seu efeito, e já não é feito em maior escala a recaptação da serotonina. Assim a serotonina tem uma maior actividade, levando a um estado de prazer e euforia.

Daí ter surgido a "crise de Prozac", que se enquadra no tipo de antidepressivos que acabei de referir. O que acontece é que os antidepressivos podem ser prejudiciais a longo prazo. Por exemplo, desistir de um deles pode levar a grandes crises. Para além disso, receitar estes antidepressivos, considerados fortes, a "torto e a direito", leva a maioria das pessoas a contribuir para a "epidemia de Prozac". A questão é: como corrigir a falta de balanço no cérebro sem auxílio químico?

Está comprovado que uma boa terapia com a procura de psicólogos, bem como bons hábitos diários e a tentativa de levar uma vida mais saudável, pode, eventualmente, eliminar a depressão, corrigindo os erros e falhas que se passam no cérebro. É como ir ao ginásio e ganhar músculo — quanto mais pesos forem "levantados", mais forte ficam os músculos e mais brilhante fica a pessoa. É tudo uma questão de treino, de se acreditar que se é capaz e que se pode alcançar a felicidade e o bem-estar. Mas agora falando de algo ainda mais complicado.

O surto psicótico e a psicose são doenças mentais graves, que têm que ser auxiliadas pela medicação. Os médicos ainda não percebem muito bem as causas da esquizofrenia (pode ser oriunda de pré-disposição genética, uso de drogas pesadas ou leves, stress, etc.). O que se sabe é que a dopamina (o tal "químico do prazer" que se encontra no cérebro) tem uma actividade descontrolada sobre os neurónios aquando essas doenças. Para isso, receitam-se anti-psicóticos, tais como a Olanzepina, Invega, Quetiapina, etc. Estes químicos bloqueiam os receptores de dopamina no cérebro, permitindo um maior controlo sobre a actividade deste neurotransmissor.

A doença mental é um assunto muito complicado. De forma geral, ser-se humano é uma tarefa difícil, dolorosa até. Todos nós carregamos dores e frustrações, ambições e desejos, mas a química do cérebro pode ditar como tudo acontece, bem como os nossos objectivos e aspirações se irão desenrolar no futuro. A meu ver, as doenças mentais ocorrem essencialmente devido ao stress e disposições genéticas. Já para não falar no facto de o cérebro não ser algo controlável; mesmo com medicação, é necessário fazer-se um estudo, uma reflexão, uma higiene mental diária para que no fundo a situação melhore. Uma boa terapia, um bom enquadramento social (e com isto a falta de isolamento), uma boa dose de gratidão para com o trabalho e o que se obteve na vida já é mais do que "meio-caminho" andado para uma boa saúde mental.

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