Tarantino sobre acidente de Uma Thurman, em Kill Bill: "É o maior arrependimento da minha vida"

O realizador pronunciou-se sobre as revelações de Uma Thurman ao New York Times.

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REUTERS/Regis Duvignau

Depois de guardar durante alguns meses aquilo que queria dizer sobre Harvey Weinstein, Uma Thurman partilhou recentemente a história de como foi vítima de assédio sexual, em entrevista ao New York Times. Ao mesmo tempo, a actriz contou como foi violada aos 16 anos e como sofreu um acidente de condução durante as gravações de Kill Bill, depois de ter insistido que não queria ser a própria a guiar o carro em questão.

O vídeo perturbante do acidente, que ocorreu no set do filme produzido por Harvey Weinstein e realizado por Quentin Tarantino, foi publicado pelo jornal norte-americano e mais tarde partilhado pela própria actriz, de 47 anos. Esta acusa os produtores Lawrence Bender, E. Bennett Walsh e Harvey Weinstein de serem responsáveis por encobrir o acidente: "eles mentiram, destruíram provas e continuam a mentir sobre os danos permanentes que causaram e que escolheram suprimir", escreve no Instagram.

Aproveita ainda para agradecer ao realizador – com quem trabalhou em Pulp Fiction, também produzido por Weinstein –, por ter cedido as gravações anos depois, "com o conhecimento de que lhe poderia causar danos pessoais".

O realizador já veio a público comentar toda esta situação, referindo que ter feito com que Uma Thurman entrasse no carro, em vez de passar a tarefa a um duplo, "é o maior arrependimento" da sua vida, em entrevista à publicação do meio Deadline. "Sou culpado por tê-la posto naquele carro, mas não da forma como as pessoas estão a dizer que sou culpado."

Há uma questão em que a sua versão dos eventos que levaram ao acidente diverge da de Thurman, que lembra que o realizador ficou "furioso". "Acredito que quando me foi comunicado [que Thurman não queria guiar o carro] eu revirei os olhos e fiquei irritado. Mas tenho a certeza que não fiquei com raiva", defende. Mais ainda, acrescenta, "nenhum de nós olhava para isto como uma stunt (manobra com duplo). Talvez devêssemos tê-lo feito, mas não fizemos".

No artigo do New York Times, Uma Thurman detalha os dois momentos em que Harvey Weinstein ultrapassou a linha: primeiro num hotel em Paris, onde despiu o roupão à sua frente, mas recuando; e depois num outro hotel em Londres, onde foi mais longe. "Ele prendeu-me. Tentou deitar-se sobre mim. Tentou mostrar-se nu. Fez todo o tipo de coisas desagradáveis”, conta, ressalvando que o produtor não chegou a forçar o acto sexual. Em Novembro do ano passado, a actriz tinha já dirigido algumas palavras ao produtor, escrevendo no Instagram, "não mereces uma bala".

Tal como relatado no artigo do New York Times, Tarantino conta agora como na altura confrontou Weinstein, quando a actriz lhe contou sobre o que se tinha passado. "Bem, confrontei-o dizendo 'tens de ir ter com a Uma. Isto aconteceu. Tens de pedir-lhe pedir desculpa e ela tem de aceitar o pedido de desculpa, se queremos continuar a fazer o Kill Bill juntos'", conta à Deadline. Acrescenta ainda que Weinstein tentou esquivar-se da situação, insinuando que as coisas não tinham acontecido como a actriz descrevia, mas que nunca acreditou no produtor.

Mira Sorvino – namorada de Tarantino, na altura – já tinha feito antes acusações semelhantes em relação a Weinstein. "Mal conseguia acreditar. Éramos namorados e ele [Harvey] estava a manter-se afastado. E eu assumi que Harvey tinha um grande fraco por ela", recorda o realizador. 

Relativamente a Tarantino, Thurman toma uma atitude absolvente. Escreve, no Instagram, que Tarantino se mostrou "profundamente arrependido" e que "continua com remorsos acerca deste triste incidente". Refere ainda sentir-se orgulhosa do amigo, "por fazer a coisa certa [ao entregar o clip] e pela sua coragem".

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