Berlim: o corpo de quem entrega a alma ao techno

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Estes são os corpos de quem entrega a alma à música techno na cidade de Berlim. Guido Castagnoli, italiano de Turim residente em Berlim, rendeu-se à "originalidade, estranheza e liberdade" expressada por este grupo, motivo pelo qual desenvolveu a série de retratos que intitulou Technobodies.

 

"É importante lembrar que as imagens são representações da forma como eles se vestem quando vão para os clubes ou para as raves", explica Guido ao P3, em entrevista. Alguns vestem-se de forma parecida no dia-a-dia, esclarece, outros vestem-se assim apenas em dias de festa ou durante os fins-de-semana. "O techno acontece na 'escuridão' de lugares que lhes são familiares ou privados e esta é a forma como eles querem que outros ravers os vejam; é assim que se sentem confiantes e confortáveis, é assim que experimentam e exprimem a sua criatividade e singularidade." Fá-lo-ão para chocar? "Existe também um traço de desobediência à norma [nesta forma de expressão], mas não acho que esse seja o objectivo principal. (...) Acho que se trata, sim, do exercício de uma performance artística que tem os seus próprios códigos e ferramentas."

 

Castagnoli constatou que existem denominadores comuns entre os membros desta comunidade: "uma visão não conservadora do mundo, uma espécie de esoterismo negro, o amor pela moda e pelas artes visuais" são alguns exemplos. Gostam de tatuagens, são pessoas abertas a novas experiências sensoriais e à utilização de substâncias recreativas, acrescenta. "Não têm identidade de género, não têm medo do que não encaixa dentro das normas sociais, testam limites e fronteiras; adoram sexo, excesso, tudo o que esteja relacionado com experimentação corporal e sensorial." A música é um dos pilares da comunidade, naturalmente, e funciona como um filtro. "A maioria é fanática por techno, conhece bem os DJ e mantém-se a par de lançamentos de novos álbuns."

 

O projecto Technobodies surgiu a partir de um anterior desenvolvido pelo fotógrafo, Bodies That Matter, com enfoque na comunidade LGBTI de Berlim. "A cena techno em Berlim é tudo menos straight e é muito orientada para o sexo. Algumas pessoas que retratei neste projecto pertencem a ambas as comunidades." O Facebook e o Instagram foram as ferramentas que utilizou para chegar aos retratados. "São plataformas poderosas no que toca a expressão da individualidade e da identidade." Os protagonistas da cena techno em Berlim são especialmente activos nas redes sociais. "As selfies servem para provar que estamos vivos e de uma forma única. Servem para afirmar que eu sou eu. São catedrais digitais do ego. Aparência, figurino, tatuagens, piercings, peles e látex. Foi através delas que seleccionei as pessoas que me pareciam mais interessantes, visual e emocionalmente."

 

Guido Castagnoli já expôs em galerias dos Estados Unidos, Itália, Alemanha, Inglaterra e Japão. O seu trabalho pode ser visto integralmente na sua conta de Instagram.