A felicidade do ornitólogo observando o Atlântico

Deve ter sido um atento passarinho que prontamente, ou até com antecedência, deu a notícia à comunicação social de que isto ia acontecer ou estava a acontecer.

O dia noticioso começou ontem com mais uma estrepitosa operação (não sei se já tem nome apelativo ou se conserva o nome marítimo da operação de origem).

Bem cedo um órgão de comunicação social avançou com as novidades. Bem cedo também muitos outros noticiaram. Se não erro, câmaras até filmaram magistrados e policias a chegar a locais de diligências de busca. Fantástico. Não é novidade, nada mesmo, aliás é quase tão habitual que a indignação (verdadeira ou falsa) vai caindo em desuso. E, depois, logo começou a engrossar o mar de notícias, imagens, fotos, opiniões, diz-que-disse, diz-que-sabe, diz-que-vai-acontecer. E vai continuar nos próximos dias, certamente, como é hábito, até porque o caso parece ter pontos de muito relevo para os holofotes e os microfones, e estas coisas são muito gostosas.

Aliás, e certamente por coincidência (seja dos diabos ou do arco-da-velha), este caso, neste momento, pode dar um jeitão para temas, atenções, cuidados e mensagens relativos a outros casos. Mas por ora não é isso que me interessa, apenas assinalar que neste caso, como noutros, deve ter sido um atento passarinho que prontamente, ou até com antecedência (no âmbito daquelas premonições de que as aves têm a arte), deu a notícia à comunicação social de que isto ia acontecer ou estava a acontecer.

Não foi ninguém ligado de alguma forma ao processo, obviamente que não. Esteja ou não o processo sob segredo de justiça (e é natural que esteja), a verdade é que pessoas ligadas ao processo não fazem isso. Os pássaros sim. Os pássaros sabem sempre tudo e, comunicantes que são, dizem sempre tudo (embora o tudo que lhes interessa e quando lhes convém). Astutos e atentos pássaros - que orgulho, que felicidade para o ornitólogo, sobretudo quando os observa a planar sobre o grande oceano. E mais ainda quando pensa que a estes pássaros não acontece nunca nada, até porque pertencem a uma espécie muito protegida.

 

 

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