Desporto
Futebol: nestes campos pelados, joga-se a tostões
Em dias de folga, Marta Lima pega no carro, sai do Porto e faz-se às estradas nacionais. No caminho, procura por placas toscas que apontem a direcção de “campos de jogos” e segue-as, até pisar a relva — dos poucos que a têm — dos estádios. A socióloga de 32 anos já está habituada a estas visitas desde criança, quando ia de mão dada ver, com o pai (na altura dirigente desportivo do Sport Clube Castêlo da Maia) os jogos de campeonatos das associações distritais do Porto e, às vezes, de Braga.
Diz que o "mundo da bola" é uma das suas “grandes paixões”, gosta de ver o jogo, os adeptos a sofrerem e a festejarem nas bancadas, mas ficou sempre do lado de fora das quatro linhas, a observar. Na conta de Instagram que criou, também em homenagem ao pai, @futeboldetostoes, destaca um clube dos campeonatos distritais portugueses por semana e, desde que começou o projecto, em Abril de 2017, já fotografou 175 dos campos onde jogam ao fim-de-semana. O objectivo é dar mais visibilidade às equipas pequenas (até agora já publicou 40) e Marta anda a pensar criar um site onde, “além do registo fotográfico, se pudesse consultar o calendário de jogos e resultados de cada equipa, bem como entrevistas em vídeo aos adeptos e dirigentes", conta ao P3. Uma “espécie de Liga dos Últimos”, ri-se. Marta não se espanta que os adeptos vibrem tanto nas bancadas, às vezes mais do que se estivessem rodeados de milhares de pessoas. “A essência base do futebol”, acredita, joga-se ali. Tudo por poucos tostões. E é isto que se perdeu na disputa do futebol de milhões.