Roma viu as colecções de três novos designers portugueses

Inês Torcato, David Catalán e Nycole estiveram no Altaroma, numa parceria entre o Bloom Portugal Fashion e o projecto italiano.

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Peças de Nycole/ Inês Torcato/ David Catalán DR

Inês Torcato, David Catalán e Nycole apresentaram no domingo as colecções de Outono/Inverno 2018/19 na Semana da Moda Altaroma, em Itália. As apresentações realizaram-se no âmbito da parceria entre o Bloom Portugal Fashion, projecto dedicado à divulgação de “jovens designers” portugueses, e a plataforma italiana Fashion Hub, que apoia e divulga o trabalho de novos talentos italianos no mundo da moda. “Isto é a primeira abordagem, uma espécie de teste para ver como tudo corre, só no final é que vamos avaliar a repercussão do evento e desta colaboração com a Altaroma Fashion Hub”, resume Paulo Cravo, coordenador dos designers do Bloom Portugal Fashion, ao PÚBLICO.

Apesar de Paulo Cravo só ter entrado no projecto há cerca de um ano, o Bloom Portugal Fashion existe há seis. Sem precisar dados, o coordenador conta que "já passaram mais de 40 designers por esta iniciativa, dos quais são exemplo, Hugo Costa, Carla Pontes, Estelita Mendonça e Susana Bettencourt". "O Bloom surgiu graças à necessidade de o Portugal Fashion criar infra-estruturas que oferecessem a novas marcas a possibilidade de emersão no mundo da moda", justifica.

Paulo Cravo lembra que "não é fácil, os designers lançarem uma marca sozinhos". e que "quase nenhum designer faz desfiles fora do país sem a ajuda de organizações como o Portugal Fashion”.

A escolha dos designers que participaram no Altaroma baseou-se no facto desta última estar associada a programas de apoio internacionais. "Como tal, existem pré-requisitos como a altura em que o Altaroma acontece, muito mais cedo do que o Portugal Fashion, que se concretiza em Março. Desta forma, os designers tinham de se comprometer a apresentar as colecções mais cedo", explica Paulo Cravo, acrescentando que este é o primeiro desfile dos três designers através do Bloom.

Nycole, entre o clássico e o desportivo

A marca Nycole, criada por Tânia Nicole de 26 anos, levou à Altaroma a colecção Unknown, inspirada no músico inglês King Krule. "Gosto da atitude e da forma como o artista se veste. Como as influências dele provêm do hip hop dos anos 1990, tentei fazer um cruzamento entre o street wear dessa época e um look mais vintage", explica, acrescentando que o músico mistura, por exemplo, blazers com peças mais desportivas.

A criadora, conta que o universo do hip hop "trouxe silhuetas largas e algumas peças icónicas, como camisas de beisebol, sweatshirts, casacos acolchoados, bem como atacadores largos". O lado gráfico da colecção também é influenciado pelas letras das músicas de King Krule.

Para Nycole, trata-se de uma colecção jovem, urbana e casual, com peças mais formais que podem ser desconstruídas, "como um blazers que podem ser usados com uma t-shirt ou com umas calças de fato-de-treino". "Há um corte do clássico através de algo mais desportivo".

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Nycole FW18/19

Em relação ao seu processo de criação, Nycole explica que normalmente é baseado na escolha e mistura de dois universos "completamente diferentes". "A peça que mais gostei de desenhar foi um casaco que espelha toda a colecção. Tem atacadores, tem as bombazinas dos anos 1990, é acolchoado e tem umas cores mais retro que me fazem lembrar o King Krule”.

Nycole foi convidada a entrar na plataforma Bloom Portugal Fashion no início de 2017. A marca de menswear baseada no Porto, que esteve na Semana da Moda de Paris para promover a colecção Primavera/Verão 2018, recebeu neste primeiro showroom internacional uma encomenda de uma loja no Japão.

Inês Torcato desconstrói peças clássicas

Para Inês Torcato, de 27 anos, a inspiração "vem quase sempre da confeitaria, da camisaria, dos blazers e dos sobretudos", ou seja, parte sempre da desconstrução de peças clássicas, tanto na criação de vestuário masculino como de feminino, tendo sido a única a apresentar também peças para mulher. "Pego nessas peças e gosto de as desconstruir, seja através da forma ou dos materiais utilizados, como aconteceu com o nylon, um material que eu nunca tinha usado". Trata-se de uma estética baseada na reinterpretação dos clássicos e na exploração de novos elementos formais, num jogo de texturas materiais com tecidos muito distantes uns dos outro, "como caxemiras e lãs, nylons à prova de água e transparências 'apapeladas'", exemplifica.

Para a designer, as camisas foram o auge desta colecção que fez parte do seu primeiro desfile internacional. "Havia camisas com várias formas. Umas com desenho assimétrico, outras duplas, ou seja duas camisas numa só, e por aí".

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Inês Torcato FW18/19

Depois do processo de criação, que passa sempre por um "momento de frustração inicial", surge a quarta colecção pelo Bloom Portugal Fashion. Baseada no "conceito de self-portrait", em português, auto-retrato, as peças são desenhadas a pensar em "cores neutras como o preto, cinzento, branco e beringela", com as quais a criadora se identifica.

Para acrescentar "uma nova linguagem gráfica" e apresentar traços da cultura portuguesa no estrangeiro, a designer  incorporou algumas frases em português que resultaram de uma parceria com a escritora e letrista Regina Guimarães.

David Catalán fez uma viagem à infância

David Catalán, de 28 anos, revela que a sua colecção foi criada à volta do universo dos escuteiros. "Fui escuteiro dez anos, o que acabou por marcar muito a minha infância, então tentei juntar o meu universo com o deles, ou seja o universo das fardas. Desde os materiais, ao comprimento, passando pelos detalhes criados com patches, bolsos, etc." Portanto, esta colecção tornou-se numa "espécie de viagem à infância".

Segundo David Catalán, o Altaroma superou todas as expectativas. "A sala estava cheia, recebemos muitas mensagens através do Instagram e espero que isto nos ajude a apresentar como marca a nível internacional".

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David Catalán FW18/19

Nascido em Espanha, onde iniciou formação na área, o designer, que vive no Porto, licenciou-se na Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos e já apresenta colecções, desde 2014, na plataforma EGO na Mercedes-Benz Fashion Week Madrid. Participou ainda em eventos como o International Fashion Showcase, em Londres, e já foi laureado no programa Mediterranean Fashion Prize, organizado pela Maison Méditererranéenne des Métiers de la Mode, em Marselha, entre outros.

Para David Catalán, "antes era mais difícil" enveredar pelo caminho da moda, actualmente o Bloom e outras plataformas destinadas a novos designers facilitam o processo. "Não há assim tantos países, como Portugal e como a Itália, que oferecem este tipo de apoios", reconhece.

Mercado saturado

Nycole, tal como David Catalán, explicou que estas plataformas oferecem uma "estrutura" que de outra forma os jovens designers não conseguiriam obter. "Podíamos preparar um lookbook para enviar a clientes, mas um desfile tem um orçamento demasiado pesado, no início de carreira. E como é obvio estes eventos trazem mais visibilidade tanto a nível nacional como internacional", diz a designer.

Inês Torcato é da mesma opinião: "Actualmente o mercado da moda está muito saturado" e "marcar pela diferença torna-se cada vez mais complicado". Nos últimos anos, a moda portuguesa tem vindo a ganhar peso a nível internacional. "A ideia positiva que as pessoas tinham de Portugal era relativamente à qualidade dos materiais e da confecção, mas não em relação ao design, opinião que tem vindo a mudar nos últimos anos", avalia. Este tipo de colaborações com o Altaroma, "certamente irão ajudar a dar visibilidade aos novos talentos". 

O PÚBLICO viajou a convite da ANJE 

Texto editado por Bárbara Wong

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