CDU pede “urgência” num programa para salvar “ilhas” que albergam 10 mil pessoas

Ilda Figueiredo e Paulo Mourato visitaram várias “ilhas” do Porto. Os comunistas apresentaram um projecto de resolução na Assembleia da República uma recomendação ao Governo para que considere "urgente" a requalificação destes bairros operários.

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Nelson Garrido

A CDU/Porto alertou neste domingo para a urgência de intervir na criação dum programa de recuperação para salvar as “ilhas” do Porto, bairros operários do século XIX que albergam cerca de dez mil pessoas, em condições "precárias".

"É urgente intervir, porque poderá ser possível conjugar tudo, mas é urgente que o Governo, através de um programa próprio que tenha o apoio da Câmara Municipal do Porto e dos proprietários e dos moradores, possa salvaguardar estas características peculiares da cidade do Porto, reabilitando as “ilhas”, em primeiro lugar, para os seus moradores", declarou à agência Lusa Ilda Figueiredo, vereadora da câmara do Porto.

Ilda Figueiredo e Paulo Mourato, membro da Assembleia de Freguesia do Bonfim, visitaram neste domingo várias “ilhas” do Porto, para espalhar a informação de que apresentaram um projecto de resolução na Assembleia da República a recomendar ao Governo para que considere "urgente a necessidade de proceder à requalificação das 'ilhas'”, garantido aos "actuais inquilinos e seus descendentes directos a permanência nas habitações".

A CDU chamou também a atenção para a importância de salvaguardar as "ilhas", com as suas características, onde as "pessoas devem estar em primeiro lugar". Não só é necessário reabilitar estas ilhas, dando melhores condições de habitabilidade às pessoas, mas também manter a cultura popular que aqui existe, seja no que há de peculiar e tradicional da vivência das pessoas na cidade do Porto, seja também estas características de solidariedade e entreajuda, de convívio que se vivem nestas 'ilhas'", observou a vereadora comunista.

"Ninguém sabe o frio que passo. Fui operada às costas e tenho de sair de casa para ir à casa de banho. É só ratos. Nem sonha a ratice que cá existe. A chafurdice anda toda lá dentro, não se vê cá fora", contou nesta manhã à agência Lusa Maria Graciete Furtado, que mora há 16 anos na “ilha Grande”, número 182, da rua São Vítor, no Bonfim, pagando 119 euros por uma espécie de T1, sem casa de banho.

Numa “ilha” da mesma rua portuense, no número 164, Rosa Carvalho, de 80 anos e há 50 a morar naquele bairro operário do tempo da revolução industrial, alerta a comitiva da CDU que as “ilhas” não podem ser todas para hostels e alojamento turístico. "Se deixarmos morrer as 'ilhas', morre o Porto", desabafa Rosa Carvalho, preocupada, enquanto faz uma visita guiada da 'ilha' do número 164 à comitiva da CDU.

No projecto de resolução da CDU para a reabilitação das “ilhas” do Porto – em Lisboa também existem agrupamentos habitacionais destinado ao proletariado da altura da revolução industrial, mas ficaram conhecidos por “Pateos” ou “Vilas” – pede-se também que garantias para "as necessárias condições de habitabilidade e salubridade" de espaços que estão "totalmente degradados para a realização de alojamentos e ou arrendamentos por valores acessíveis.

A resolução indica também ao Governo que "garanta o financiamento pelo Estado, de modo a concretizar as medidas para a reabilitação das 'ilhas' e para assegurar o direito à habitação e à protecção social das famílias que nelas habitam, usando como forma de financiamento (...), o respeito pelos programas e fundos de reabilitação nas situações que se mostrem mais vantajosas".

A criação de uma equipa permanente para acompanhar a reabilitação das “ilhas no Porto” é outro dos itens da resolução. Essas equipas devem ser constituídas por membros da Segurança Social, do município do Porto, do Instituto da Habitação e reabilitação Urbana, das freguesias e dos moradores e devem apresentar anualmente um relatório à Assembleia da República e aos órgãos autárquicos.

"Proceder, de forma protocolar com o município do Porto, ao levantamento da situação actual das 'ilhas' existentes, das famílias que as ocupam, das condições de segurança estrutural, de habitabilidade e de salubridade dos fogos ocupados" é outra recomendação da resolução do Partido Comunista.

Actualmente, e com base num estudo recente, há 957 “ilhas” no Porto, com cerca de oito mil fogos, dos quais 4900 habitados e onde viviam cerca de 10 mil pessoas.

O Bloco de Esquerda (BE) do Porto anunciou na semana passada que tinha envido um pedido ao presidente da Câmara Municipal, Rui Moreira, para ir à Assembleia da República discutir com o Governo os problemas de habitação das históricas “ilhas” do Porto.