INEM não diz a que horas activou meios nem quando estes chegaram às vítimas

Ministério Público investiga alegadas falhas no socorro. INEM colabora com justiça, mas mantém registos dos dias do incêndio de Pedrógão apenas em papel e em “sistemas complementares”.

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Meios do INEM no dia 18 de Junho em Pedrógão Adriano Miranda

As horas do incêndio de Pedrógão Grande foram confusas, com pouca rede de telemóvel e de Internet e, por isso, os registos obrigatórios de cada meio de socorro do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) foram feitos à mão. Sete meses depois do incêndio, estes registos ainda não foram actualizados no sistema informático. Acresce que o INEM não diz a que horas activou cada meio, admite não saber a hora exacta a que “alguns” meios chegaram junto das vítimas e recusa ainda o acesso a documentos que o comprovariam, por estes alegadamente estarem em “segredo de justiça”.

A actuação do INEM naqueles dias ainda está envolta numa nebulosa, sobretudo porque os registos obrigatórios foram sendo feitos em papel e ainda não foram transpostos para o sistema informático. Questionado pelo PÚBLICO sobre estes registos, o INEM confirma que “todas as ocorrências devem e têm de ser registadas no sistema informático dos CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes) do INEM”, mas que esta foi uma “situação particular” devido à “intensa actividade operacional” e que, por isso, “os registos foram sendo feitos manualmente ou em sistemas complementares, sendo oportunamente reposta a normalidade dos mesmos no sistema informático do INEM, situação que também é devidamente registada”. 

Contudo, o incêndio aconteceu a 17 de Junho de 2017 e, sete meses depois, esse momento oportuno para a transposição para o sistema informático ainda não aconteceu. O INEM justifica a utilização deste tipo de registo pelo facto de no terreno os operacionais escolherem a forma que “consuma menos tempo possível”. “Não é desejável como regra, mas acontece neste tipo de situações e continuará a acontecer sempre que tal signifique uma resposta mais célere e expedita”, acrescenta o INEM, lembrando ainda as dificuldades provocadas pelas “falhas na rede de comunicações”. 

Uma situação excepcional e que não permite o escrutínio, também, por parte daqueles que estavam ao serviço e que revelaram ao programa Sexta às 9, da RTP, a existência de dificuldades no accionamento e a discrepância na activação de meios. 

Estas denúncias de técnicos coincidem com queixas de familiares das vítimas de que as ambulâncias chegaram tardiamente e sem coordenação. Para clarificar as dúvidas que têm vindo a público, e que o instituto considera tentativas de “denegrir o bom nome e o profissionalismo de responsáveis do INEM”, o PÚBLICO pediu em detalhe as horas de activação e de chegada ao teatro de operações de cada meio, mas as respostas surgem apenas com números globais. O INEM refere que até às 22h foram accionados dez meios próprios (entre eles dois helicópteros), várias ambulâncias dos corpos de bombeiros e da Cruz Vermelha, e que posteriormente foram accionados mais sete meios de emergência, sem nunca referir a hora a que cada ambulância ou helicóptero foi accionado.

Mais, o INEM também não informa sobre o momento em que estes meios chegaram ao terreno ou estiveram em operação. “Em alguns casos, o INEM não dispõe de informação precisa sobre a hora exacta a que os meios chegaram junto das vítimas”, lê-se. Sobre este assunto, o INEM recorda ainda as dificuldades nas comunicações que acabaram por “condicionar negativamente”, impedindo o registo. 

Nos últimos tempos, têm surgido várias dúvidas, sobretudo depois do relatório do professor Domingos Xavier Viegas em que foram identificadas situações em que terá falhado o socorro às vítimas. As queixas e as dúvidas sobre o INEM levaram o Ministério Público a alargar o âmbito da investigação. A “colaboração” com o Ministério Público é assumida pelo INEM, que recusou a consulta de vários documentos, por estes estarem em “segredo de justiça”.

Entretanto, as ordens dos enfermeiros e dos médicos pediram esclarecimentos sobre o INEM. A Ordem dos Enfermeiros fez chegar uma carta às mais diversas entidades, incluindo ao primeiro-ministro. O PÚBLICO questionou nas últimas semanas o gabinete de António Costa sobre se tinha feito alguma diligência no sentido de clarificar a actuação do INEM ou se tinha recebido mais queixas sobre este assunto, mas não recebeu qualquer resposta às perguntas, sendo apenas dito que “não há nada a comentar”. com Ana Maia

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