A aplicação de controlo da natalidade Natural Cycles está sob investigação na Suécia natal, depois de 37 mulheres que usavam a app como método contraceptivo terem engravidado, diz o Business Insider, citando a SVT, a agência noticiosa daquele país. Trata-se de uma aplicação que pode ser descarregada para o telemóvel e ser usada como contracepção. Por cá, foi registada em Agosto pelo Infarmed e é usada por cerca de mil portuguesas.
De acordo com a agência SVT, no hospital de Södersjukhuset, em Estocolmo, foram registadas 37 mulheres que utilizavam aquela aplicação como método contraceptivo entre as 668 que fizeram um aborto, de Setembro a Dezembro de 2017, naquele hospital. "É um novo método e observamos uma série de gravidezes indesejadas, por isso relatamos o caso à Agência de Produtos Médicos", o Infarmed local, informou Carina Montin, enfermeira parteira daquele hospital. A agência já lançou um inquérito à Natural Cycles, mas não se quis pronunciar sobre o tema.
Trata-se de uma "aplicação contraceptiva" e há um convite para integrá-la na "nova rotina matinal deste ano e passar a conhecer-se melhor". A aplicação tem uma classificação de cinco estrelas na loja da Apple, onde há uma consumidora portuguesa que a recomenda dizendo que esta é "simples e eficaz" e que está "muito satisfeita". Na Google Play a classificação é de 4,6 em cinco e as críticas são de consumidoras brasileiras.
O que faz esta aplicação? Controla a temperatura das mulheres para avaliar o ciclo hormonal e diz-lhes os dias em que estão férteis e devem, assim, utilizar preservativo ou praticar abstinência. A app é uma alternativa à pílula e outros métodos anticoncepcionais hormonais porque não envolve tomar medicamentos.
Um porta-voz da marca já veio declarar que este método, em termos de falibilidade, é comparável a todos os outros, ou seja, não é 100% seguro. A Natural Cycles "é 93% eficaz", disse, acrescentando que os estudos "mostraram repetidamente que a aplicação fornece um alto nível de eficácia, semelhante a outros métodos". Na informação online está escrito: "A Natural Cycles tem um Índice de Pearl de 0,5 de falha [em uso correcto], ou seja, cinco mulheres entre 1000 engravidam durante um ano devido a um dia erroneamente atribuído como verde. Já em uso típico – que conta com os condicionamentos do quotidiano – a empresa afirma que o método "tem um Índice de Pearl de 7,0 de uso típico, ou seja, um total de sete mulheres em 100 engravidam durante um ano por várias razões (ex: relações sexuais desprotegidas em dias vermelhos, falha do método contraceptivo usado em dias vermelhos)."
Por comparação, a pílula (combinada e sem estrogénio) tem, de acordo com um relatório de 2015 da Organização Mundial da Saúde (OMS), um índice de Pearl de 0,3 em uso correcto e 9,0 em uso corrente.
A empresa acrescentou ainda à SVT que não entrou em contacto com o hospital, mas que sim com o regulador e está a fazer uma investigação interna. No entanto, salvaguarda: "À medida que a nossa base de usuários aumenta, a quantidade de gestações não intencionais provenientes dos usuários da Natural Cycles é uma realidade inevitável."
A Natural Cycles acrescenta ainda que a aplicação deve ser usada por mulheres com um ciclo regular, com mais de 18 anos. As menores devem procurar outro método contraceptivo, recomenda. O mais provável é que o regulador sueco recomende à empresa que adicione mais avisos sobre gravidezes indesejadas na informação sobre a aplicação.
Em Portugal, esta aplicação está classificada pelo Infarmed como “um dispositivo médico de classe IIb”— a mesma do preservativo, reservada a dispositivos de “médio risco”. Isto porque apesar de se tratar de um dispositivo pouco invasivo para o corpo humano e de uso não permanente — dois dos critérios da avaliação para atribuir uma classe a um dispositivo —, o potencial impacto que pode ter na vida das pessoas (neste caso resultar numa gravidez indesejada) é determinante na avaliação. De acordo com a autoridade do medicamento, este produto destina-se “a mulheres saudáveis entre os 18 e os 45”.