Arqueólogos lançam petição para estabelecimento de Plano Arqueológico Nacional

Iniciativa é subscrita por Luís Raposo, ex-director do Museu Nacional de Arqueologia.

Foto
Achados arqueológicos numa necrópole romana, em Beja Miguel Manso

O estabelecimento de um Plano Arqueológico Nacional, para desenvolvimento do interior e preservação do património, e a "contratação obrigatória de arqueólogos" pelos municípios são reivindicações feitas por um grupo destes profissionais, numa petição lançada este domingo na internet.

A petição Pela Defesa do Património Arqueológico Nacional tem como primeiro subscritor o arqueólogo Marco Valente e, entre os signatários iniciais, o actual presidente do Conselho Internacional dos Museus (Icom), Luís Raposo, ex-director do Museu Nacional de Arqueologia.

O combate "à economia paralela de destruição e venda ilegal de património nacional" e a definição de "medidas efectivas de Mecenato Cultural Estatal" são as outras reivindicações inscritas na petição.

A iniciativa, que pede a acção do Governo e a discussão destas matérias no Parlamento, surge na sequência da destruição de património arqueológico para a plantação de campos agrícolas, em particular na região de Beja, e depois do anúncio de acções de prevenção e sensibilização da Direcção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlentejo), envolvendo a GNR e o Ministério Público.

Os arqueólogos têm alertado para a destruição de sítios arqueológicos, por várias explorações agrícolas, e a DRCAlentejo reconheceu uma incidência maior deste fenómeno no distrito de Beja, nos concelhos de Alvito, Beja, Ferreira do Alentejo e Vidigueira, assim como em Arronches, distrito de Portalegre.

Com "o desenvolvimento de projectos apoiados por fundos comunitários, nas últimas décadas, tem-se assistido a um incremento dos trabalhos que envolvem o revolvimento dos solos", que "afectam irremediavelmente os sítios arqueológicos", lê-se na petição agora publicada.

Os arqueólogos ressalvam "os trabalhos que envolvem empresas estatais", que têm favorecido a salvaguarda de "sítios, artefactos e, sobretudo, [da] nossa memória e História colectivas", e louvam em particular a acção da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA), no Alentejo. Verificam, porém, "que outros trabalhos de igual índole não têm tido o necessário acompanhamento arqueológico, conduzindo à destruição de dezenas", ou mesmo de "centenas de sítios a nível nacional, de que são exemplo a vintena de locais arqueológicos destruídos recentemente para plantação de um amendoal" no concelho de Beja, que levou ao desaparecimento de uma ponte romana, de um aqueduto e de uma villa".

"O Estado, através da DGPC, não dispõe de meios humanos nem financeiros suficientes para garantir uma escrupulosa acção de protecção" deste património, e "as câmaras municipais não possuem, nos seus quadros, na grande maioria, arqueólogos qualificados e habilitados". Daí a urgência de "o Governo, com os principais agentes regionais", elaborar e pôr "em marcha um Plano Arqueológico Nacional" para identificação, preservação, recuperação e investimento nesses acervos, sobretudo "nas regiões desertificadas do interior", como "verdadeiro pacto para a competitividade, crescimento e emprego nestas zonas económicas", e desenvolver um mecenato cultural, com base em incentivos fiscais, privilegiando candidaturas a fundos comunitários, que associem a vertente patrimonial.

"O território nacional (continental, ilhas e Zona Económica Exclusiva Marítima) é um espaço físico riquíssimo em achados de índole arqueológica", afirmam os subscritores da petição. O texto é endereçado aos ministérios da Cultura, da Agricultura e do Ambiente, à DGPC, às direcções regionais de Cultura do Algarve, Alentejo, Centro e Norte, à Agência Portuguesa para o Ambiente, ao presidente da Assembleia da República e ao primeiro-ministro.

O texto da petição está disponível aqui