Sindicato desafia António Costa a reforçar número de enfermeiros do SNS
Dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses entregou nesta sexta-feira ao primeiro-ministro um documento que elenca as principais preocupações destes profissionais em Faro.
Um dirigente regional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) desafiou nesta sexta-feira o primeiro-ministro a fornecer os "recursos necessários" para que seja possível reforçar o número de enfermeiros no Serviço Nacional de Saúde (SNS), exigindo uma "estratégia efectiva" para o Algarve.
"Os enfermeiros, para poderem reforçar o SNS, têm que contar com o primeiro-ministro para lhes fornecer os recursos necessários para que isso aconteça", disse Nuno Manjua, aludindo a um vídeo divulgado por António Costa na campanha eleitoral em que dizia que os enfermeiros são o pilar do SNS e que contava com eles para reforçar o serviço.
O sindicalista da direcção regional de Faro do SEP falava aos jornalistas após entregar, em privado, a António Costa, que nesta sexta-feira se deslocou a Faro, um documento com algumas das preocupações dos enfermeiros na região, nomeadamente, a falta de recursos humanos e materiais nos serviços públicos de saúde da região.
Observando que o Algarve é a região do país onde há mais carência de enfermeiros, Nuno Manjua descartou a hipótese de a falta de enfermeiros estar relacionada com o facto de a maioria daqueles profissionais não quererem trabalhar no Algarve, indicando que, em 2016, concorreram 600 enfermeiros num processo de recrutamento para o CHUA - Centro Hospitalar Universitário do Algarve.
Costa "não assumiu nenhum compromisso"
"Há enfermeiros com vontade de vir, a questão que se coloca é se há vontade do Governo para os contratar", sublinhou, acrescentando que "não têm sido encontradas as soluções para a resolução dos problemas estruturais", não só nas urgências hospitalares, como nos restantes serviços públicos de saúde.
Questionado pelos jornalistas sobre a resposta que António Costa lhe deu às suas interpelações, Nuno Manjua adiantou que o primeiro-ministro "não assumiu nenhum compromisso", dizendo-lhe apenas que iria ver o que seria possível fazer.
"Mas nós exigimos resposta a este documento, visto que o documento que entregámos no ano passado, em mãos, ao senhor secretário de Estado da Saúde, não obteve até ao momento uma única resposta oficial", frisou.
Na carta entregue agora ao primeiro-ministro, e entretanto publicada no site do sindicato, os enfermeiros que a falta de profissionais “coloca em causa a qualidade e segurança dos cuidados, sendo agravado em serviços que mantêm apenas um enfermeiro por turno” e implica a menor disponibilidade para a realização de tarefas, como a mobilização e a alimentação dos doentes, assim como tempo para explicar aos doentes e familiares os cuidados necessários quando vão para casa. “O que implica atraso nas altas hospitalares e/ou reinternamentos ou agravamento do estado de saúde”, salienta o sindicato.
Na missiva, o SEP refere ainda que “o Algarve tem uma carência estrutural crónica de enfermeiros, que urge resolver no mais curto espaço de tempo, sob pena das situações de ruptura se manterem ou até mesmo aumentarem”. Nas contas do sindicato faltam 350 enfermeiros no centro hospitalar.
“A autorização para contratar enfermeiros, não se tem traduzido necessariamente num aumento de efectivos. A título de exemplo, de 50 contratações autorizadas, a ACSS deu indicação para que 38 se destinassem a substituição de enfermeiros que saíram e as restantes 22 para regularizar vínculo por tempo indeterminado a quem já trabalha no CHA. Ou seja, saldo zero”, lê-se na carta.
"Esperamos uma resposta ao Sindicato dos Enfermeiros Portugueses ou uma reacção pública para uma estratégia efectiva para melhorar a saúde no Algarve e da admissão e da valorização dos enfermeiros nesta região", concluiu Nuno Manjua.
No final da semana passada, os enfermeiros da urgência do Hospital de Faro denunciaram a incapacidade de resposta do serviço, dizendo que a segurança dos utentes e profissionais está em risco.