Para o Teatro Municipal, 2018 é o ano da internacionalização

A inscrição em três novas redes é o pequeno passo com que a estrutura dirigida por Tiago Guedes quer ajudar os artistas da casa a darem o grande salto para o estrangeiro. De fora virão espectáculos de Mathilde Monnier, Philippe Quesne, Dimitris Papaioannou, Raimund Hoghe, Salia Sanou e Brett Bailey.

Foto
El Baile, de Mathilde Monnier e Alan Pauls, é o grande espectáculo de aniversário do Rivoli, a 20 de Janeiro DR

Antes de entrar na programação do Teatro Municipal do Porto (TMP) para 2018, o prato do dia no café do terceiro piso do Rivoli esta quarta-feira, Rui Moreira quis fazer um desvio até uma notícia da véspera, para “assinalar” a chegada de um filme encomendado pela Câmara Municipal do Porto – Russa, que João Salaviza e Ricardo Alves Jr. filmaram no Bairro do Aleixo – à competição internacional de curtas-metragens do Festival de Berlim. Não foi um desvio casual: a internacionalização é declaradamente o eixo principal da agenda do teatro dirigido por Tiago Guedes para o futuro mais próximo, e as três novas redes de criação, circulação e residências artísticas em que passa agora a inscrever-se pô-lo-ão em contacto directo com instituições congéneres espalhadas um pouco por todo o mundo, de Barcelona a Taipé, de Lyon a Santiago do Chile, de Liège a Beirute.  

São pequenos-grandes passos para o TMP, poderão ser saltos quânticos para alguns dos artistas que vem co-produzindo, defende Tiago Guedes, cuja posição como co-curador de festivais como o DañsFabrik, em Brest, o Panorama, do Rio de Janeiro, ou a Bienal de Dança de Lyon lhe permitirá levar em 2018 uma série de criadores portugueses como bagagem extra nalgumas das suas viagens de trabalho. De 26 a 29 de Abril, pelo contrário, será a comunidade internacional das artes performativas a viajar até ao Porto: o TMP acolherá o próximo plenário da IETM – International Network for Performing Arts, que deverá reunir entre 700 a 900 profissionais oriundos de mais de 60 países. O tema do encontro, Other Centres: Paths, Perspectives, Practices, parece aliás feito à medida para uma cidade que nos últimos anos fez um esforço para se posicionar culturalmente como alternativa a Lisboa (um esforço reconhecido pela IETM, que sublinha no texto de apresentação da reunião de Abril “as notáveis políticas culturais” que o Porto tem protagonizado, num país cuja “geografia artística está mais dinâmica do que nunca”).

A visita do IETM coincidirá com um período especialmente efervescente dos próximos meses, com mais uma edição do Festival DDD – Dias da Dança (26 de Abril a 13 de Maio), que este ano, tal como o FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (Maio-Junho), terá orçamento reforçado. Reconhecendo a sua importância estratégica, a Câmara, anunciou Rui Moreira, pretende gastar cerca de 380 mil euros no conjunto dos dois festivais, pouco mais de metade do que investiu em toda a temporada Janeiro-Julho.

Antes, porém, ainda haverá outra festa, a dos 86 anos do Rivoli, que já no próximo dia 20 estará de portas abertas das 11h às 4h da manhã; entre os espectáculos “para todas as gerações, sempre com entrada gratuita” programados para este aniversário, Tiago Guedes quis destacar El Baile, em que “uma das coreógrafas mais importantes da contemporaneidade”, a francesa Mathilde Monnier, se aventura com o escritor Alan Pauls por quatro décadas da história da Argentina. Mas também haverá os Poemas de Pé para a Mão, peça para crianças de Joana Providência, o musical que André Murraças criou a partir das histórias de vida e de trabalho de quatro funcionários do teatro, conferências mais ou menos performativas dos dois artistas associados do TMP, Marco da Silva Ferreira e Jorge Andrade, o lançamento do sexto volume dos Cadernos do Rivoli, o encontro de Ana Deus com Nicolas Tricot, um concerto dos Gala Drop num subpalco do Rivoli intervencionado pelo colectivo de artes gráficas Oficina Arara e, noite fora, uma maratona com os DJ Rodrigo Affreixo, André Tentúgal e Pedro Tudela. Ainda em Janeiro, chegam ao TMP o novo espectáculo da Mala Voadora, Amazónia (26 e 27), a “folk soturna” de Scott Kelly (27) e a primeira de três conferências Do Estranho, co-organizadas com a Universidade Lusófona do Porto (30).

Entre o Cavaquistão e o Burkina Faso

Depois, e até ao final de Março – Tiago Guedes preferiu deixar para mais tarde o anúncio detalhado da agenda Primavera/Verão, que trará ao Porto, por exemplo, o coreógrafo burquinabês Salia Sanou, com Désir d’Horizon, e o encenador sul-africano Brett Bailey, com Sanctuary, “uma labiríntica instalação performativa sobre as rotas migratórias” –, regressarão ao Rivoli, “a pedido de várias famílias”, pesos-pesados internacionais como Philippe Quesne (La Mélancolie des Dragons, 16 de Fevereiro), Dimitris Papaioannou (The Great Tamer, 9 e 10 de Março) e Raimund Hoghe. Presente na conferência de imprensa, o coreógrafo alemão disse que é “uma grande alegria” poder remontar no Porto uma das suas mais decisivas criações, Young People, Old Voices; encomenda da Capital Europeia da Cultura de Bruges em 2002, encontrará agora outra forma com os 12 intérpretes de idades compreendidas entre os 18 e os 23 anos, bailarinos e não-bailarinos, que selecionou numa audição em Novembro e com os quais tem estado a trabalhar desde então. Além de Momentos of Young People (23 de Março), o espectáculo que daí resultará, o Rivoli receberá também a última peça de Hoghe, La Valse (29 de Março), estreada no Centro Pompidou, em Paris.

Mas há vida no TMP para além da dança internacional – entre os 76 espectáculos que apresentará até Julho, apenas 22 são estrangeiros. Entre as estreias e/ou coproduções, estão novas peças de Circolando (Raio X, 1 a 3 de Fevereiro), Patrícia Portela (Por Amor!, 8 a 10 de Fevereiro), Albano Jerónimo (Um libreto para ficarem em casa, seus anormais, 9 e 10 de Fevereiro) e Teatro Griot (Que ainda alguém nos invente, 2 e 3 de Março). E ainda, de 14 a 24 de Março, Maioria Absoluta, o espectáculo com que o Teatro Experimental do Porto fecha um ciclo de visitas às juventudes inquietas das décadas de 50, 70 e 90, mergulhando desta vez no Cavaquistão, esse país distante que foi o oásis dos dinheiros comunitários, mas também a trincheira da luta contra as propinas.  

Sugerir correcção
Comentar