Para o Teatro Municipal do Porto 2017 vai ser o ano um milhão
Fechando um biénio “de aposta na cultura”, e retribuindo o “grande entusiasmo” com que a cidade respondeu à reabertura do Rivoli, a Câmara aumentou o orçamento do equipamento. O regresso à actividade é no dia 21, com uma grande festa de aniversário.
Para trás ficam os 891 mil euros da programação de 2016, materializados em 150 espectáculos (95 dos quais de criadores ou companhias locais) vistos por mais de cem mil espectadores; à sua frente, o Teatro Municipal do Porto (TMP) tem agora acima de um milhão de euros para gastar (1,056 milhões, mais precisamente), num ano em que a cidade será chamada a julgar as escolhas estratégicas de Rui Moreira – entre as quais a sua assumida, e agora reiterada, “aposta na cultura”, que será uma “bandeira até ao fim do mandato”.
2017 será, portanto, o primeiro ano “um milhão” da nova vida do Teatro Municipal do Porto – um orçamento reforçado que o presidente da Câmara (e também vereador da Cultura) quer repartir de forma mais equitativa entre os seus dois pólos, o do Rivoli e o do Campo Alegre, consolidadas que estão, dois anos depois da euforia colectiva da reabertura do teatro da Praça D. João I, rotinas e dinâmicas de público compatíveis com a vontade de dividir mais irmãmente a oferta de programação pelos dois equipamentos.
De resto, mantém-se a estratégia de compromisso entre a afirmação de uma “dimensão internacional”, sobretudo na área da dança (alguns nomes para este primeiro semestre: o coreógrafo sírio Mithkal Algzhair, em estreia nacional no Foco Deslocações, o “desconstrutor” do flamenco Israel Galván, e o regresso dos suíços da Cie. 7273, para uma co-produção com a Companhia Instável), e o investimento na criação de raiz, privilegiando sobretudo as estruturas e os artistas da cidade. A que se soma um continuado trabalho de formação de públicos e de aproximação à comunidade que este ano terá um desenvolvimento muito particular com a estreia, em Julho, do espectáculo Conhece o Seu Vizinho?, encomenda do TMP que pôs Hugo Cruz e Hugo Ribeiro a irem ao encontro de quem vive ou trabalha nas imediações do Rivoli. E ainda, acrescentou Rui Moreira na conferência de imprensa desta quarta-feira, a vontade “de dar resposta aos múltiplos agentes” que ali chegam com propostas de programação – dos reincidentes como o FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (apontados para a próxima edição, a 40.ª, estão já espectáculos da chilena Trinidad González, do galego Pablo Fidalgo Lareo e dos portugueses Joana Craveiro, Marlene Monteiro Freitas e Tiago Rodrigues) a novos parceiros como o Kino – Mostra de Cinema Alemão, o IndieJúnior ou a Amplificasom, que se estreará em Abril nas já enraizadas sessões Understage com um concerto de Emma Ruth Rundle.
Antes, e lançando este primeiro semestre em que haverá pelo menos 85 espectáculos – dos quais 19 são criações internacionais e 37 são co-produções de raiz –, o TMP regressa à actividade já no dia 21, com mais uma festa de aniversário do Rivoli. Far-se-á, desta vez, “maioritariamente com artistas da cidade”, sublinhou o director artístico Tiago Guedes, enumerando a maratona de quatro pequenas peças para toda a família que ocuparão diferentes espaços do teatro durante a manhã (Distraído, de Elisabeth Lambeck; Fomos Ficando, de Nuno Preto; Das gavetas nascem sons, da associação Sonoscopia; e Estórias do Pó, de Marta Bernardes), a que se segue outra maratona de quatro curtos espectáculos para adultos durante a tarde. Num deles, Intimidade, Valter Hugo Mãe receberá os seus leitores no WC dos homens – mas também haverá uma joint-venture do coreógrafo Joclécio Azevedo com a orquestra da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, um solo do actor e encenador António Júlio e um concerto de marimba pelo Drumming Grupo de Percussão. Não é tudo (e é tudo gratuito): a festa dos 85 anos do Rivoli incluirá ainda a exposição em que o designer Nuno Coelho apresenta os achados que resultaram de um mergulho em profundidade nos arquivos do teatro dispersos pela cidade, o concerto em que Joana Gama, Luís Fernandes e Ricardo Jacinto homenageiam Erik Satie, Harmonies, a muito aguardada estreia de Brother, a nova coreografia de Marco da Silva Ferreira, e um Understage especial em que os Sensible Soccers encontram Tiago Pereira e o Grupo de Percussão de Valhelhas.
O final de Janeiro (dias 27 e 28) trará finalmente ao Porto Um Inimigo do Povo, de Ibsen, na celebrada encenação de Tonán Quito, enquanto Fevereiro verá a estreia da Stabat Mater Furiosa que Ana Rocha está a montar com a companhia O Cão Danado (10 e 11) e da aventura da Companhia Instável com a Cie. 7272, La Nuit tous les chats sont gris, com coreografia de Laurence Yadi e Nicolas Cantillon (17). O regresso dos Za! para mais um concerto Understage agenciado pela Lovers & Lollypops (17) e Filhos das Mães, a sequela da peça que Martim Pedroso fez com seis actrizes grávidas, agora com as mesmas actrizes e os seus respectivos seis filhos (24 e 25) são outros dos destaques do mês.
A encerrar o trimestre, um mês de Março que Tiago Guedes antevê como “o mais preenchido” destes dois anos do TMP, e também “dos mais desafiantes”. Logo a abrir, um programa inteiramente dedicado às questões das migrações e dos refugiados, o Foco Deslocações, mostrará pela primeira vez em Portugal o trabalho fortemente autobiográfico da ruandesa Dorothée Munyaneza e do sírio Mithkal Alzghair (3 e 4). Depois, sucedem-se os acontecimentos: a Companhia Nacional de Bailado traz ao Porto a peça que para ela está a ser criada por Akram Khan, iTMOi (10 e 11), o ciclo Porto Best Of regressa desta vez para experimentar o cruzamento dos Três Tristes Tigres com Old Jerusalem e Dan Riverman (16), e os catalães El Conde de Torrefiel mostrarão finalmente em Portugal o “teatro muito físico e politicamente acutilante” que andam a fazer (24 e 25). O grande brilharete do mês, porém, pode muito bem vir a ser a estreia mundial de Couture Essentielle, o desfile performativo que o director do Museu da Moda de Paris, Olivier Saillard, levará ao Salão Árabe do Palácio da Bolsa dias 17 e 18.
Para o trimestre seguinte ficam Palhaço Rico Fode Palhaço Pobre, o circo que a dupla João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira está a montar para a primeira edição da BoCA – Biennial of Contemporary Art, o regresso dos habituais DDD – Dias da Dança e FITEI e, em fim de temporada, mais uma desconstrução do flamenco pelo iconoclasta Israel Galván, FLA.CO.MEN. Por essa altura, o terceiro piso do Rivoli terá sido “finalmente” transformado “na grande sala de visitas” que o teatro pedia – já o quinto andar, e depois de um segundo concurso público em que não apareceram candidatos, deixa definitivamente de ser o café-restaurante que em tempos foi para se assumir como mais um espaço de trabalho do aparentemente incansável TMP.