A maior descoberta científica dos últimos 20 anos
Somos seres emocionais que aprenderam a pensar e não máquinas pensantes que sentem.
As recentes descobertas científicas no domínio das neurociências cognitivas estão a colocar em causa algumas das metodologias de ensino utilizadas até hoje de forma universal, ao mesmo tempo que nos proporcionam evidências claras e irrefutáveis de como poderemos criar novas dinâmicas de aprendizagem que verdadeiramente transformem o corpo, o cérebro e a mente dos seres humanos.
Há novos mundos que anteriormente desconhecíamos. Um novo quociente a juntar ao quociente de inteligência, o impacto dos sentidos e do inconsciente, o fascínio que o nosso cérebro tem por histórias, os contextos e os ambientes de aprendizagem, a curva do esquecimento, a quantidade de informação ou o impacto das emoções na nossa memória, estão entre as inúmeras evidências científicas que não podemos ignorar quando desenhamos experiências de aprendizagem.
O primeiro passo para aprender é ter curiosidade. A curiosidade altera a química dos nossos cérebros, provoca a libertação de dopamina, ativa o sistema de recompensa e aumenta a nossa capacidade de aprender. As pessoas curiosas aprendem mais, de forma mais rápida e conseguem relembrar mais informações. O quociente de curiosidade é uma variável nova a que temos de prestar atenção. E ao contrário do quociente de inteligência, que é difícil de ser treinado, o quociente de curiosidade pode ser desenvolvido.
As experiências e dinâmicas de aprendizagem que criamos devem permitir a utilização do maior número de sentidos possível. A memória é distribuída por diferentes locais do cérebro que estão também ligados a diferentes sentidos. Quantos mais sentidos usarmos durante o processo de aprendizagem, maior a probabilidade dessa experiência ficar gravada na nossa memória de longo prazo.
Aprendemos quando contamos e ouvimos histórias. As histórias aproximam os cérebros de quem conta e de quem ouve, são a base da comunicação humana e a forma como os seres humanos organizam a partilham a sua vida.
Os ambientes de aprendizagem têm de nos permitir experimentar e errar. Aprendemos quando podemos experimentar num ambiente seguro que não vai condenar os nossos erros. Evitar o erro é evitar a aprendizagem.
Durante os primeiros momentos em que aprendemos algo, somos capazes de nos lembrar do que aprendemos. Surpreendentemente, depois de 30 dias, devemos ter esquecido cerca de 90% do que aprendemos numa aula... e esquecemos a maior parte destes 90% durante as primeiras horas. Podemos aumentar a nossa capacidade de retenção da informação e contrariar a curva do esquecimento, simplesmente se a repetirmos em intervalos específicos e se formos sujeitos a momentos de avaliação. A distância entre estes intervalos de repetição é crucial de forma a transformar memórias de curto prazo em memórias de longo prazo.
Aprendemos através de pequenas doses. Temos uma capacidade limitada para absorver enormes quantidades de informação de uma só vez. Sabemos hoje que a aprendizagem é mais eficaz quando a nova informação é incorporada de forma gradual na nossa memória e não toda ao mesmo tempo.
Aprendemos melhor quando nos emocionamos. O mecanismo master do nosso cérebro é a emoção. Somos afinal seres emocionais que aprenderam a pensar e não máquinas pensantes que sentem. As emoções reforçam a memória. Aparentemente as memórias são gravadas de diferentes formas e em diferentes zonas do nosso cérebro dependendo se existe ou não um contexto emocional.
A forma como os seres humanos aprendem é provavelmente a maior descoberta científica dos últimos 20 anos e a que maior impacto terá no nosso futuro. O futuro passa por traduzir as evidências científicas das neurociências em novas metodologias de aprendizagem que transformem verdadeiramente os nossos cérebros e as nossas vidas. Não é isso que estamos a fazer no desenvolvimento da inteligência artificial? Por que não fazer o mesmo no desenvolvimento da inteligência humana?