Mais uma crónica sobre o videoárbitro
Há já algum tempo que não dedicava uma crónica, por inteiro, ao projecto videoárbitro (VAR). As recentes e recorrentes confusões em Portugal e as notícias que surgem do International Board (IFAB), organismo que rege as Leis do Futebol, são os motivos que me levam a debruçar, novamente, sobre o presente e futuro do VAR.
As “regras” do VAR e as regras do jogo
O famoso protocolo do videoárbitro, famoso não significa que seja efectivamente conhecido, é o documento que explana todos os detalhes do funcionamento desta nova realidade da arbitragem e do próprio jogo. O protocolo define regras e linhas orientadores para a sua implementação. Abrange questões administrativas, logísticas técnicas (audiovisuais) e, as mais discutidas, questões relacionadas com as Leis do Jogo, nomeadamente, a forma como estas se adaptam à introdução desta nova tecnologia, a introdução de novos elementos na equipa de arbitragem e a gestão técnica e disciplinar do jogo.
Podemos assumir assim que as regras do protocolo VAR fazem parte das regras do jogo. Ora, é do senso comum de justiça, que não faz sentido alterar as regras de um jogo a meio de uma competição. Nesta perspectiva, desenganem-se todos os que vão clamando por alterações, para a presente época, nas regras do VAR ou nas indicações de como este deve actuar.
O futuro do protocolo VAR
A introdução do VAR no futebol foi, ou será, uma das mais marcantes alterações que as Leis de Jogo já sofreram. A palavra “sofreram” acaba por ser aqui bem aplicada. Não há grandes mudanças que não impliquem as chamadas dores de crescimento. Os agentes do futebol e os adeptos deste apaixonante desporto há muito que pediam alterações desta envergadura que ajudassem o futebol a ser mais justo. A arbitragem tem, com o VAR, condições para errar menos. Em Portugal, e nos restantes campeonatos que se voluntariaram para esta fase de testes, existem menos erros graves dos árbitros.
Poderiam errar ainda menos? Poderiam. E deverão! Esse é o desafio a curto prazo do projecto videoárbitro: adoptar alterações, a introduzir na(s) próxima(s) época(s), que aproximem a implementação deste projecto àquilo que são as expectativas das gentes do futebol.
A versão 8 do protocolo VAR, a actual, está “construída” para ajudar a arbitragem a corrigir erros claros em situações que não envolvam subjectividade de análise. O VAR não existe, no figurino actual, para esclarecer lances duvidosos.
O futuro do VAR
O videoárbitro é presente no futebol português e será, sem margem para dúvidas, o futuro nas principais competições de todo o mundo.
Os cinco elementos que constituem o International Board estiveram reunidos esta semana, em Zurique, na sede da FIFA, a preparar o documento onde constam as propostas de alterações às Leis de Jogo para a próxima época. Estas alterações serão discutidas e, em princípio, aprovadas na reunião geral do IFAB a realizar no próximo dia 22 de Janeiro. Pouco ainda se sabe sobre este documento, mas é seguro que o videoárbitro irá ser, novamente, a grande “estrela”. O International Board e a FIFA querem ver o VAR no próximo Mundial de futebol, nas restantes principais competições de selecções e, não se prevendo que seja já obrigatório em 2018, também desejam que as principais Ligas adoptem esta nova realidade. O VAR veio para ficar e mudar a arbitragem e o futebol.
O presente do VAR
Nos próximos dias, antes da reunião geral do IFAB, o grupo de trabalho que tem gerido e acompanhado todo o processo de implementação do videoárbitro, irá divulgar dados estatísticos sobre o que tem sido a actuação do VAR nos países envolvidos nesta fase de testes. Posso adiantar que duas dessas estatísticas (globais) são que: tem sido corrigida, em média, uma decisão da equipa de arbitragem a cada três jogos e que o tempo de revisão de uma decisão tem sido reduzido de forma evidente em virtude dos árbitros estarem cada vez mais familiarizados com o sistema.
Em Portugal, a dois jogos de terminar a 17.ª jornada, já foram corrigidas/alteradas 28 decisões. Uma a cada 5,3 jogos. Os nossos árbitros estão a errar menos que a média mundial ou então, em Portugal, estamos a ser mais comedidos e conservadores nas intervenções do VAR.