Dissemos adeus a 2017, com balanços e listas do que nele aconteceu, do que vivemos com ele, das coisas boas, das coisas más, das coisas assim-assim. Porém, esses balanços e listas mais não são do que artimanhas que usamos para nos dar a ilusão de uma conclusão, de um fim. Arrumamos situações, factos, emoções nas respectivas listas, e, pronto, estão feitas as despedidas. Tudo arrumadinho, foi bom ou mau, adeus.
Só que não. Não está tudo arrumadinho porque não nos despedimos de verdade. Não daquilo que nos foi relevante. Culpa da memória. Raramente nos despedimos porque é quase impossível nos esquecermos do que nos foi (e continua a ser) importante. A despedida só é se a memória deixar de ser. E a memória não é coisa que deixe de ser de um dia para o outro.
Da mesma forma que os desejos que pedimos nesta altura de pouco nos valem para o ano que começa. Tudo o que pedimos nas passas que engolimos mais não são do que ilusões que nos obrigamos a tomar para conseguirmos lidar com as ilusões que nos são as despedidas. Desejamos isto, aquilo e aqueloutro, quando há outros istos, aquilos e aqueloutros que nos existem e que nós teimámos em (mal) arrumar.
Não pode ser o calendário a marcar o relógio que temos dentro. Não deve, não pode, deveria ser proibido haver um momento estipulado para nos despedirmos e pedir desejos. Não faz nem é, nunca é, sentido. Não é por ser 31 de Dezembro que tudo vai para o lixo, nem por ser 1 de Janeiro que tudo é comprado por estrear. Mas é o que tendemos a fazer (cortando a eito, cavando o nosso próprio fosso).
Apressamos a realidade e nem damos tempo às despedidas nem espaço aos desejos. É por isso que, nesta altura, nem umas nem outros são reais. Umas e outros são bem mais do que fazer listas e engolir passas. Dizer adeus e desejar é o que fazemos durante a vida inteira. Mas sem datas marcadas, que isso faz dela tudo, menos verdadeira.