O que é o exercício verde?

Fazer atividade física em ambientes naturais — o chamado “exercício verde” (green exercise) — traz benefícios acrescidos para a saúde e bem-estar. E pode ser parte da solução para um número crescente de problemas, quer de natureza ambiental quer de saúde pública

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Adriano Miranda

Sabemos que doenças crónicas como diabetes, obesidade ou doenças cardiovasculares, que alteram drasticamente a vida do doente, estão associadas a um estilo de vida sedentário. Por seu lado, a inatividade física está associada a alimentação de menor qualidade, a mudanças sociais como a atomização das famílias e da comunidade, a urbanização, ou a tendência para uma população mais envelhecida. Ao mesmo tempo, os ambientes naturais estão sob pressão do desenvolvimento urbano e da rede de transportes, das mudanças climatéricas e da poluição da água e do ar, entre outros fatores. É já do conhecimento comum que a atividade física faz bem à saúde e que o contacto com a natureza também. Todavia, o que a investigação recente tem demonstrado é que há um importante efeito combinado. Por exemplo, um estudo feito com mais de 20 mil australianos mostrou que os indicadores de bem-estar eram potenciados quando os praticantes de atividade física habitavam perto de ambientes verdes.

A ciência tem demonstrado que a atividade física está associada a mais tempo despendido no exterior e um maior acesso a espaços verdes. Quando há mais facilidade no acesso a ambientes naturais, os indivíduos têm três vezes mais probabilidade de vir a praticar atividade física, de sentir maior autoestima e bem-estar, e menos sentimentos de tensão, depressão, ou confusão, para além de desenvolverem maior resistência ao stresse. A experiência de espaços verdes melhora a percepção de saúde em geral, a sensação de energia ou vitalidade, e está associada a outros benefícios como a redução da prevalência de asma, a melhoria da função cognitiva e a perfis de cortisol mais saudáveis. Também são de sublinhar os benefícios sociais associados a ambientes verdes: vários estudos reportam a percepção de maior suporte social e maior sentido de comunidade entre indivíduos que habitam próximo de espaços verdes.

A mera permanência de cinco minutos na natureza tem um efeito positivo imediato na saúde mental, qualquer que seja a idade ou o sexo dos sujeitos, o tipo de ambiente natural ou a atividade realizada (caminhar, usar a bicicleta, realizar exercícios de força...). Verifica-se também que os benefícios são amplificados quando existe simultaneamente “verde” e “azul” (espaços com água), como num caminho arborizado perto de um lago. Ainda assim, recomenda-se uma dosagem adequada de “exercício verde”, programada de acordo com o contexto e condições climatéricas, com as características pessoais dos praticantes e com o tipo de exercício pretendido.

Em atividades na natureza é necessário considerar as características do terreno, o percurso, a temperatura, o clima, entre outros aspectos geofísicos. Isto exige um foco mental constante que, por sua vez, está associado a um maior empenho na atividade. Consequentemente, a atividade torna-se ainda mais desafiante para o praticante, que ao mobilizar a sua atenção para o exercício nestas circunstâncias variáveis distrai-se quer do esforço imediato, quer de problemas do seu quotidiano. Esta variabilidade na estimulação proporcionada pelo “exercício verde” pode complementar a prática de exercício em espaços interiores.

Tudo isto é reforçado quando sabemos que o tempo passado fora de casa, nomeadamente o tempo de contacto espontâneo com a natureza, tem diminuído. A era digital veio promover comportamentos sedentários em adultos e também em crianças cada vez mais novas, fixando-as aos espaços onde estão as novas tecnologias. Estudos recentes mostram um efeito de influência recíproca entre o tempo despendido em plataformas digitais pelos familiares adultos e o maior tempo passado em casa por crianças e jovens. A consequência é as crianças conviverem cada vez menos em ambientes naturais. O ambiente verde oferece um leque variado de possibilidades de brincadeira e diversão para a criança, para o aumento do seu autoconhecimento e da sua ligação com a natureza. O “exercício verde” nas crianças também é importante porque, além de contribuir para o desenvolvimento psicológico, cognitivo e motor, está associado à prática de actividade física de longo prazo.

O exercício ao ar livre não é apenas uma experiência multissensorial que expõe os indivíduos à luz do Sol (produção de vitamina D) e ao ar fresco. Os ambientes verdes convidam os indivíduos a serem ativos, conscientes, interagirem com outros e desenvolverem conexões com a natureza. Por isso é recomendável que os centros urbanos tenham uma ordenação paisagística que incorpore verde na distribuição arquitectónica de edifícios habitacionais e empresariais, de hospitais, e de espaços comunitários, promotores, entre outras coisas, de atividade física. Ou seja, o exercício verde pode influenciar a própria planificação de zonas urbanas e ser usado como um mecanismo para melhorar a saúde e bem-estar da população, para se conhecer o território e preservar os ambientes naturais. 

Duarte Araújo, professor da Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa, e presidente da Sociedade Portuguesa de Psicologia do Desporto;
Pedro Teixeira, professor da Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa, e Diretor do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física, Direção-Geral da Saúde

Os autores seguem o novo AO

 

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