Televisão: o melhor do ano
Escolhas de Joana Amaral Cardoso, Rodrigo Nogueira e Marco Vaza.
10
The Americans T5
Joe Weisberg
FOX Crime
Há séries perfeitas? Provavelmente, não, mas The Americans está muito perto disso, e continuou a um nível altíssimo na quinta temporada. Um thriller de espionagem e um drama familiar nesta história de um casal de agentes do KGB na América dos anos 1980, que tem tudo no lugar e que tem final anunciado para 2018. M.V.
9
Big Little Lies
David E. Kelley
TVSéries
O que nos escapa quando nos perdemos na contemplação da beleza? Big Little Lies é um sinal para o futuro da ficção na TV, ciente do nosso voyeurismo em torno dos cenários e rostos da abundância, capitalizadora do star power para que Nicole Kidman (no seu melhor), Reese Witherspoon, Laura Dern ou Shailene Woodley dêem a outra face sobre a violência e suas nuances. J.A.C.
8
BoJack Horseman T4
Raphael Bob-Waksberg
Netflix
Ainda não houve uma má época da série cómica animada sobre um cavalo que foi estrela de sitcom nos anos 1990 e hoje, acabado, é um misantropo alcoólico. Nunca animais antropomórficos e trocadilhos – que existem abundantemente, mas a piada nunca se cinge a eles – foram tão humanos. Nem hilariantes. R.N.
7
Mindhunter
Joe Penhall
Netflix
Já sabíamos que David Fincher tinha uma obsessão por assassinos em série e Mindhunter, que produziu para a Netflix, é mais uma prova disso. É a versão televisiva de um livro escrito por agentes do FBI que é encarado como um manual de instruções para a compreensão da psicopatia dos serial killers. Rigor histórico, densidade dramática e um constante arrepio na espinha por perceber que é (quase) tudo verdade. M.V.
6
The Deuce
David Simon & George Pelecanos
TVSéries
É o regresso de David Simon e George Pelecanos, patriarcas da ficção televisiva moderna de prestígio. Série sobre a indústria do sexo, faz-se sem estrondos – é um rumor constante de mulheres, chulos, barmen, mafiosos e polícias em Manhattan nos anos 70. Simon quis filmar o sexo sem ser sexy. Não é certo que o tenha conseguido, mas filmou a exploração. J.A.C.
5
The Handmaid’s Tale
Bruce Miller
NOS Play
O material de base é uma história incontornável de vida interior, opressão, resistência e sexismo. A adaptação televisiva é uma história de triunfo visual da realização de Reed Morano e de interpretação de Elisabeth Moss. O asfixiante romance de Margaret Atwood ergue-se sobre os ombros do zeitgeist e dos seus oito Emmys. J.A.C.
4
Rick and Morty T1+2+3
Justin Roiland & Dan Harmon
Netflix
Começou por ser uma versão animada mais ou menos assumida de Regresso ao Futuro, três temporadas depois é muito mais que isso. Comédia densa, cínica, pessimista, desconfortável, mirabolante e anárquica, que, ao mesmo tempo, é um desfile de referências pop e um retrato da família mais disfuncional deste e de outros universos. O único problema? Não sabemos quando (ou se) haverá mais. M.V.
3
The Good Place T1+2
Mike Schur
Netflix
Ted Danson voltar à televisão seria por si digno de nota, mas o que há à volta nesta meticulosamente planeada comédia de Michael Schur é uma maravilha. A série partilha ADN com Parks and Recreation, mas viaja para novos territórios – nomeadamente, o Além – e lida com o que é ou não ser boa pessoa. R.N.
2
Master of None T2
Aziz Ansari & Alan Yang
Netflix
Nesta série, preocupações sociais e amorosas contemporâneas, religião, família ou assédio (antes do caso Weinstein), são vistas com humanidade e piada. As tangentes são ainda mais importantes, como o episódio sobre os nova-iorquinos que raramente têm destaque (porteiros, taxistas), ou o belíssimo Thanksgiving, de Lena Waithe, sobre uma mulher negra lésbica a assumir-se perante a mãe ao longo dos anos. Há pouca TV assim. R.N.
1
Twin Peaks: The Return
David Lynch & Mark Frost
Tv Séries
Nos anos 1990 Twin Peaks pôs o ADN e a mente ilimitada de um cineasta na TV. Em 2017 voltou, um filme disfarçado de série ou uma série transmutada em imagens cinematográficas indeléveis num pequeno ecrã que para sempre tinha sido mudado por... Twin Peaks. Podia acontecer outra vez? The Return foram 18 horas servidas por David Lynch, Mark Frost e Kyle MacLachlan como um gesto que ultrapassou o ambiente televisivo – e a atmosfera terrestre. Este regresso foi uma reunião, emotiva e com todas as notas de uma canção nostálgica Into the night, mas também a prova de que ainda pode fazer-se algo diferente numa televisão sobrelotada e aparentemente dada à experimentação. Twin Peaks é deliciosamente imperfeita e talvez não seja para todos, mas a sua ambição e potencial influência deveriam ser. Não sendo um produto tão popular quanto a televisão em si promete ser, é o sinal de liberdade que pode acelerar uma indústria criativa. Uma história de polícias e ladrões com laivos sobrenaturais elevou-se a feito ontológico, a statement sobre a origem do mal - e sobre como o linear “fazer sentido” é sobrevalorizado. David Bowie numa chaleira? O que aconteceu aqui? J.A.C.