A Leste da Sé de Braga com cozinha moderna e alternativa
Diverge da oferta tradicional com propostas que não escondem o gosto pela cozinha e produtos com origem italiana. Também o ambiente elegante e intimista ajudam a boa boca.
Nem só por estar a Leste da Sé e da zona histórica o Boa Boca se distancia da tradição da mais reputada restauração bracarense. A vontade de romper com aquilo que é tradicional nesta área na cidade parece até constituir uma espécie de marca de identidade deste restaurante de ar moderno, ambiente acolhedor e a tender para o intimista. Também a cozinha se afasta do guião tradicional regional, propondo pratos cuja inspiração não esconde o gosto pela cozinha e produtos com origem italiana.
É nas imediações do Conservatório Calouste Gulbenkien, num dos bairros modernos da área nascente, que está o restaurante. Piso térreo do edifício rebaixado em relação à rua, com esplanada resguardada a contornar a construção e, em tempo apropriado, a proporcionar confortável e prazeroso enquadramento.
A sala tem amplas paredes de vidro, com toda a disposição e decoração a procurar um enquadramento de conforto e intimidade caseira. Nas paredes encaixam-se livros e as achas para a lareira (que não há) e também um piano que parece ter apenas funcionalidade igualmente decorativa. Das estantes às mesas, há sempre umas maçãs verdes que, a não ser superstição, será fetiche da casa.
Sem paredes internas, foi criada à entrada uma espécie de bar/antessala, com balcão, estante com vinhos, algumas revistas e outras curiosidades a compor o ambiente de apelo gastronómico. A cozinha, aberta à sala, alinha-se na outra ponta do espaço.
Cadeiras de braços confortáveis, amesendação elegante com toalhas e guardanapos em algodão branco. Ao almoço há um menu executivo (couvert, sopa, prato, bebida e café — 7,60€) pelo que é maioritariamente ao jantar que se aplica a carta.
Assim foi com a Fugas, em noite de fim-de-semana. Marcação antecipada, sala repleta nos seus cerca de 40 lugares e com algumas mesas a receberem um segundo turno. Há procura!
Luz difusa a incidir apenas sobre as mesas, onde igualmente brilha a chama trémula de uma vela a iluminar a maçã verde. A lista apoia-se numa variedade de entradas/finger food, pastas e sobremesas, em parceria com mais resumidas propostas de carne e apenas uma de peixe.
Pãezinhos quentes, azeitonas temperadas, azeite com vinagre balsâmico. Em tamanho generoso o cogumelo Portobelo recheado com queijo (5,80€), rodelinha de salame (que também passou pela chapa), alface, finas fatias de pêra rocha e molho balsâmico. Efeito de frescura e elegância em combinação acertada e saborosa. Igualmente em dose abundante o carpaccio de carne (7,60€) em lâminas tenras, sápidas e rosadas, acompanhadas por lascas de queijo italiano (Pecorino?) e umas tostinhas de pão frito. Elegante e de belo efeito, a conjugar com equilíbrio sabor, textura e crocância.
Também na lista de entradas, os mexilhões na caçarola (13,60€) podem funcionar já como prato de substância, tanto pela quantidade como pela preparação. Mesmo não sendo nesta altura o produto da melhor qualidade, envolve-os um molho com cebola e tomate e um perfume fresco de orégãos que faz brilhar o preparado. Junte-se-lhe, por exemplo, um bom esparguete e temos prato a sério.
Nos peixes, os robalinhos em tempura (12,20€) não deixavam alternativa e portaram-se a contento. Peixe filetado em dois, de fritura correcta e bem escorrida, numa apresentação cuidada na companhia de arroz basmati e frutos tropicais. Abacate, manga e kiwi cortados em brunesa, com a frescura e sabores tropicais em balanço saboroso com a fritura do peixe e tempura. Destoou o arroz, já sem o aroma quente (confecção antecipada), mesmo assim sem comprometer.
Correcto também o rosbife (16,60€), que acompanhou com esparregado de grelos e um puré que parecia ser de batata-doce. Carne macia, rosada, suculenta e de corte impecável, a dar conta da qualidade do produto, e um molho equilibrado e especiado (pimentas, cravinho) que se mostrou guloso e apetecível.
Provou-se também o filet mignon (15,80€), igualmente a evidenciar a qualidade da carne e correcta confecção. A carne é laminada, regada com molho pesto e acompanha com brócolos salteados e batata assada a compor um prato com boa apresentação.
Nas sobremesas, a opções foram para a tarte de lima (4,40€), tiramisu (4,80€) e um coullant de chocolate (4,80€), numa oferta variada e a comprovar a vontade de andar a leste da oferta tradicional.
Num contexto alternativo, a cozinha bebe toda a inspiração no conceito e produtos italianos e, sem deslumbrar, a execução é correcta e cuidadosa, os pratos bem montados e apresentados de forma apelativa. Nos produtos, realce para a escolha das carnes, que claramente se destacam pela sua qualidade.
Critério também na carta de vinhos, com opções diversificadas — bebeu-se o excelente espumante Quinta das Bágeiras Rosé, e o Quinta do Mouro Tinto —, a preços amigáveis e abrangência regional, pelo que mal se entende a falta de copos. Apenas as flûte para o espumante e um corpo largo em vidro grosso, que pode servir para água ou gin mas que maltrata os vinhos. E, no contexto de cuidado e elegância que a casa mostra, a falha menos se entende.
Mesmo que nem sempre esclarecido, o serviço compensa com a simpatia e diligência e faz também com que apeteça voltar a este restaurante divergente da velha Bracara Augusta. Mesmo que não seja ainda tempo de desfrutar da esplanada.