Ingovernabilidade à vista na Catalunha pós-eleições com vitória do Cidadãos

Na campanha mais estranha de que há memória, com dirigentes detidos e auto-exilados, ganha a participação e os independentistas estão perto de perder a maioria.

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Inés Arrimadas, a líder do Cidadãos na Catalunha, em campanha Albert Gea/REUTERS

Nas eleições mais extraordinárias que a Catalunha já viveu, as sondagens valem o que valem e servirão mais do que tudo para mobilizar a pequena fatia do eleitorado que não se decidiu já a votar – mais de 80% diz que vai às urnas. A uma semana da votação, o Cidadãos (C’s) tem mais intenções de voto que a Esquerda Republicana ERC) e todo o chamado bloco constitucionalista sobe e soma mais votos do que os independentistas. Mas estes mantêm uma vantagem de um a dois deputados no parlamento autonómico.

Já se antecipava que o próximo parlamento seria pelo menos tão dividido como o da legislatura que acabou em drama – o presidente destituído declarou a independência depois de um referendo inconstitucional e o Governo de Mariano Rajoy aplicou pela primeira vez o artigo 155 da Constituição, destituindo a assembleia eleita e demitindo a Generalitat.

Parte do executivo exilou-se em Bruxelas, incluindo Carles Puigdemont, outros ficaram e foram detidos – na prisão permanecem o ex-vice de Puigi, Oriol Junqueras, cabeça de lista da ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), e Joaquim Forn, antigo conselheiro do Interior.

E é assim que Puigdemont encabeça uma lista, a Juntos pela Catalunha, a partir do estrangeiro, com o seu “número dois”, Jordi Sànchez, ex-presidente da Associação Nacional Catalã, detido em Espanha. O conjunto do ex-governo é acusado de “rebelião, sedição e desvio de fundos”. Jordi de “sedição” por causa de um protesto que mobilizou com a Òmnium a 20 de Setembro.

O partido fundado para combater o soberanismo, o Cidadãos, cresce agora em muitas zonas onde quase não tinha representação, incluindo Girona e Tarragona. Segundo a última sondagem da Metroscopia para o jornal El País, a lista liderada por Inés Arrimadas aproxima-se da vitória tanto em votos como em lugares. Assim, somando os eleitores do C’s, os do PP e os do PS, chega-se aos 44,9%, enquanto o conjunto das listas independentistas (Juntos pela Catalunha, ERC e CUP) se fica pelos 43,8%, apesar de elegerem mais um a dois deputados.

Sem que nenhum bloco alcance a maioria, todos se viram para o único partido capaz de funcionar como árbitro, o Catalunya en Comú, de Xavier Domènech e Ada Colau (autarca de Barcelona), apoiado pelo Podemos, que pode obter 9,3% dos votos e manter os seus onze deputados.

Desdobrando os blocos, o C’s venceria com 25,2% e 35 a 36 deputados – mais dez do que na legislatura interrompida, com o partido a capitalizar quase todo o voto de protesto contra o processo independentista. A ERC, que começou por liderar os inquéritos, desce, somando 23,1% e 33 lugares – com Junqueras detido, a campanha tem sido liderada por Marta Rovira.

Sete dias

Em terceiro, surge Juntos pela Catalunha, a nova marca do PDeCAT, que governava com a ERC, com 22 deputados e 14,3% – ao contrário de outras sondagens, , esta não indica que Puigdemont rentabilize o exílio em Bruxelas. Logo a seguir vêm os socialistas catalães de Miquel Iceta, que crescem para 20 lugares e os mesmos votos que a coligação de Puigdemont. Iceta já disse e desdisse que apoiará um governo liderado por Arrimadas.

Bem mais abaixo aparecem a CUP (Candidatura de Unidade Popular, à esquerda da ERC), com 6,4% e oito dos dez deputados de 2015; e o PP, com 5,4% e cinco a seis dos onze deputados que elegeram em 2015, já o seu pior resultado de sempre na Catalunha.

Com a actual dinâmica de blocos, em que independentistas só investem independentistas e os anti-soberanistas não conversam com os primeiros, nem uns nem outros conseguirão governar. A maioria absoluta obtém-se com 68 deputados: os independentistas têm agora 63, os constitucionalistas 61. Acrescenta-se a este cenário que o Catalunya en Comú recusa apoiar um governo que defenda a independência unilateral ou um em que estejam C’s ou PP.

Faltam sete dias, tempo para surpresas que ninguém sabe antecipar. Da coligação de Puigdemont, por exemplo, há apelos para o seu regresso ainda durante a campanha.

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