O burel de hoje é feito em teares do passado: há uma nova loja em Lisboa

A empresa Burel Mountain Originals tem uma fábrica-museu, quatro lojas e um hotel.

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Baleia de Companhia "What a Waste" da autoria de Ana Baleia DR
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Mantas em Burel DR
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Shapes "What a Waste", uma espécie de Tangram criado pela designer Ana Baleia DR
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Mantas, revestimento, puff e almofada em burel DR
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Colar "What a Waste" da Ana Baleia DR
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Burel ponto 3D DR
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Revestimento da Microsoft DR
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Burel ponto 3D DR
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Tapete "What a Waste" da designer Ana Baleia DR
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Tapete "What a Waste" no tear em Odemira DR

Em tempos, quem usava o burel eram as pessoas com menos possibilidades. Entusiasmados com o desafio de mudar a conotação deste tecido fabricado em plena Serra da Estrela, Isabel Costa e João Tomás decidiram dar-lhe um design actual para fazer renascer a tradição beirã. Nesta quinta-feira inauguram a sua quarta loja, a segunda em Lisboa. 

Em 2010, escondida no coração de Manteigas, na Guarda, a antiga fábrica Lanifícios Império, foi encontrada em ruínas pelo casal. Depois de decidirem recuperá-la e de receberem propostas de designers, Isabel Costa e João Tomás, expuseram alguns produtos numa pequena loja em Lisboa. Foi assim que nasceu a marca Burel Mountain Originals, conta Romeu Lebres, responsável pelo marketing e a comunicação da marca. “Na altura, quase ninguém conhecia o burel nem as suas versatilidades. Mas a iniciativa acabou por correr bem.”

O burel “é a lã da ovelha bordaleira transformada num tecido extremamente forte que não perde a cor, nem a forma, o que lhe dá uma grande versatilidade”, define o responsável. Ainda com os mesmos teares que a viram nascer em 1947, a Lanifícios Império, ganhou “uma nova imagem, com produtos redesenhados pela actualidade” e com um novo nome. A lã é enviada pelos pastores em fardos de 200 quilos e chega à Burel Factory já lavada. É aqui que é transformada, passando pelos processos de cardagem, fiação, tecelagem e ultimação. “Fazemos questão que a lã seja transformada pela maquinaria ancestral que acaba por dar uma alma diferente ao produto. Este conta uma história, na fábrica tece-se o futuro com fios do passado”, define Romeu Lebres.

A lã é transformada em produtos variados, desde roupa, calçado e acessórios, passando por almofadas, mantas, bancos e puffs. A última utilidade proposta está associada à área da arquitectura e do design de interiores. A empresa ocupou recentemente uma loja, na rua do Ferragial, em Lisboa, onde vai disponibilizar, a partir desta quinta-feira, 7 de Dezembro, artigos de decoração e revestimento. A utilização do burel para revestimento está associada ao facto deste ser um “excelente isolante acústico, um bom isolante térmico e de fácil manutenção”, justifica o responsável pelo marketing.

Além da nova loja, a empresa tem outras três abertas. Uma no Chiado, em Lisboa, outra perto de São Bento, no Porto, e ainda um terceiro espaço em Manteigas, no mesmo edifício da fábrica, que é também uma fábrica-museu. No resto do mundo, o burel é levado por distribuidores. 

Na Burel Factory nasceu um tecido que é trabalhado e que foi dado o nome de pontos 3D. Este é feito à mão e começou por ser usado para revestir pequenas superfícies, como por exemplo, o assento de um banco, mas quer arquitectos como engenheiros começaram a imaginar outras utilidades para aquele e, pouco depois, já havia paredes na Microsoft, Deloitte, Nokia e em vários hotéis em Portugal revestidas com este material. Outro best-seller da marca é a Mantecas, que começaram por ser mantas, mas hoje são também almofadas, echarpes e cachecóis de pura lã da Serra da Estrela. 

“É tudo feito por mestres, ou seja pessoas que não se profissionalizaram em nenhuma escola e que herdaram o saber das gerações anteriores”, explica Romeu Lebres. Os padrões das mantas, bem como das restantes peças, são criados na totalidade pela Burel Mountain Originals. “Alguns são recuperados de livros antigos da Lanifícios Império, aos quais se atribuíram cores contemporâneas, outros são desenhados pelo director da fábrica, o mestre José Luís Abrantes”, acrescenta.

“Tudo o que existe pode ser personalizado e único. Como somos nós que fazemos e como são feitos à mão, podem escolher-se tamanhos, cores, padrões, etc.. Neste momento, temos umas botas em burel à venda numa cor que saiu por acidente. Foi uma cor feita de desperdícios de lã”, exemplifica.

Produções anti-desperdício

A marca tem ainda tentado aliar-se “à criatividade dos melhores designers portugueses”, entre os quais Ana Baleia, que desenvolveu o projecto What a Waste, onde aproveita os desperdícios da fábrica para fazer peças diferentes. “Eu já conhecia a história do burel, já conhecia o tecido. Há cerca de um ano e meio, quando percebi que o burel estava a ser novamente recuperado e que estavam a reactivar as fábricas, propus à marca uma parceria”, conta a designer. 

“Sou do Alentejo, onde conheci uma tecelã que me mostrou o desperdício resultante da criação de outras peças, neste caso chamado ourelas”, explica, acrescentando que todas as mantas confeccionadas em teares deixam este pedaço de tecido que acaba por ser deitado ao lixo.

Para que o fim desses pedaços de tecido não fosse esse, Ana Baleia começou, com a ajuda de uma tecelã de Odemira e de um tear criado para o efeito, a fazer tapetes. Mais tarde, fruto da parceria com a Burel Mountain Originals, começou a criar outras peças como a baleia de companhia e colares. Há ainda a possibilidade de comprar as shapes, cuja criadora explicou que são pedaços de tecido com formas geométricas “para as pessoas usarem por exemplo em trabalhos manuais ou para brincar, uma vez que funcionam como uma espécie de Tangram”.

Todos estes produtos estão à venda nas lojas da marca. “O tema anti-desperdício e as questões ambientais sempre me interessaram. Acabaram por me ajudar na parte criativa, já que gosto de trabalhar materiais que tenham uma história. Interessa-me mais do que se me dessem um rolo de burel novo”, remata.

Além da produção de burel, a empresa soma ainda dois hotéis em pleno Parque Natural da Serra da Estrela: a Casa das Penhas Douradas Design Hotel e Spa, situado a 1500 metros de altitude; e a Pousada de São Lourenço, sem data de abertura marcada.

A empresa é ainda detentora de alguns prémios, como é o caso do prémio de melhor produto, ganho o ano passado, na Bienal de Design Ibero-americana, em Madrid. A peça premiada foi a mochila capuz que pode ser encontrada no site da marca.

Texto editado por Bárbara Wong

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