Trump: Uma questão de princípios
Eles dirão que é uma questão de princípios: “Nós é que decidimos quem é autorizado a entrar no nosso país. A abordagem na Declaração de Nova Iorque não é compatível com a soberania dos EUA.” Um disparate. Ora não fosse a Declaração de Nova Iorque uma enunciação vaga de intenções, uma “desilusão” para todas as ONG que trabalham com refugiados e imigrantes, o mínimo dos mínimos que saiu do primeiro encontro que as Nações Unidas dedicaram ao tema desde a sua fundação.
Um disparate. A dita declaração não decide nada pelos EUA, não obriga nenhum país a receber determinado número de pessoas ou a cumprir quaisquer objectivos concretos. A versão final terá envergonhado o seu promotor, Ban Ki-moon.
Abandonar este pacto pode ser casmurrice, teimosia. Uma insistência incontrolável em rasgar tudo o que Barack Obama assinou, neste caso, um documento que não deixou nenhum dos signatários de consciência tranquila por estar a portar-se decentemente face aos mais de 65 milhões de refugiados e deslocados que então havia no mundo. Demasiado tarde e demasiado pouco para se considerar digno.
Às tantas, é mesmo uma questão de princípios. Nós, país que bombardeia na Síria, no Iémen ou no Níger, nós, país que ao invadirmos o Iraque desatámos a loucura actual no Médio Oriente, não queremos saber das consequências de nada disto para as pessoas.
Aliás, nós já impedimos pessoas de cruzar as nossas fronteiras com base na sua origem ou religião. Nós, que já fomos ou quisemos ser farol, queremos agora rasgar tudo em que poderíamos servir de bom exemplo, por mais pequeno que fosse o impacto. Às tantas, é só uma maneira de dizer, uma vez mais: nós não nos movemos por princípios.