Investigadores e precários
A estagnação dos quadros de docentes repercute-se naturalmente na qualidade e actualidade do ensino e do que se ensina.
Ser jovem e ser precário é quase uma fatalidade. Ser jovem, doutorado e investigador numa universidade é uma outra expressão da precariedade. Um estudo da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência traça um retrato do lugar que os cientistas mais jovens ocupam na academia. É praticamente impossível a um jovem bolseiro seguir uma carreira na docência: somente 11% dos investigadores com idade inferior a 30 anos lecciona, e destes apenas 1% foi integrado nos quadros das respectivas instituições. Quanto mais jovens são os investigadores menor é a sua probabilidade de serem docentes, quanto mais velhos são os professores mais alta é a probabilidade de serem investigadores.
O estudo não o diz, mas não é difícil imaginar que a esmagadora maioria seja composta por bolseiros e outros cientistas com vínculos precários. O que não é, propriamente, uma surpresa. Em 2011, num estudo da OCDE, Portugal já surgia como o segundo país com o maior número de doutorados em contratos temporários. As situações de precariedade levaram o actual Governo a publicar um diploma, que aguarda regulamentação, com o qual pretende transformar cerca de 3000 bolsas de investigação em contratos de trabalho.
Mas neste binómio entre investigação e docência há que ressalvar o seguinte. A estagnação dos quadros de docentes repercute-se naturalmente na qualidade e actualidade do ensino e do que se ensina, e os investigadores mais jovens poderiam ter aqui um papel importante. A progressão na carreira dos docentes no quadro é uma possibilidade meramente teórica. Se uns ainda quase não têm carreira, os outros têm-na estagnada. Sob a pressão do currículo, a pensar na abertura de um concurso, aos docentes de hoje é exigido que ensinem, investiguem, orientem estágios e teses de mestrado ou doutoramento, publiquem ou desempenhem tarefas de gestão universitária. Docência e investigação nas universidades portuguesas não são carreiras separadas, como acontece em outros países europeus, o que faz com que ensinar e investigar seja uma sobrecarga para quem acumula as duas tarefas. Estas contratações, ao abrigo do diploma de emprego científico, vão aumentar o número de investigadores com vínculo definido às universidades. O que é bom. Mas de que forma é que isso se irá traduzir na renovação da docência e da melhoria da investigação? Terão as universidades de alterar a forma como se organizam? Veremos.