Trump poderá ter admitido um crime de obstrução de justiça
Presidente dos EUA escreveu no Twitter que tinha despedido Michael Flynn em Fevereiro por este ter mentido ao FBI. É uma versão nova dos acontecimentos, que coloca ainda mais em questão o pedido que Trump terá feito ao então director do FBI, James Comey, para encerrar a investigação a Flynn.
O Presidente norte-americano Donald Trump escreveu este sábado na rede social Twitter que despediu o seu antigo conselheiro de segurança nacional, Michael Flynn, “porque ele mentiu ao vice-Presidente e ao FBI”. É a primeira vez que Trump relaciona o afastamento de Flynn com o crime de que este se declarou culpado, na sexta-feira, ao chegar a um acordo com as autoridades no âmbito da investigação que decorre sobre as suspeitas de interferência da Rússia nas eleições norte-americanas de 2016. Antes, Trump justificava o afastamento de Flynn apenas com o facto de este ter omitido informação ao vice-presidente Mike Pence.
Flynn enfrenta até cinco anos de cadeia por ter prestado falsas declarações ao FBI sobre contactos que manteve no final de 2016 com o então embaixador russo em Washington, Sergey Kislyak. O general declarou-se culpado e evitará acusações de outros possíveis crimes. Em troca, Flynn está pronto a testemunhar contra elementos da equipa de transição presidencial de Trump que terão pedido ao militar para estabelecer contacto com o governo russo – em causa, aqui, está um crime de violação da lei Logan, que proíbe expressamente que indivíduos fora do Governo encetem relações diplomáticas com outros países (Barack Obama ainda estava em funções à data dos factos sob investigação).
Com o tweet deste sábado, e num momento em que a situação legal de vários elementos da Administração Trump já era suficientemente delicada, há quem considere que o actual Presidente pode ter cometido um erro e ter admitido inadvertidamente um possível crime de obstrução de justiça. Isto porque, ao revelar ter tido conhecimento logo em Fevereiro de que Flynn tinha mentido ao FBI, Trump não poderia ter solicitado ao então director do FBI, James Comey, que encerrasse uma investigação ao recém-demitido conselheiro de segurança nacional. Esse pedido foi revelado mais tarde por Comey, perante o Senado norte-americano e através de uma fonte junto da imprensa, depois de ter sido despedido por Trump.
Como notava este sábado o The New York Times, “não é claro o que o Presidente quer dizer” com o seu tweet. Ao mesmo tempo, Trump afirma que as acções de Flynn “durante a transição foram legais” e que “não havia nada a esconder”. “Não há conluio”, voltou a dizer Trump este sábado sobre as suspeitas de interferência russa. No entanto, o mesmo jornal noticiava hoje a existência de e-mails que mostram que o tema das conversas entre Flynn e o embaixador russo era também discutido no interior da equipa de transição presidencial de Trump, o que sugere algum nível de concertação entre o general e o círculo mais próximo do republicano.
Ao Washington Post, o advogado pessoal de Trump, John Dowd, diz não haver qualquer contradição entre esta nova versão da narrativa do Presidente expressa no tweet deste sábado, e que este apenas se limitou a citar um comunicado do advogado da Casa Branca Ty Cobb.
Entretanto, e ao contrário do que a televisão norte-americana ABC começou por noticiar na sexta-feira (e que o PÚBLICO citou nesse dia), Trump não será o “alto responsável da equipa de transição” que terá mandatado Flynn para chegar à fala com Moscovo antes de Obama deixar a Casa Branca. O jornalista que avançou a notícia, Brian Ross, foi suspenso pelo canal. A imprensa norte-americana aponta agora outro nome sob suspeita de violação da lei Logan: o de Jared Kushner, genro e conselheiro de Trump.
O sábado fica ainda marcado por outro desenvolvimento neste caso. O New York Times noticiou hoje que, durante o Verão, o procurador especial Robert Mueller afastou um dos seus investigadores, Peter Strzok, um agente do FBI, depois de ter descoberto que este tinha enviado mensagens de telemóvel críticas em relação a Trump. Em causa estava a percepção de imparcialidade do investigador, que trabalhava no caso da interferência eleitoral russa e no processo relativo ao servidor privado de e-mails da democrata Hillary Clinton. Strzok foi despromovido a uma função administrativa no departamento de recursos humanos do FBI.