Belmiro de Azevedo e um jornal livre, maior elogio não pode haver
Pela qualidade da obra que o PÚBLICO é se vê também a exigência do seu fundador.
Por ser cronista do PÚBLICO, pode dizer-se que trabalho para uma empresa de Belmiro de Azevedo há talvez uma década. E, no entanto, nunca sobre ele escrevi, e por uma razão simples: nunca o conheci e nunca a presença dele se fez sentir sobre a liberdade de pensamento e expressão de qualquer dos seus cronistas e, tanto quanto sei, jornalistas.
Além de um empresário central para a economia do nosso país nas últimas décadas, além de muitas outras facetas sobre as quais outros escreverão muito melhor do que eu sei e posso, vale a pena lembrar uma coisa que tenho visto pouco mencionada nas primeiras reações à sua morte: Belmiro de Azevedo fundou e financiou o PÚBLICO porque, como disse uma vez, o PÚBLICO era o jornal que não existia em Portugal e que ele gostaria de ler. E um país não é um país a sério nem uma democracia madura sem jornais de referência. Pela qualidade da obra que o PÚBLICO é se vê também a exigência do seu fundador. Belmiro de Azevedo quis — muitas vezes perdendo dinheiro e nunca condicionando o seu conteúdo — que Portugal tivesse um jornal tão bom como os de países com muito mais leitores, dinheiro e poder. Desde logo por isso lhe estou grato em primeiro lugar como cidadão, em segundo lugar como leitor, e só depois como cronista sempre livre no jornal que era também dele, sem nunca notar que ele era o dono. Penso que maior elogio não pode haver.