Cimeira UE-África arranca com proposta para um novo Plano Marshall
Realizada pela primeira vez na África subsaariana, o encontro entre cerca de 80 chefes de Estado e de Governo, incluindo o primeiro-ministro português, decorre quarta e quinta-feira na capital económica da Costa do Marfim, Abidjan.
O lançamento de um Plano Marshall para África e a criação de um programa de Erasmus para jovens empreendedores são algumas das propostas lançadas nas vésperas da quinta cimeira entre a União Europeia e a União Africana.
Realizada pela primeira vez na África subsaariana, o encontro entre cerca de 80 chefes de Estado e de Governo, incluindo o primeiro-ministro português, decorre quarta e quinta-feira na capital económica da Costa do Marfim, Abidjan.
Na semana passada, num conjunto de conferências e encontros de lançamento da cimeira, o presidente do Parlamento Europeu defendeu a implementação de "um verdadeiro Plano Marshall", numa alusão ao programa de recuperação económica da Europa desenvolvido pelos Estados Unidos no final da segunda guerra mundial.
"Devemos apoiar os esforços que os africanos estão a levar a cabo para estabelecer uma base de produção sustentável e desenvolver uma agricultura eficaz, fontes de energias renováveis e água, energia, mobilidade e infra-estruturas logísticas e digitais adequadas", sustentou.
Com um 'Plano Marshall' para o continente africano, a Europa poderia "fortalecer a boa governação e o Estado de direito, melhorar a luta contra a corrupção e ajudar a emancipação das mulheres e educação".
O plano de investimentos externos da UE prevê um investimento de 3,4 mil milhões de euros em África, mas a Alta Representante para os Assuntos Externos, Federica Mogherini, mostrou-se esperançada que este instrumento possa alavancar investimentos privados na ordem dos 44 mil milhões de euros em cinco áreas prioritárias.
"Energia sustentável e conectividade" tem como objectivo atrair investimento na eficiência energética e nas energias limpas, havendo outra 'janela' para micro, pequenas e médias empresas, que são o maior empregador em África e nos países vizinhos da UE.
"Agricultura sustentável", "cidades sustentáveis" e "desenvolvimento pelo digital" são também áreas "cruciais" em que Bruxelas quer captar investimento privado.
À Lusa, o presidente do Banco Africano de Desenvolvimento afirmou que o continente precisa de 1 bilião de dólares até 2025 para cumprir as cinco metas de desenvolvimento conhecidas como High 5.
"Precisamos de investimentos maiores e mais rápidos. Para o 'High 5' ter sucesso, por exemplo, é preciso 1 bilião de dólares em investimentos privados entre 2016 e 2025", disse Adesina à Lusa, salientando que "há uma necessidade urgente de co-investimentos do sector privado e de co-financiamento mais rápido para a integração regional".
O olhar europeu para África não é apenas de ajuda aos países menos desenvolvidos, e não deve ficar preso ao olhar "datado do século passado de ajuda entre doador e receptor", considerou Mogherini, defendendo que "tudo o que acontece em África tem um impacto directo na Europa".
Para a UE, a cimeira da próxima semana, que marca dez anos de parceria entre os dois blocos, está a ser encarada como um ponto de viragem, cujo ponto de partida é a vertente demográfica: em 2050, África terá o mesmo número de pessoas que tem hoje a Índia e a China juntas, e mais de metade da população terá menos de 25 anos.
A quinta cimeira UE/África decorre entre 29 e 30 de Novembro em Abidjan, a capital económica da Costa do Marfim, com o tema 'Investir na Juventude para um futuro sustentável', e será presidida pelos presidentes dos dos blocos, Donald Tusk e Alpha Condé.
A primeira cimeira UE-África, que se realizou no Cairo, no Egipto, em 2000, foi promovida por Portugal, durante a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.
Em 2007, novamente sob a égide da presidência portuguesa, Lisboa acolheu a segunda edição destas cimeiras.