Um SNS mais próximo da atividade física?

Sim. Médicos e enfermeiros a avaliar o nível de atividade física dos utentes. Ferramentas digitais para facilitar o seu aconselhamento e monitorização. Consultas multidisciplinares para quem precisa. E boa articulação com os promotores de exercício físico na comunidade. Já começou!

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Um relatório recente da Organização Mundial de Saúde concluiu que os melhores investimentos (“best buys”) que os países podem fazer para prevenir e reduzir doenças como a diabetes, obesidade, doenças cárdio-cerebrovasculares ou o cancro passam por campanhas para aumentar a literacia e a motivação dos cidadãos para a atividade física, e pela sua promoção através dos sistemas de saúde. Ambas as estratégias são atualmente prioritárias em Portugal e aqui mostramos como o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está a alterar procedimentos, e a avaliar o que deve ser alterado no futuro próximo, para atingir a meta de aumentar os níveis de atividade física dos cidadãos utilizadores.   

Como estabelecido no despacho 8932 de 10 de outubro de 2017 pelo Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, serão implementados, em 2018, vários projetos-piloto com vista à promoção da atividade física em Unidades de Saúde do SNS. Serão testados elementos como a avaliação do nível de atividade física e o seu aconselhamento breve na consulta de rotina (do médico de família ou especialista hospitalar); consultas especializadas de promoção de exercício e atividade física para a referenciação de utentes prioritários; formação dos profissionais de saúde na área da atividade física; e disponibilização de novas ferramentas digitais (ver infografia).

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Para todos os utentes, mas especialmente para aqueles que, sendo prioritários (ex. com diabetes ou obesidade), estão menos motivados para a prática, a mudança comportamental representa um dos desafios mais difíceis. Assim, os profissionais envolvidos nestes projetos irão também ser preparados para aplicar métodos e técnicas de modificação comportamental, como a Entrevista Motivacional, um modelo de intervenção recomendado por ser baseado na teoria e na evidência.

A atividade física é quase sempre realizada fora das Unidades de Saúde. Assim, um outro elemento decisivo será uma boa articulação entre as Unidades de Saúde e as instituições locais, como as autarquias, associações desportivas e escolas, entre outras. Serão testados vários modelos de ligação entre o SNS e os serviços e programas na comunidade com vista a um encaminhamento dos utentes em condições de elevada confiança, processo onde os profissionais de exercício mais habilitados terão certamente um papel decisivo.

De facto, um aspeto orientador de todo o modelo é a distinção entre o aconselhamento de atividade física e a prescrição de programas de exercício (ver caixa). A Organização Mundial de Saúde recomenda que o aconselhamento da atividade física deve ser feito por todos os profissionais e para todos os utentes. Já a prescrição de um programa de exercício físico é tipicamente realizada por um profissional especializado em fisiologia do exercício e é uma prática individualizada em função das características de cada pessoa (ver caixa). O modelo agora proposto contempla estas duas dimensões da promoção da atividade física, a par da redução dos comportamentos sedentários.

A atividade física é um sinal de vitalidade. E por isso é hoje considerada como um “sinal vital da saúde” agora facilmente acessível aos profissionais de saúde através de novos sistemas de informação no SNS. A prevenção é sempre, e em todas as áreas, uma matéria interdisciplinar e de todos, incluindo dos cidadãos! Daí que seja fundamental a promoção da sua literacia em saúde, como é objetivo do Projeto SNS+ Proximidade, que também inclui a literacia digital. Temos hoje smartphones e Apps para registar o exercício ou o número de passos, podemos transportar música para uma corrida, e usar aplicações informáticas para acompanhar o treino. É absolutamente indissociável o digital e o móvel.

Ferramentas digitais como o portal SNS e Área do Cidadão vão também permitir estabelecer planos individuais de cuidados onde o exercício e a atividade física são fundamentais. Com utilitários como a App MySNS Carteira vai ser possível acompanhar e conhecer melhor a atividade física que o cidadão queira partilhar com o SNS. E com a prescrição electrónica de recomendações de atividade física vai ser possível aproximar os profissionais e o cidadão, num esforço conjunto em benefício da saúde pública. No mundo real e no mundo digital.

Pedro Teixeira, professor da Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa
Henrique Martins, presidente do Conselho de Administração da SPMS - Serviços Partilhados do Ministério da Saúde

Os autores seguem o Acordo Ortográfico. A rubrica Atividade Física é da responsabilidade do Programa Nacional de Promoção da Atividade Física da Direcção-Geral de Saúde

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