Príncipe Harry: de rock star a jóia da coroa
O filho mais novo de Diana e Carlos tem ocupado um papel cada vez mais preponderante na vida pública da família real britânica. O noivado com a actriz americana Meghan Markle parece iminente.
Por estes dias não é raro ver o príncipe Harry ao lado do irmão e da cunhada, William e Kate, num qualquer acto organizado pelo Palácio de Kensington. Desde o final da sua carreira militar de dez anos, o filho mais novo de Diana e Carlos tem assumido um papel mais activo na sociedade. Do adolescente rebelde passou a militar respeitado e, hoje, é um defensor de causas como a saúde mental ou os cuidados de saúde dos veteranos de guerra. Os fãs mais fervorosos da família real britânica há semanas que esperam o anúncio do noivado de Harry com a actriz norte-americana e mulher divorciada Meghan Markle.
Actualmente o quinto em linha para a sucessão ao trono de Inglaterra – passará a sexto quando o terceiro filho de William e Kate nascer —, o príncipe Harry foi conhecido durante anos como o filho rebelde de Diana, em contraste com o irmão, mais sóbrio, que desde cedo assumiu os deveres reais de quem será um dia monarca do Reino Unido — ultrapassará, dizem alguns, o pai, Carlos.
Entre o consumo de álcool excessivo e os comentários inapropriados, Harry alimentou durante anos as páginas dos tablóides britânicos com uma miríade de escândalos. Depois de terminar em 2003 o prestigiado Eton College, dispensou a formação académica, iniciando, dois anos depois, o serviço militar nas Forças Armadas britânicas, onde chegou à posição de capitão.
Além de actos pontuais, como o concerto em memória da mãe, no 10.º aniversário da sua morte (a 31 de Agosto de 1997), Harry nunca esteve tão envolvido na vida pública quanto o irmão. Mas isso mudou nos últimos anos. Através da Royal Foundation of The Duke and Duchess of Cambridge and Prince Harry, fundada em 2009 e totalmente operacional desde 2011, tem-se dedicado a diversas causas.
Em 2014, criou os Invictus Games, um acontecimento desportivo em que participam militares feridos ou doentes. A terceira edição decorreu recentemente em Toronto, onde Harry marcou presença ao lado da namorada.
No ano passado, William, Harry e Kate lançaram a campanha Heads Together, com o objectivo de quebrar tabus acerca da saúde mental. Os próprios deram o exemplo, falando, em antecipação do vigésimo aniversário da morte de Diana, sobre a perda da mãe em crianças, com o mundo inteiro a assistir. Promoveram também vídeos em que falavam sobre o tópico e, mais recentemente, estiveram juntos no Dia Mundial da Saúde Mental, numa recepção a profissionais do sector, no Palácio de Buckingham.
Harry, que tinha 12 anos à data do acidente que vitimizou Diana, num túnel em Paris, revelou, em entrevista ao Telegraph, que esteve provavelmente “muito perto de um colapso completo em várias ocasiões”. Em detrimento da “vida pessoal” e do trabalho, reprimiu durante anos as emoções, desabafa, e só aos 28 anos (tem agora 33), é que decidiu procurar ajuda profissional. “Por causa do processo pelo qual passei nos últimos dois anos e meio, tenho conseguido levar o meu trabalho e vida privada a sério e tenho tido a capacidade de dar o máximo de mim às coisas que realmente marcam a diferença”, revela.
Casamento real para breve?
Os rumores e comentários de especialistas em matéria da família real britânica indicam que um novo casamento real poderá estar para breve. Harry namora oficialmente desde Novembro de 2016 com a actriz norte-americana Meghan Markle, 36 anos, sendo que a relação começou vários meses antes. Esta semana, muitos têm sido os rumores de que a actriz terá trocado Toronto por Londres e que, tendo terminado as filmagens da série de sucesso Suits, na sua sétima temporada, não continuará a fazer parte do elenco, caso esta continue. Dado que os contratos do elenco salvaguardam a participação apenas até à sétima temporada, Markle terá cumprido todas as suas obrigações. De acordo com o IMDB, a actriz também não têm outros projectos na calha.
Markle vive desde o início da série em Toronto, onde são feitas as gravações. A primeira aparição do casal num acontecimento público — nos jogos Invictus, que este ano se realizaram na cidade canadiana — ajudou a alimentar os rumores acerca do potencial noivado. Os relatos de que o príncipe tem andado à procura de casas de campo e a recente entrevista que Markle deu à revista Vanity Fair têm-nos reforçado ainda mais. “Somos um casal. Estamos apaixonados. Tenho a certeza de que vai chegar uma altura em que teremos de avançar e apresentarmo-nos e ter histórias para contar, mas espero que as pessoas compreendam que este momento é nosso”, diz a actriz de 36 anos à revista americana. “Pessoalmente”, acrescenta, “adoro uma grande história de amor.”
Segundo o protocolo, Harry terá de pedir permissão à avó, a rainha Isabel II, para se casar — assim está definido no Royal Marriages Act de 1772.
Nascida e criada na Califórnia, na zona norte de Los Angeles, Meghan é filha de pai branco e mãe negra, e foi casada com o produtor de televisão Trevor Engelson. Ao contrário de algumas ex-namoradas de Harry, como a advogada Chelsy Davy, com quem o príncipe namorou durante sete anos, Markle já está habituada à atenção dos media e paparazzi.
Ainda assim, a perseguição dos tablóides — sobretudo à família de Markle — depois de a sua relação ter sido conhecida levou Harry a intervir, através de um comunicado do Palácio de Kensington. O documento, publicado a 8 de Novembro de 2016, acusa os media de terem ultrapassado uma linha e de assediarem a actriz, de perseguirem a sua mãe e de tentarem subornar o ex-namorado para obter informações sobre Markle. Denuncia ainda o “sexismo e racismo dos trolls da Internet” e “o tom racial de opiniões publicadas”, numa referência indirecta a artigos como o do Daily Mail, assinado por Rachel Johnson, que descreve a mãe da actriz como uma “afro-americana com rastas” e comenta que os Windsor iriam “engrossar” o seu "sangue azul”, “pele pálida e cabelo ruivo” com “ADN exótico”.
Há quem aponte o divórcio da actriz como um ponto negativo, lembrando o caso de Eduardo VIII, obrigado a abdicar do trono para se casar com a socialite americana e divorciada Wallis Simpson. Mas os tempos são outros, como é evidente pelo casamento de Carlos, depois de se divorciar de Diana, com Camila Parker Bowles, que também fora casada. “Não há mesmo nenhuma preocupação do lado da rainha [relativamente a Meghan Markle]”, aponta a jornalista especialista na família real, Katie Nicholl, no recente documentário When Harry Met Meghan: A Royal Romance.
Markle é uma mulher madura e com experiência de vida. Representa quase o oposto da inocência da jovem Diana, quando se casou com apenas 20 anos. E isso pode ser uma coisa boa. Por outro lado, a princesa e a actriz têm em comum a dedicação a causas humanitárias. Meghan é embaixadora das Nações Unidas desde 2015 e já viajou até ao Ruanda, numa campanha da World Vision Canada.
O iminente casamento de Harry e Meghan poderá ser um abanão para a monarquia britânica. A actriz poderá ser uma representante da monarquia para as novas gerações. O facto de ser independente e bastante interventiva “não é algo mau para a monarquia”, comenta Camilla Tominey, editora de Realeza do Sunday Express. “Não acho que as mulheres modernas e trabalhadoras queiram que as princesas sejam vistas e não ouvidas, mas querem que elas contribuam para a vida pública.”
Anos de polémica
Entre comentários polémicos e agressões a fotógrafos, o percurso do príncipe teve a sua dose de escândalos, alguns maiores do que outros. Enquanto aos 14 anos já circulavam histórias sobre o seu consumo de álcool; aos 16, Harry fez uma breve visita ao Featherstone Lodge, um centro de desintoxicação no Sul de Londres, depois de o pai ter descoberto que fumava cannabis e que bebia com alguma regularidade. No ano seguinte, foram divulgadas fotografias do príncipe nu, a tapar as partes íntimas, durante um fim-de-semana de festa em Los Angeles. Mas um dos momentos mais memoráveis de Harry nos tablóides britânicos aconteceu em 2004, durante uma festa temática. Na altura com 20 anos, apareceu vestido com um uniforme de oficial nazi. Através da Clarence House, pediu desculpa por qualquer “ofensa ou constrangimento” causado, mas a imagem do príncipe com uma cruz suástica no braço nunca ficou esquecida.
O episódio aconteceu sensivelmente um ano antes do início da sua carreira militar, que teve a duração de dez anos, entre 2005 e 2015, tendo completado duas missões no Afeganistão — na primeira serviu durante 77 dias na linha da frente, antes de uma revista australiana denunciar a sua presença na guerra, obrigando o Ministério da Defesa a retirá-lo, por razões de segurança. Durante o treino na Sandhurst Military Academy voltou a ser alvo de críticas pelo seu comportamento considerado racista e inapropriado para qualquer pessoa no seu cargo. Num vídeo filmado pelo próprio Harry e divulgado três anos mais tarde pela News of the World, ouve-se o jovem herdeiro a dirigir-se a um soldado asiático anunciando “aqui está o nosso amigo paki [paquistanês]”. Num outro vídeo, falava com um colega dizendo que parecia um raghead — um termo para descrever pessoas que usam turbante.
Os pedidos de desculpa não foram suficientes para o coro de vozes que pediram a demissão do príncipe do Exército, alegando que essa seria a punição para qualquer outro militar. O próprio Ministério da Defesa quis distanciar-se do caso, declarando, através de um porta-voz, citado pelo Independent, que “nem o Exército nem as Forças Armadas toleram comportamentos inapropriados” e que todas as “alegações substantivas” são investigadas.
Harry voltou a servir no Afeganistão entre 2012 e 2013, durante 20 semanas. Terminou o serviço militar com três medalhas, duas das quais ganhas durante esses dez anos.
Apesar de ser, por vezes, considerado ostensivo, “ele é na verdade uma pessoa bastante insegura”, comenta Duncan Larcombe, ex-editor de Realeza do The Sun e autor de Prince Harry: The Inside Story. “O Exército ajudou-o a ganhar confiança, mas antes de ir para Sandhurst costumava fazer as coisas clássicas que as pessoas a quem falta autoconfiança fazem, como fazer papel de parvo o tempo todo, meter-se em sarilhos, dizer o que não devia…”
Mas mudou. Harry, antes conhecido como uma espécie de rock star, é agora uma das vozes mais activas da família real britânica.