A população da aldeia mineira do Lousal, em Grândola, no litoral alentejano, vai ser chamada a participar na concepção de arte pública, ao abrigo de um protocolo celebrado entre o município e a Faculdade de Belas Artes de Lisboa. "O que se pretende fazer é envolver a população na criação de um projecto que há de conduzir à construção de um objecto escultórico, pensamos nós, que seja concebido por aquela comunidade", explicou à agência Lusa o presidente da Câmara Municipal de Grândola, António Figueira Mendes.
Entre cinco e dez alunos e professores da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa vão deslocar-se à aldeia do Lousal para conhecer a comunidade local, ouvir histórias de quem ali vive e começar a "apropriar-se da realidade local", ao mesmo tempo que mobilizam também as pessoas a envolver-se no processo criativo. "Há de ser a comunidade que vai, em diálogo com estas entidades, definir onde e que obra vai ser construída naquela comunidade", acrescentou o autarca.
António Figueira Mendes disse acreditar que esta é uma forma inovadora de "desmistificar o que é a arte", contrariando a ideia de que "é uma coisa muito intelectualizada, que não é participada e que não é democrática". Por arte pública "concebe-se a arte que é construída na rua, em espaço público, ao ar livre", defendeu o autarca, para quem o conceito faz aqui "ainda mais sentido [por ser] definido pela população de um determinado local".
Após a formalização do protocolo, o projecto vai dar os primeiros passos até ao final deste ano, com o início de algumas visitas de alunos e professores à aldeia mineira do Lousal. No entanto, perspectiva-se um processo criativo prolongado no tempo, "durante o próximo ano". Ao abrigo do protocolo, a Câmara de Grândola compromete-se a assegurar as deslocações de alunos e professores entre a Faculdade de Belas Artes, em Lisboa, e a aldeia, bem como os custos da obra final.
A aldeia do Lousal, no interior do concelho de Grândola, foi durante muitos anos conhecida pela exploração mineira de pirites, que terminou nos anos 80 do século XX, levando a que centenas de pessoas perdessem o emprego e a que começasse a decrescer a população residente, que passou de "mais de mil pessoas" para cerca de "200 a 300". Em homenagem ao passado, no antigo complexo industrial mineiro do Lousal, existe, desde 2001, um museu, e, desde 2010, um Centro Ciência Viva.