Rajoy em campanha para uma maioria catalã que trará “estabilidade” a Espanha
Esquerda Republicana, à frente nas sondagens, aposta em “três listas e um objectivo” para as eleições de 21 de Dezembro. PP, Cidadãos e PSC também tentam antecipar eventuais pactos de governo.
Mariano Rajoy arriscou ao marcar eleições autonómicas na Catalunha para 21 de Dezembro, optando por tornar a intervenção de Madrid na comunidade o mais curta possível. Se vencer – se as forças soberanistas forem derrotadas – vai sair-se muito bem, mas também pode acordar com um novo executivo que defenda a independência.
Das urnas pode sair uma maioria que não aposte pela via da secessão, afirmou o primeiro-ministro espanhol; isso seria suficiente para a “estabilidade necessária” de que Espanha precisa para ver a sua economia crescer até 3% durante o próximo ano, mais do que as previsões actuais, garantiu, numa entrevista à rádio Cope.
Sabendo que nada pode fazer para impedir a candidatura dos ex-conselheiros em prisão preventiva por suspeitas de “rebelião, sedição e desvio de fundos”, Rajoy avisa que seria “absurdo” pensar em convertê-los de novo em conselheiros [equivalente a ministros] se estes dirigentes permanecerem detidos. Certo é que até serem condenados não são proibidos de se apresentarem a cargos públicos e que o líder da formação que encabeça as sondagens, a ERC (Esquerda Republicana da Catalunha], Oriol Junqueras, é um dos actualmente detidos.
Na verdade, o primeiro-ministro espanhol considera que tanto Junqueras como o ex-presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, actualmente em Bruxelas à espera de uma decisão da Justiça belga sobre a sua extradição, já estão “politicamente inabilitados” por terem reconhecido as “mentiras da independência”. Puigdemont bem pode dizer agora que “há outros caminhos que não são a independência”, depois de ter organizado um referendo sobre a secessão e de ter proclamado a república no parlamento - nada o inabilita para voltar a governar, tenha Rajoy a opinião que tiver.
Vão a votos sozinhos
Quando faltam poucos dias para o fim do prazo de entrega de listas (termina na sexta-feira), já se percebeu que todos os partidos irão a votos sozinhos mas que haverá muitas discussões prévias sobre pactos pós-eleitorais. Do lado independentista, onde na anterior legislatura a ERC se apresentou coligada ao PDeCAT (Partido Democrata Europeu Catalão, de Puigdemont) na lista Juntos pelo Sim (que incluía muitos independentes), enquanto a CUP (Candidatura Unitária Popular, independentistas à esquerda da ERC) se apresentou sozinha, desta vez todos concorreram individualmente.
O PDeCAT e Puigdemont tentaram reeditar a Juntos pelo Sim, mas face à oposição do partido de Junqueras, seu ex-vice-presidente, decidiu apresentar-se com a lista Juntos pela Catalunha, com Puigdemont à cabeça e, espera-se, várias personalidades do mundo soberanista sem militância partidária.
Quanto aos pontos em comum com a ERC e a CUP alguns não oferecem dúvidas: a recusa da aplicação do artigo 155 da Constituição, que permitiu a Rajoy dissolver o parlamento, destituir o governo e assumir a governação da Catalunha; e a liberdade de todos “os presos políticos” (antigos conselheiros e líderes das organizações independentistas, ANC e Ómnium).
E a independência?
Mais complicado será decidir o que fazer com o único ponto que na anterior legislatura cosia todas estas sensibilidades políticas, a concretização da independência. A CUP mostra-se decidida a continuar onde se ficou quando Rajoy aplicou o 155 e uma parte do governo viajou para Bruxelas. Mas tanto a ERC como o PDeCAT têm feito a sua autocrítica e já falam em termos mais de longo prazo para alcançar os seus objectivos.
“Aprendemos a lição, necessitaremos de mais tempo para reforçar maiorias sociais”, afirmou o porta-voz do PDeCAT no Congresso, Carles Campuzano. “Será preciso adequar os ritmos”, disse, ao mesmo tempo que garantia que na lista encabeçada por Puigdemont “não haverá uma renúncia ao horizonte da independência”.
De visita a Bruxelas, a “número dois” da candidatura da ERC, Marta Rovira, encontrou-se com Puigdemont mas também com os conselheiros na Bélgica; destes, Toni Comín (número sete em Barcelona) e Meritxell Serret (cabeça de lista por Lleida) integram a candidatura dos Republicanos. Mas o objectivo, explicou Rovira, é acordar com Puigdemont uma unidade de acção a partir de 22 de Dezembro. A fórmula de Junqueras é "três listas e um objectivo".
Do campo que defende a unidade de Espanha, Partido Popular e Cidadãos estão finalmente de acordo para que os partidos ditos constitucionalistas (onde se incluem, para além do Partido Socialista da Catalunha) não governem com nenhuma formação independentista, o que implicará que se apoiem entre si para formar governo.
“Se formos o partido com mais votos entre os constitucionalistas vamos estender a mão [aos restantes]. Muitos cidadãos, votem em quem votem, compartem estre desígnio de serem catalães, espanhóis e europeus”, afirmou o secretário de Comunicação do C’s e porta-voz adjunto no parlamento autonómico, Fernando de Páramo. Assim, o partido cuja lista será liderada por Inés Arrimadas assume o mesmo compromisso que Xavier García Albiol, chefe do PP catalão.
Pensando nas próximas legislativas, Rajoy bem gostava que Albiol pudesse governar a Catalunha. Mas sabe que o melhor que lhe pode acontecer é mesmo uma Generalitat com Arrimadas na presidência.
Em relação a futuras negociações com a Catalunha, o chefe de Governo adianta que daqui a dias começará a ser negociada a reforma de financiamento (o que pode afectar o modelo fiscal actual) e que quaisquer propostas de alteração do Estatuto Catalão deverão ser levadas à Comissão sobre a Reforma Constitucional, criada por pressão do PSOE (que assim apoiou a aplicação do 155) e que ficará constituída já esta quarta-feira no Congresso dos Deputados.