Economia portuguesa enfrenta o seu limite de crescimento

Economia cresceu 0,5% no terceiro trimestre do ano, mais do que os 0,3% dos três meses anteriores. Ainda assim, a este ritmo, caminha para taxas de crescimento anuais bem mais baixas do que os 3% registados na primeira metade deste ano.

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Resultado do terceiro trimestre está em linha com as previsões do Governo LUSA/JOÃO RELVAS

Aquilo que era visto como inevitável aconteceu: depois de três trimestres de aceleração muito forte até a uma taxa de variação homóloga do Produto Interno Bruto (PIB) de 3%, a economia portuguesa iniciou no terceiro trimestre do ano um regresso a resultados mais próximos daquele que é neste momento o seu potencial. A tendência, tudo indica, deverá manter-se nos últimos três meses deste ano, não colocando contudo em causa a projecção de crescimento feita pelo Governo para o total de 2017.

De acordo com os dados divulgados esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), durante o terceiro trimestre do ano, a economia portuguesa cresceu 0,5% face ao trimestre imediatamente anterior, um resultado que, sendo melhor do que os 0,3% do segundo trimestre, fez ainda assim cair a variação homóloga do PIB de 3% para 2,5%.

Este abrandamento na variação homóloga do PIB era já largamente antecipado. Tinha sido no terceiro trimestre do ano passado que a economia tinha surpreendido tudo e todos com um arranque muito forte: um crescimento em cadeia de 0,9%. E, por isso, para evitar que a variação homóloga caísse era preciso que a economia portuguesa voltasse a registar um desempenho semelhante.

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O que parece neste momento confirmar-se é que taxas de crescimento trimestrais próximas de 1% (como as registadas entre o terceiro trimestre de 2016 e o primeiro trimestre de 2017) e taxas de crescimento homólogas na casa dos 3% (como a atingida no segundo trimestre de 2017) não podem ser mantidas durante muito tempo.

É também possível que, mantendo a actual tendência, Portugal possa vir a caminhar, nos próximos trimestres, para taxas de crescimento mais próximas de 2%. De acordo com cálculos feitos pelo PÚBLICO, se a economia portuguesa repetisse o crescimento em cadeia de 0,5% durante o quarto trimestre deste ano, a taxa de variação homóloga do PIB nesse período desceria para 2,4%. E se o mesmo ritmo se mantivesse no arranque de 2018, ocorreria uma desaceleração para 1,9%.

Não se pense contudo que as projecções do Governo e de outras entidades para Portugal estão agora sob ameaça. Mais uma vez simulando um cenário em que, no quarto trimestre, a economia repetiria o crescimento em cadeia de 0,5%, aquilo que aconteceria era uma variação anual do PIB em 2017 de 2,6%, aquele que é precisamente o resultado previsto pelo Governo em Outubro quando apresentou a proposta de Orçamento do Estado para 2018. Na semana passada, a Comissão Europeia também reviu em alta a sua estimativa de crescimento para 2,6%, ao passo que o Banco de Portugal está ligeiramente mais pessimista, apostando num resultado final de 2,5%.

Para 2018, a previsão de crescimento do Governo de 2,2% já tem implícita a necessidade de uma aceleração ligeira da economia portuguesa face ao ritmo registado no terceiro trimestre, já que se se prolongasse a variação de 0,5% por trimestre até ao final do próximo ano, a taxa de crescimento anual em 2018 não ultrapassaria os 2%.

Para que essa aceleração ocorra Portugal parece poder contar com o contributo dos seus parceiros europeus. Os dados publicados esta quarta-feira pelo Eurostat mostram a zona euro a crescer, no terceiro trimestre deste ano, 0,6% em cadeia, atingindo uma variação homóloga de 2,5%. Portugal pode ter interrompido o período de 12 meses em que apresentou resultados superiores à média europeia, mas pode ter a expectativa de um aumento da procura proveniente do exterior, que ajude as exportações nacionais.

Os dados publicados esta terça-feira constituem a primeira estimativa do INE para a evolução da economia portuguesa durante o terceiro trimestre do ano, não sendo ainda divulgada informação concreta em relação às diferentes componentes do PIB. Ainda assim, a autoridade estatística nacional assinala que, para a variação homóloga de 2,5%, foi fundamental o acréscimo do contributo positivo da procura interna, ao passo que o contributo da procura externa líquida passou a ser negativo, “reflectindo a desaceleração em volume das exportações de bens e serviços e a aceleração das importações”.

Já quando se verifica quais os contributos para a variação em cadeia do PIB de 0,5%, observa-se a tendência inversa. De acordo com o INE, “o contributo da procura externa líquida para a variação em cadeia do PIB passou de negativo a positivo” e “o contributo da procura interna diminuiu ligeiramente no 3º trimestre, devido à redução do Investimento, tendo o consumo privado aumentado”.

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