“É quase impensável haver uma VOR sem passar por Lisboa”
Para as tripulações que no passado dia 22 de Outubro partiram de Alicante, a odisseia ainda está no início. Até ontem, os sete Volvo Ocean 65 tinham percorrido menos de três mil das cerca de 45.000 milhas náuticas – 83.000 quilómetros – daquele que é considerado o maior e mais duro evento do mundo de vela. No entanto, se para os skippers e navegadores é tempo de fazer cálculos para escapar à armadilha dos “doldrums” - região de ventos inconstantes entre os hemisférios -, para os responsáveis pelo stopover de Lisboa na 13.ª edição da Volvo Ocean Race (VOR) a hora é de balanço. Ainda com futuro indefinido – as grandes decisões serão tomadas no primeiro trimestre de 2018 – Rodrigo Moreira Rato, responsável pela comunicação da etapa portuguesa, garante que “não há razões” para que a próxima edição da VOR “não continue a passar por Lisboa”.
Houve dois dias de chuva intensa e uma inesperada alteração de rota da primeira etapa, que levou a uma imprevista chegada antecipada dos barcos à capital portuguesa, mas “pelos números disponíveis até este momento”, o balanço do stopover de Lisboa “é positivo”. Rodrigo Moreira Rato, responsável pela comunicação da etapa lisboeta na 13.ª VOR, revela que “os números de espectadores estão alinhados com as expectativas e no domingo [dia da partida da segunda etapa] estiveram cerca de 15 mil espectadores no recinto, mais uns milhares nas margens do Tejo e cerca de 3500 na água a acompanhar o arranque da regata”. A estes números há a acrescentar um “crescimento na cobertura mediática” e, “em termos cooperativos para as marcas do grupo Volvo”, este “evento superou as expectativas”.
Para além da parte organizativa, do ponto de vista desportivo este responsável destaca a ajuda “dos deuses do vento e do tempo” que proporcionaram “uma largada de excelência”. “Tínhamos como referência a partida da Cidade do Cabo na última edição, com imagens extraordinárias que continuam a dar a volta ao mundo até aos dias de hoje, e esta partida superou. As condições estavam perfeitas. Era quase impossível pedir melhor. Mark Turner, CEO da VOR, disse que estas imagens vão ser repetidas até à exaustão. Foi notável”, refere Rodrigo Moreira Rato, em declarações ao PÚBLICO.
Naquela que está a ser a edição mais “portuguesa” de sempre da prestigiada prova – três velejadores nacionais e um barco com bandeira de Portugal em competição -, há ainda a destacar a oportuna entrada da Madeira na rota da VOR. Uma alteração de percurso de última hora, motivada por condições meteorológicas adversas no Mediterrâneo, levaram a organização a proceder a uma mudança na rota da etapa inicial e, após a saída de Alicante, os VO65 dirigiram-se para a Madeira, onde tiveram que contornar Porto Santo. Rodrigo Moreira Rato realça que logo aí as “conversas sobre a Madeira dispararam”, mas destaca outro facto imprevisto: “Os barcos após largarem de Lisboa fizeram uma passagem quase a rasar à ponta Oeste da Madeira - a ponta do Pargo -, o que atirou a exposição do arquipélago para lá daquilo que seria expectável. Isso é bom para vela portuguesa e para a imagem de Portugal. Esse também é o papel da VOR.”
Perspectivando o futuro, o responsável pela comunicação do stopover português admite que ainda não há nada definido, mas deixa a certeza que “da parte da VOR há a claríssima intensão de continuar com Lisboa nas futuras edições”. “Hoje é quase impensável haver uma VOR sem passar por Lisboa”, sublinha. O papel da capital portuguesa não se resumiu, no entanto, ao stopover. Lisboa acolhe neste momento o boatyard (estaleiro) da VOR, o que também não está garantido que se repita nas próximas edições. Rodrigo Moreira Rato diz, no entanto, que para “a Câmara Municipal de Lisboa e outras entidades contactadas há a clara percepção do benefício da presença do boatyard. Da parte da Volvo, também há a reconhecimento que Lisboa é uma localização de excelência para os serviços que se pretendem”. Este especialista em vela dá ainda exemplos dos benefícios que a ligação de Portugal à prova pode trazer à economia portuguesa: “Os semi-rígidos utilizados são fabricados em Portugal e há também o exemplo da NORAS Performance, uma empresa portuguesa em fase de arranque que desenvolveu uma solução tecnológica na área de segurança e que, através da parceria estabelecida com a VOR, chegará ao mercado global de uma forma rápida e eficaz.”
Contactado pelo PÚBLICO, Antonio Bolaños López, director-executivo da VOR, revelou que “há 15 cidades que expressaram interesse em receber o boatyard, sete delas na Europa”, mas salientou que as relações entre os responsáveis pela prova, o Governo português e a Câmara Municipal de Lisboa “são muito boas”. “Estamos encantados com os resultados do boatyard e do stopover”, acrescentou o espanhol, que reforçou a importância da permanência duradoura da estrutura numa cidade: “Terá impacto no emprego e na economia, para além de benefícios industriais e tecnológicos”.