"Lobo de Wall Street” avisa sobre os perigos de investir em criptomoedas
O homem que inspira o filme de Martin Scorcese apelida o processo de criação de novas moedas digitais para obter financiamento como “a maior burla de sempre”.
O "Lobo de Wall Street" não é fã da criação de novas moedas digitais como forma de pequenas empresas obterem financiamento. Jordan Belfort – o homem imortalizado por Leonardo DiCaprio como um financeiro vigarista – apelida o processo como a “maior burla de sempre" numa entrevista recente ao Financial Times.
Belfort, que fez fortuna em esquemas de fraude financeira e lavagem de dinheiro, explica que o problema que tem com criptomoedas são as ICO. É uma táctica de financiamento colectivo emergente (conhecida como “oferta inicial de moedas”, em português) em que pequenas empresas (principalmente, startups tecnológicas) criam uma espécie de moeda digital, semelhante à bitcoin, que não funciona como dinheiro mas representa uma parte do capital da empresa. A mais-valia para as empresas é que o processo acontece à margem de qualquer regulação, sem envolver bancos ou capital de risco.
“Toda a gente e a sua avó quer entrar [nas ICO] agora,” critica Belfort. “É provável que 85% das pessoas não tenham más intenções, mas o problema são os 5% ou 10% que querem enganar.” E o investidor, que passou 22 meses na prisão por crimes de fraude, vê os estratagemas com as ICO como pior do que qualquer coisa que tenha feito no passado.
Belfort compara o processo ao financiamento "às escuras" popular nas décadas de 1970 e 1980, em que as empresas angariavam dinheiro sem explicar em que é que ia ser gasto, geralmente ao promover o nome do indivíduo ou empresa envolvidos. Muitas dos investidores acabaram por perder o dinheiro todo.
O avisochega numa altura em que operações com criptomoedas se tornam cada vez mais populares. Mesmo com várias flutuações, em 2017, o valor da divisa digital mais conhecida, a bitcoin, subiu de valores a rondar os 900 euros para valores acima dos cinco mil euros. E só nos primeiros nove meses do ano, foram angariados mais de 1,7 mil milhões de euros em operações de ICO, de acordo com dados do analista CB Insights (no mesmo periodo de 2016, foram angariados 46 milhões de euros). Porém, como Belfort avisa, pelo menos 10% dos fundos foram desviados por cibercriminosos, segundo dados da Chainalysis, uma empresa nova-iorquina que investiga sistemas de lavagem de dinheiro.
Belfort não é a única voz crítica. No inicio de Setembro, o presidente-executivo do banco de investimento norte-americano JPMorgan descreveu as moedas digitais como uma fraude: “Não podemos ter negócios em que as pessoas possam inventar uma moeda do ar e achar que quem investe nela é muito inteligente.”
Muitas instituições financeiras vêem as ICO (e todo o sistema de divisas digitais) como uma ameaça, com a falta de regulamentação a apresentar uma oportunidade para esquemas de lavagem de dinheiro. Recentemente, o banco central da Rússia avisou que vai bloquear o acesso a sites que oferecem transacções de divisas virtuais, e a China e a Coreia do Sul proibiram mesmo a angariação de financiamento através do lançamento de novas divisas digitais.
Ao mesmo tempo, porém, começam a surgir alguns apoios. No final de Setembro, o Japão publicou um documento a oficializar todas as transacções com esta tecnologia, onde impõe também vários requerimentos às empresas de transacções de moedas digitais, como a verificação da identidade dos utilizadores, para prevenir lavagem de dinheiro. O objectivo é apoiar a inovação tecnológica e proteger os investidores de fraudes.
O“Lobo de Wall Street” não se convence. Diz que vai continuar a avisar as pessoas contra este tipo de investimentos: “É uma burla tão gigantesca que vai explodir na cara de imensas pessoas.”