Resistência celebra 25 anos nos palcos e quer continuar na estrada “até ao fim”
O supergrupo Resistência celebra sexta e sábado 25 anos de canções nos maiores palcos de Lisboa e Guimarães, com António Zambujo e Raquel Tavares como convidados.
A mais de duas décadas de distância do enorme sucesso que foi a sua curta vida nos anos 1990, o supergrupo Resistência ganhou um segundo fôlego nos anos 2010 e está a comemorá-lo a preceito. Esta sexta-feira estará no Meo Arena, em Lisboa, e sábado no Multiusos de Guimarães, sempre às 21h30. Isto num “bom ano”, com vários concertos.
A estreia, em 1991, com Palavras ao Vento, foi fulgurante, seguindo-se-lhe logo Mano a Mano (1992), Ao Vivo no Armazém 22 (1993) e duas participações (em 1994) nos projectos Filhos da Madrugada Cantam José Afonso (com Chamaram-me cigano) e Variações, As Canções de António (Voz-Amália-de-Nós). Depois separam-se, lembra Miguel Ângelo ao PÚBLICO. “O nosso último concerto foi no Filhos da Madrugada, no Estádio de Alvalade, antes do Verão de 1994 [em 30 de Junho]. Os Madredeus estavam lá fora a toda a força, os Xutos estavam também a levantar e nessa altura houve também a grande ascensão dos Delfins.” Fernando Cunha graceja: “Deixou de haver quórum."
Até que, em 2012, mais disponíveis, aceitaram um convite para fazer um concerto no Multiusos de Guimarães. E acabaram por fazer também outro, no Campo Pequeno, em Lisboa. “Na realidade foi o êxito desses concertos e o convite para outras apresentações ao vivo que mantiveram isto a funcionar, até agora.” E esse “até agora” incluiu mais um disco de originais (Horizonte, 2014) e vários concertos, dos quais nasceu um CD+DVD: Ao Vivo em Lisboa, gravado no Campo Pequeno na noite de 17 de Dezembro de 2015.
Canções extraordinárias
“Sou muito céptico em relação a reunião de bandas, confesso”, diz Miguel Ângelo. “Acho giro fazer uma coisa para celebrar um álbum específico, e tocar esse álbum, mas regressar à actividade acho muito estranho. Só que a Resistência não é uma banda. E quando nós fizemos os primeiros ensaios para o Campo Pequeno as coisas correram maravilhosamente e começaram a soar tão naturais que começou tudo a fazer sentido.”
O grupo, que já teve outros elementos, conta hoje com Alexandre Frazão (bateria), Fernando Cunha (voz e guitarra 12 cordas), Fernando Júdice (baixo), José Salgueiro (percussões), Mário Delgado (guitarra), Miguel Ângelo (voz), Pedro Jóia (guitarra clássica), Olavo Bilac (voz) e Tim (voz e guitarra). Um deles, Pedro Jóia, justifica assim ao PÚBLICO o seu envolvimento: “Gosto imenso de tocar música sem estar muito comprometido tecnicamente. E depois há a camaradagem e a amizade, um ambiente fantástico. São canções simples, mas dá-nos imenso prazer tocá-las em cima do palco.”
As canções começaram por vir dos próprios grupos a que estavam ligados, mas depois a procura de repertório levou-os mais além, como recorda agora Fernando Cunha: “Para o Horizonte [o disco de 2014], a primeira lista tinha quase 50 temas. Fomos reduzindo até ficarem as 11 que foram incluídas no disco. Mas gravámos outras, que ainda estão lá, à espera de um lugar ao sol.” Este ano também já gravaram mais umas sete músicas: “Também foi muito difícil a escolha, porque, quando abrimos o leque a outros autores, começamos a descobrir canções extraordinárias, umas de grande sucesso e outras nem por isso. Temos essa bipolaridade: vamos buscar canções que foram êxitos e outras que nunca o foram, tentando dar-lhes uma leitura onde a mensagem passe melhor.”
António Zambujo e Raquel Tavares serão convidados do grupo nestes concertos. Fernando Cunha justifica, assim, o convite: “O António é uma voz incontornável, uma carreira que há muito acompanhamos, e quisemos juntá-lo ao nosso colectivo. Quanto à Raquel, nestes anos todos pensámos em ter uma voz feminina e estivemos quase para o fazer na nossa primeira vida [hipóteses havia várias: Filipa Pais, Teresa Salgueiro e Anabela Duarte]. Mas o grupo acabou antes.” Há outras razões. Miguel Ângelo diz: “O Zambujo é um homem que canta outros autores e fazia também sentido por isso.” E Fernando Cunha acrescenta: “Desafiámos os dois para, além de cantarem connosco, também cantarem juntos.” Miguel Ângelo: “Será o Traz outro amigo também, do Zeca Afonso, que nós achámos que seria mesmo o mote certo para eles cantarem em duo.”
Um novo disco em 2018
“Estamos juntos há mais tempo desde o Campo Pequeno, em 2012, do que nos anos 1990”, diz Miguel Ângelo. “E este foi o nosso melhor ano. Começou simbolicamente no fim de Janeiro, no Bataclan, em Paris [onde se deu um sangrento atentado terrorista, em 13 de Novembro de 2015], com a sala totalmente esgotada, e a partir daí passaram a chover pedidos para concertos.” E, com eles, várias enchentes. “Este convite permite-nos encerrar o ano de maneira ainda maior, não vivendo só à conta das versões que tornámos conhecidas, mas apresentando outras, como A gente vai continuar, do Jorge Palma, um autor do qual nunca tínhamos feito nada, e de outros compositores.”
Depois dos concertos, e a partir das canções já gravadas, poderá nascer um single ou EP que prenunciem um novo álbum. Que deverá sair, “seguramente, no ano que vem.”
Até quando resistirá a Resistência? Miguel Ângelo lembra Cohen, que cantou até ao final, Dylan, que não pára (“continua numa never ending tour”), os Stones idem. Por isso, diz: “Somos um colectivo que quando tem disponibilidade se junta, vai para a estrada e faz concertos. Até quando iremos? Até ao fim. É, para já, o nosso pacto.”