Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares vence Nobel da Paz

O Comité Nobel norueguês decidiu distinguir uma campanha contra as armas nucleares, uma ameaça que nos últimos meses se agravou.

Fotogaleria
Material de campanha da organização ICAN
Fotogaleria
Beatrice Fihn, Directora executiva da Campanha Internacional Internacional para a Abolição de Armas Nucleares e Daniel Hogsta, coordenador da campanha, celebram a vitória REUTERS/Denis Balibouse
Fotogaleria
A presidente do Comité Nobel norueguês, Berit Reiss-Andersen, anunciou o Prémio Nobel da Paz Reuters/NTB SCANPIX

A Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (em inglês ICAN — International Campaign to Abolish Nuclear Weapons) foi distinguida esta sexta-feira com o Nobel da Paz de 2017. A organização não-governamental, que reúne grupos de uma centena de países, pretende proibir e eliminar este tipo de armamento.

"A organização recebe esta distinção pelo seu trabalho na sensibilização para as consequências humanitárias catastróficas de qualquer uso de armas nucleares e pelos seus esforços revolucionários para promover uma proibição de tais armas por tratado”, declarou o Comité Nobel norueguês.

"Este não é um prémio controverso porque a luta [contra o armamento nuclear] é um objectivo comum", defendeu a líder do Comité Nobel norueguês, Berit Reiss-Andersen, que anunciou o prémio. "As pessoas não querem ser defendidas por armas nucleares", disse. 

A escolha da ICAN acontece num momento em que a Coreia do Norte multiplica ensaios nucleares e lançamentos de mísseis balísticos. Um dos nomes que estava na corrida ao Nobel 2017 era a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, pelo seu papel na assinatura do acordo nuclear entre o Irão e seis grandes potências (Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, China, França e Alemanha), que esteve 12 anos a ser negociado.

Este ano, o Comité Nobel norueguês recebeu 318 candidaturas.

A organização já reagiu na sua página de Facebook, onde agradeceu e dedicou o prémio “aos sobreviventes dos atentados atómicos de Hiroshima e Nagasaki e vítimas de explosões de testes nucleares em todo o mundo”.

“Este prémio é uma homenagem aos esforços incansáveis de muitos milhões de activistas e cidadãos preocupados em todo o mundo que, desde o início da era atómica, protestaram fortemente contra armas nucleares”, defendendo que estas armas “não servem um propósito legítimo e devem ser banidas para sempre”.

A organização recorda o primeiro tratado de sempre que proíbe armas nucleares, assinado por mais de uma centena de países a 7 de Julho deste ano. Na votação, 122 países votaram a favor, a Holanda votou contra e Singapura absteve-se.

Porém, nenhum dos nove países com armas nucleares – Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, Israel, China, Índia, Paquistão e Coreia do Norte – participou nas negociações. Até o Japão, único país alvo de um ataque com um aarma nuclear, em 1945, boicotou as negociações, assim como a maioria dos países da NATO, incluindo Portugal.

“O tratado proíbe categoricamente as piores armas de destruição em massa e estabelece um caminho claro para sua eliminação total. É uma resposta à preocupação cada vez maior da comunidade internacional de que qualquer uso de armas nucleares causaria danos catastróficos, generalizados e duradouros às pessoas e ao nosso planeta”, lê-se no comunicado.

Prémio invoca acção

“Este é um momento de grande tensão global, quando uma retórica ardente poderia facilmente levar-nos, inexoravelmente, a um horror indizível. O espectro do conflito nuclear aparece mais uma vez. Se alguma vez houve um momento para que as nações declarassem a sua oposição inequívoca às armas nucleares, esse momento é agora”, sublinha a organização.

Esta não é a primeira vez que a Academia se preocupa com a questão do nuclear. Em 2005, o Nobel da Paz foi atribuído à Agência Internacional de Energia Atómica e ao seu director, Mohamed ElBaradei. Também em 1995, o Comité tinha atribuído a mesma distinção ao movimento anti-nuclear Pugwash (fundado no Canadá) e ao seu fundador, Joseph Rotblat.

No ano passado o Nobel da Paz foi entregue ao Presidente colombiano Juan Manuel Santos.

Entre as mensagens de felicitações, está a de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. O diplomata sublinhou que "mais do que nunca, precisamos de um mundo sem armas nucleares".

"Esta escolha para o Prémio Nobel da Paz é muito acertada no timing histórico porque dá uma força à velha e exemplar questão de banir as armas nucleares do mundo", disse Pedro Neto, diretor-executivo da Amnistia Internacional Portugal, em declarações à agência Lusa.

"Nesta altura em que vivemos uma certa tensão polarizada por dois líderes políticos, Donald Trump [Presidente dos Estados Unidos da América] e Kim Jong-Un, [Presidente] da Coreia do Norte, em que os dois trocam 'galhardetes', com ameaças e testes de mísseis balísticos, esta é uma oportunidade histórica para dar um revés a este tipo de narrativa que incita ao medo, ao ódio, que é desestabilizadora", acrescentou. "Se este Nobel da Paz for a oportunidade para elevar a pressão a estes líderes políticos que insistem no nuclear... esperemos que sim, que seja, e que mudem a sua direção face a esta questão, pelo menos."

Sugerir correcção
Ler 4 comentários