Lista vencedora da Autoeuropa promete envolver mais os trabalhadores
Lista E, que ganhou quatro dos onze lugares da Comissão de Trabalhadores, compromete-se a “discutir em plenário com os trabalhadores todos os pré-acordos”, antes mesmo de negociar com a administração
A Lista E, que ganhou as eleições para a Comissão de Trabalhadores (CT) da Autoeuropa, com quatro representantes (do total de 11), incluiu nas promessas feitas em campanha a de “discutir em plenário com os trabalhadores todos os pré-acordos”, que são depois negociados com a administração.
Levando a ideia à prática, e uma vez formada a nova comissão de trabalhadores, esta deverá reunir os funcionários da fábrica da Volkswagen em Palmela antes de discutir com a gestão a introdução do trabalho normal aos sábados.
Neste aspecto, a lista, encabeçada por Fernando Gonçalves, prometeu procurar “horários alternativos aos previstos” e que passam por “sábados obrigatórios, pagos como dias normal e com folgas rotativas de apenas um dia”. Depois, entre outros temas, as promessas eleitorais incluem propor “medidas adequadas para o trabalho extraordinário”, negociar “dois dias extra de férias para todos os que trabalham por turnos” ou “limitar a dois mandatos consecutivos todos os membros da CT”.
Sem maioria, terá de haver entendimentos e equilíbrios entre a Lista E e os representantes das outras listas, que elegeram os outros sete membros da CT. A segunda mais votada foi a lista D, liderada por Fausto Dionísio, seguindo-se a C, encabeçada por José Carlos Silva, ligado ao sindicato SITE Sul/CGTP, tendo cada uma eleito três representantes. Depois, a lista A, liderada por Paulo Marques, conseguiu um lugar. Esta é a primeira vez que um trabalhador ligado à área dos escritórios (designados de “técnicos indirectos”) participa numa CT da Autoeuropa. Sem conseguir eleger ninguém ficaram as listas B (encabeçada por Isidoro Barradas, do Sindel, sindicato afecto à UGT) e a F, do coordenador da comissão de trabalhadores demissionária, Fernando Sequeira.
Em declarações ao Dinheiro Vivo, logo após os resultados terem sido divulgados na terça-feira à noite, Fernando Gonçalves afirmou que iria “equilibrar a balança para os trabalhadores”. “Não vamos pôr em causa a produção na fábrica mas temos de fazer ver à direcção que o caminho não é este. O lucro é importante mas têm de ser dadas condições aos trabalhadores”, acrescentou, referindo-se à proposta de trabalho aos sábados.
Com mandato até 2020, a data da tomada de posse da nova CT ainda não está marcada, mas deverá ocorrer até ao final da semana que vem. Ao mesmo tempo, falta ainda verificar como será formada a comissão executiva da CT, uma espécie de “núcleo duro” dos representantes dos trabalhadores. Por princípio, é a comissão executiva que se senta à mesa com administração, liderada por Miguel Sanches, em sintonia com o resto dos membros da CT.
Foi por causa do trabalho aos sábados que a anterior CT acabou por pedir a demissão no início de Agosto, após a maioria dos trabalhadores ter rejeitado o pré-acordo que ficara estabelecido com a administração. De modo a cumprir com as metas de produção do novo veículo da VW, o T-Roc, a empresa avançou com um novo regime laboral, que implica trabalhar também aos sábados, de forma regular.
O pré-acordo que foi fechado entre a anterior CT e a administração estabelecia uma folga fixa ao domingo e outra rotativa ao longo da semana. Isto para que houvesse três turnos diários em seis dias da semana (com um total de 18 turnos por semana). A VW efectuaria então “um pagamento mensal de 175 euros adicional ao que está previsto na lei, 25% de subsídio de turno e a atribuição de um dia adicional de férias”.
Agora, resta saber o que é que a VW tem planeado, porque terá certamente já uma alternativa estudada, e qual a postura da nova CT (e dos trabalhadores).
Esta quarta-feira de manhã, num encontro com jornalistas, o presidente da AICEP (organismo estatal ligado ao investimento e exportações), Luís de Castro Henriques, afirmou estar confiante num entendimento na Autoeuropa. “Vai haver um acordo positivo para todos”, sustentou, recordando que a produção do novo modelo implicou um investimento de quase 700 milhões de euros, já quase finalizado.
Este investimento, disse, é “estrutural e estruturante”, com efeitos para além da própria fábrica. E, mesmo neste caso, há alterações, tendo Castro Henriques destacado que, se até agora a Autoeuropa valia menos de 5% dos veículos produzidos pela VW, vai agora passar a valer mais de 10% do total.