Indonésia, de Gili a Lombok
Entre as mais de 17000 ilhas da Indonésia teria muito por onde escolher, no entanto escolhi Bali, Gili, Lombok e Java para uns dias de cultura e deportos aquáticos, onde coleccionei muitas histórias para contar mais tarde.
Gili Trawangan, a ilha onde atracámos vindos de Bali no speedboat que mais parece o regional, é apenas uma do conjunto de três ilhas Gili (Meno e Air são as restantes). Tem a particularidade de não ter carros, polícias nem cães e, não consigo explicar a razão, mas só vi gatos de orelhas cortadas. O desembarque, na ausência de cais, faz-se saltando do barco com malas às costas ou à cabeça e água pelo joelho e segue-se caminho pelo areal tentando desviar dos corais que estão na areia da praia o mais que se puder. O hotel ficava apenas a umas centenas de metros, ainda assim, demo-nos ao luxo de alugar um cavalo e uma carroça para carregar as malas para o hotel (chamar hotel é eufemismo).
Em Gili Trawangan é possível alugar bicicletas por uma baixa quantia e dar passeios à volta da ilha. Nós fomos à praia de Turtle Point onde se passa uma óptima tarde. É preciso ter atenção aos corais que se espetam nos pés, o ideal é usar sapatos próprios para ir para a água. Este local é frequentado por pessoas que gostam de snorkling, que tanto se faz de forma gratuita nas praias da ilha como em excursões organizadas e que se adquirem ali mesmo na rua para o triângulo das três ilhas.
Nos passeios organizados para snorkling, o material apropriado para a prática do desporto é fornecido. Num barco seguiu o nosso grupo de portugueses, alguns coreanos, franceses e alemães. A viagem desenrolou-se à volta das três ilhas Gili: Tranwangan, Meno e Air, com quatro pontos de paragem. O que se vê debaixo de água é quase indescritível, há imensos corais, tartarugas, peixes de todos os tamanhos, feitios e cores, peixes completamente desconhecidos todos vestidos de cores vivas.
Depois de praticar snorkling em três locais diferentes, atracámos em Gili Air para um almoço tranquilo. Aproximava-se uma tempestade, com nuvens muito negras, choveu torrencialmente enquanto almoçávamos, os trovões ecoavam, mas depois de almoço o sol voltou a brilhar e pudemos continuar a nossa aventura. Foi na paragem seguinte, e última antes do regresso, que pudemos ver um barco da II Guerra Mundial afundado. Nesse local andavam alguns mergulhadores, pois as Gili também são um óptimo sítio para a prática do mergulho.
No dia da partida apanhámos o barco da mesma forma: malas às costas e água pelo joelho. O barco, que leva tanto turistas como locais, é o meio de transporte normal de quem ali vive e precisa de ir à ilha de Lombok tratar de situações várias. Da mesma forma que nós por cá apanhamos um autocarro para a cidade, ali apanha-se o barco.
Desembarque surreal
O desembarque em Lombok foi do mais surreal a que já assisti. À chegada do barco começaram-se a aproximar imensas pessoas, e assim que o barco encosta, saltam para o interior e começam a tirar malas. Parecia um assalto, e na verdade não andava muito longe disso, metiam as malas em carroças e depois cobravam pelo transporte. No nosso caso só tínhamos de percorrer 300 metros mal medidos e nem queríamos que nos levassem nada, mas quando nos apercebemos, no meio daquela confusão, as nossas malas já estavam prontas a seguir, e tivemos de pagar porque não queríamos confusão com ninguém. Claro que o tempo que estivemos a aguardar que chegasse o nosso autocarro foi suficiente para nos impingirem todo o tipo de bugigangas. A primeira impressão de Lombok não foi boa, as pessoas pareceram agressivas e mal-educadas.
Lombok tem uma paisagem natural muito bonita, tem muitas enseadas e água quase transparente. Uma visita ao Morning Market é imperativa, é um mercado local onde as pessoas da ilha fazem as suas compras. Denote-se que o chão é de terra batida com um acumular de lixo que faz colar os chinelos a cada passo que se dá, as moscas apreciavam a carne e peixe sem qualquer processo de conservação, num calor de 30 graus e muita humidade.
Tal como tínhamos já feito em Bali, parámos à beira da estrada para dar comida aos macacos, que aqui são mais amigáveis, pois pegavam o que lhes dávamos com delicadeza.
O ponto de paragem principal nesta ilha foi a cascata Sindang Gila, apesar de ser um ex-libris da ilha, achei que já tínhamos visto cascatas mais bonitas e imponentes; ainda assim vale sempre a pena passar e visitar. Foi ali, nas imediações da cascata, que almoçámos num restaurante tranquilo com uma vista fantástica, de um lado a cascata que se fazia ouvir e do outro a encosta que descia até ao mar por entre campos de arroz.
Viajar na Indonésia sabe a pouco, quanto mais se viaja naquelas estradas estreitas com trânsito caótico mais apetece conhecer, mais apetece descobrir, mais apetece perdermo-nos no meio das aldeias e das suas gentes.
Raquel Cruz